No espetro do cinema de animação, equilibrar a razão e a emoção sempre foi particularmente desafiante. Apelar demasiado ao lado esquerdo do cérebro não resulta numa experiência cativante para os infantes, por outro lado, pecar pela exclusividade do entretenimento proporciona um tempo pouco estimulante para o público mais graúdo. A obtenção deste ponto de equilíbrio é o que faz de “Inside Out” (“Divertida-Mente“) um projeto entusiasmante e singular.
O filme realizado e coescrito por Pete Docter decorre na mente de uma rapariga de 11 anos chamada Riley (Kaitlyn Dias). Lá dentro existe uma central de controlo liderada por Joy (alegria, Amy Poehler), que luta por manter a ordem das emoções menos positivas: Sadness (tristeza, Phyllis Smith), Fear (medo, Bill Hader), Anger (raiva, Louis Black) e Disgust (repugnância, Mindy Kaling). A missão é difícil, mas torna-se impossível quando os pais de Riley (Kyle MacLachlan e Diane Lane) decidem mudar-se de Minnesota para São Franciso, criando um turbilhão dentro da cabeça da jovem.
Em consequência, Joy e Sadness perdem-se nos recessos da memória de Riley e devem reunir forças com Bing Bong (Richard Kind), um amigo imaginário esquecido, para regressarem à central, que vê as restantes emoções tomar posse.
Dos confins inventivos dos estúdios da Pixar prevê-se qualidade quer no design da imagem como na perspicácia das mensagens. Afinal de contas, são os responsáveis por filmes como “Toy Story: Os Rivais” (1995), “Monstros e Companhia” (2001) e “The Incredibles – Os Super Heróis” (2004). E se ultimamente “Carros 2” (2011) e “Monstros: A Universidade” (2013) não tenham primado pela mesma excelência, “Divertida-Mente” é um regresso à forma que ao longo dos anos deixou a sua audiência tão mimada. Neste caso, até Sigmund Freud ficaria orgulhoso, dado que a narrativa tem no seu núcleo camadas psicológicas intrigantes que proporcionam uma visualização ativa do filme.

Este convite envolvente permite uma maior apreciação das cores brilhantes e das texturas dos cenários quer dentro como fora da mente de Riley. As personagens que habitam este mundo expansivo são causa de riso e deleito. Como o filme conquista nos primeiros minutos, há um investimento genuíno na sua aventura e com o passar dos atos as surpresas não cessam. Os temas vão sendo revelados à medida que as emoções aprendem a noção de equilíbrio – uma metáfora para o crescimento pessoal – e descobrem que juntas têm o poder de criar memórias mais significativas e maduras.
O conceito de “Divertida-Mente” per si vale o tempo. No entanto, Pete Docter não desperdiça a genialidade da oportunidade e oferece um produto redondo, significativo e recheado de sequências que além de entreter detêm uma carga apreciável de subtexto. Por vezes, as cenas são tão intuitivas que criam uma falsa noção de simplicidade. Isto é, o texto e o subtexto estão de tal modo oleados que parece fácil engendrar um filme com esta complexidade. Mas não. São horas incontáveis de planeamento, discussão e uma vasta equipa técnica e criativa que em conjunto entregam uma história animada memorável.