Com uma carreira iniciada em 2010, Anna von Hausswolff está a tornar-se rapidamente numa das mais importantes e inovadoras jovens artistas da atualidade. Nascida em 1986, a cantora sueca já lançou cinco LPs e três EPs, explorando vários géneros e contextos musicais. Os primeiros trabalhos ficam marcados pelo art pop, pois nos trabalhos seguintes começa a surgir uma tendência mais experimental e drone, até mais recentemente entram num ambiental neoclássico sem nunca deixar de fora o rock experimental. Em 2019, ainda participou no disco “Leaving Meaning” da lendária banda de noise rock, Swans.
Depois do tão aclamado trabalho “Dead Magic” em 2018 e a conseguinte tournée mundial, Anna volta à carga passados dois anos. Lançado no dia 25 de Setembro, “All Thoughts Fly” é uma espécie de culminar das sonoridades instrumentais drone encontradas nos EPs “Källan (Prototype)” de 2014, e “Källan (Betatype)” de 2016. Apesar de ser uma pena que neste disco Anna não dê uso à sua majestosa voz, a verdade é que os seus talentos musicais nunca desiludem.
Todo o álbum centra-se em volta do órgão. Quase como uma banda sonora para um filme que não existe, em “All Thoughts Fly” o sonho domina e faz-nos cair na sua imensidão. Faixa após faixa, esse sonho cresce e as várias camadas do órgão seduzem o ouvido a procurar mais fundo. A muito bem conseguida orquestração das músicas tira todo o partido do órgão e eleva as suas qualidades surreais, tal como a sua produção.
Ao percorrer o disco, vários sentimentos, atitudes, e moods despertam em forma sonora. Parece que “All Thoughts Fly” começa ainda presente na realidade e aos poucos desce mais fundo na toca do coelho. Pouco depois a lenta melancolia toma conta do órgão, onde Anna explora uma atmosfera lastimosa. Marchamos em direção ao surreal em Sacro Bosco, as diversas camadas sonoras alastram-se lentamente agarrando o ouvinte.

Após mais um momento de quietude e um curto interlúdio cheio de paranoia, chega a peça central de todo o disco, All Thoughts Fly. Durante cerca de 12 minutos, Anna usa o órgão para viajar numa infinita paisagem. As rápidas linhas melódicas e o constante pulso nunca param, continuando numa espécie de hipnose que culmina num poderoso e intenso coda. O álbum fecha com uma elegia, que lentamente a tristeza infiltra-se na sequência minimalista de acordes.
Em suma, “All Thoughts Fly” é exatamente como o título indica, música para fazer os pensamentos voar e nos levar para um mundo nunca visto. Ao entrar nesta nova década, Anna von Hausswolff explora por completo um instrumento que, apesar de estar sempre presente, tem vindo aos poucos a ganhar espaço na sua discografia. Com este álbum, Anna apresenta-se com uma já explorada sonoridade, mas desta vez com mais maturidade e foco.
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