Certa vez, um leitor perguntou-me o motivo das empresas de materiais desportivos serem aficionadas por listras. Tenho um conjunto da Adidas e sim, lá estão elas, tanto na calça quanto na blusa. No filme, em português, “Duelo de Irmãos: A História de Adidas e Puma” (Alemanha, 2016, 1 hora e 55 minutos, drama biográfico) com os atores Torben Liebrecht, Ken Duken, Florian Bartholom e David Bunners, tive a dúvida satisfeita: enquanto uma baliza é pintada, o dono da Adidas observa uma chuteira com as duas listras da Puma, ele chama um atleta e passando três dedos na trave com a tinta fresca, imprime essa marca na chuteira do solicitado.
Pois, se a Puma imprimia duas listras, a Adidas passaria a imprimir três. Incrível, não? Freud já explicara a mania de os homens quererem serem mais que os outros, quando passam a olhar apenas para os seus respetivos falos.

O filme narra a vida dos irmãos Rudi e Adi Dassler, que possuem uma pequena fábrica de calçados no interior da Alemanha, na década de 1920. Adi é o sonhador sapateiro que vislumbra produzir os melhores calçados desportivos para os atletas do mundo e até então, Rudi, apelidado de Puma, por ser um incorrigível perseguidor de rabos de saia, é aquele que compra a ideia do irmão, estigmatizado por ser um incorrigível sonhador. Assume de vez a fábrica e possui um perfil empresarial mais agressivo: pede empréstimos ao banco, aumenta o número de funcionários e passa a ser o vendedor e relações públicas da Gebrüder Dassler Schuhfabrik (Fábrica de Sapatos dos Irmãos Dassler).
Com muito esforço, o sucesso bate à porta. Encomendas não param de chegar e os melhores atletas passam a utilizar os calçados da fábrica. Os irmãos casam-se e passam a morar no mesmo prédio, com proximidades conjugais arriscadíssimas. Nos Jogos Olímpicos de Berlim de 1936 Adi se aproxima do corredor negro Jesse Owens, a grande estrela daquela competição, o homem que humilhou Adolf Hitler que, já obcecado com o conceito de raça ariana, teve que engolir o ápice da carreira de Owens no seu próprio país. Este facto seria um álibi para os irmãos Dassler no fim da Segunda Guerra, quando os Aliados derrotaram os países do Eixo.
Durante a II Guerra Mundial, os alemães obrigaram a fábrica de calçados desportivos a produzirem coturnos para os soldados e a seguir armamentos, e quando os soldados estavam ali para explodirem aquela fábrica ao cabo da guerra, foi a esposa de um dos irmãos quem implorou aos soldados clemência e compreensão, aludindo ao facto de a fábrica ter sido coagida e apresentando a foto de Adi com Owens. A fábrica foi poupada.

Proximidades conjugais levam a desentendimentos, segredos e rancores. Os traumas da guerra também. Rudi é convocado e Adi é poupado, ficando na fábrica. Tantos ressentimentos se afloram e após isso só resta a separação, quebrando um elo de sucesso e surgindo daí a Puma, apelido à fama de garanhão do proprietário. As duas empresas ficam com problemas: a Puma é um sucesso comercial, mas carece de um ótimo idealizador de produto; a Adidas sofre um baque muito grande nas vendas.
A Puma fecha contratos com as equipes de futebol alemãs, a Adidas consegue fechar com a desacreditada seleção nacional que surpreende a poderosa Hungria na Copa do Mundo de 1954, na Suíça, conquistando o seu primeiro título mundial.
O filme é excelente para refletirmos sobre as trajetórias de marcas corporativas tão gigantescas, e de como elas nasceram praticamente de uma pequena fábrica de quintal. A fotografia do filme, os cenários e as caracterizações dos personagens são excelentes e durante a película ficamos com o suspense a pairar em cada um dos momentos, resultando ao fim num filme heroico e fidedigno.
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