Certamente, um ano com muita boa música, logo muitos bons álbuns. Apesar do impacto negativo que a pandemia teve na actividade musical a nível mundial, bons discos conseguiram encontrar o seu caminho em 2020. Neste ano, também dissemos adeus a algumas figuras como o lendário compositor Krzysztof Penderecki, o virtuoso guitarrista Eddie Van Halen, o baterista Neil Peart, e ainda uma das faces da banda alemã Kraftwerk, Florian Schneider. Antes de entrar no Top 5, eis algumas menções honrosas:
- “Jazz Sabbath”, Jazz Sabbath (Spotify);
- “Róisín Machine”, Róisín Murphy (Spotify);
- “Thulêan Mysteries”, Burzum (Spotify);
- “Ghosts VI: Locusts”, Nine Inch Nails (Spotify).
Aqui vão as cinco escolhas:
5.º “Dwellers of the Deep”, Wobbler (Karisma Records)
Começamos com um álbum essencial para quem gosta de progressive rock muito bem feito. O grupo norueguês Wobbler tem-se estabelecido nos últimos anos como uma das melhores e mais importantes bandas desta mais recente vaga de prog, fazendo lembrar dinossauros como Yes, Genesis, e Emerson, Lake & Palmer. Continuando o que foi construído em “From Silence to Somewhere” (2017), o aspeto sinfónico ganha mais espaço e as faixas têm uma estrutura mais focada e continua. O talento instrumental da banda é quase intocável e a produção neste novo disco é uma delícia para os ouvidos.
4.º “アダンの風”, Ichiko Aoba (hermine)
O seu mais recente trabalho (“Ventre de Adão”, em português) foi uma agradável descoberta em 2020. A artista japonesa com dez anos de carreira solo e uma voz angelical, que ao longo de 14 faixas nunca para de surpreender, transporta-nos para uma nova dimensão com melodias simples e melancólicas na qual a sua guitarra é o veículo principal. Este novo disco parece culminar todas as sonoridades presentes nos seis trabalhos anteriores e levá-las para uma ambiciosa orquestração, bem como uma mais presente experimentação.
3.º “Franz Schmidt: Complete Symphonies”, Frankfurt Radio Symphony / Paavo Järvi (Deutsche Grammophon)
O tão esperado álbum das sinfonias do compositor austro-húngaro Franz Schmidt (1874-1939). Pela batuta de Paavo Järvi, a Frankfurt Radio Symphony faz reviver os quatro trabalhos sinfónicos, que demonstram uma complexidade harmónica e uma subtil secção rítmica, fortemente influenciados por Anton Bruckner e Richard Strauss, seus contemporâneos. A incandescente tristeza sentida pela morte da filha faz-se sentir ao longo de 40 minutos, fazendo da quarta sinfonia o momento mais marcante. Um disco que deve servir como introdução à fantástica e breve obra de Schmidt.
2.º “Lamentations”, William Basinski (Temporary Residence Limited)
O regresso do compositor norte-americano aos bons trabalhos não poderia ser melhor. Apesar de estar longe da grandeza do ciclo de álbuns “The Disintegration Loops” (2001-2003), a verdade é que “Lamentations” é o seu melhor disco nos últimos 15 anos. Continua com o seu característico trabalho de fita baseado em loops, mas entra num campo mais meditativo e místico com algumas influências drone e clássicas. Um trabalho obrigatório na imensa discografia de Basinski.
1.º “All Thoughts Fly”, Anna von Hausswolff (Southern Lord Recordings)
Inevitavelmente, o melhor disco de 2020. Como constato na minha crítica, “All Thoughts Fly” é o culminar de toda a sonoridade drone que tem vindo a crescer na discografia da cantora Sueca. Depois do aclamado álbum “Dead Magic” em 2018, somos mergulhados desta vez num mar de órgãos capazes que criar uma atmosfera cinematográfica. Desde 2015, von Hausswolff é uma das jovens artistas que com mais entusiasmo acompanho, a sua maturidade musical tem sido impressionante e a sua voz uma força da natureza.
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