Terror e religião é uma combinação que me fascina desde “O Exorcista” (1973), um dos meus filmes preferidos. Mas convenhamos, este arranjo raramente conseguiu elevar a sua qualidade acima da mediocridade, sendo “The Nun” (“A Bruxa“) (2015) uma excepção recente que destaco.
O que me fazia ter esperanças em “The Nun – A Freira Maldita” era o facto de estar inserido no universo “The Conjuring“, que até agora não me tinha deixado ficar mal, mesmo quando os filmes não eram realizados por James Wan, o arquitecto desta saga de terror. Não escondo a minha frustração ao perceber que o filme abdica de uma boa história em detrimento de jumpscares em abundância, sendo a grande maioria previsível e ineficiente.
Escrito por Gary Dauberman, cujo trabalho em argumentos de terror não tenho apreciado, e realizado por Corin Hardy, o filme começa com um suicídio de uma jovem freira num mosteiro na Roménia. Intrigado pelo sucedido, o Vaticano envia o padre Burke (Demián Bichir) e uma rapariga (Taissa Farmiga) que está prestes a tornar-se freira, para investigar a sua morte. O que descobrem é uma força poderosa na forma de freira demoníaca.
Posto isto, o que não falta é potencial à história de origem do espírito sinistro que foi introduzido no filme “The Conjuring 2 – A Evocação” (2016). A começar pela localização. O castelo medieval onde as freiras habitam, aliado a uma produção sombria, estabelece a atmosfera perfeita para desenvolver suspense e inquietação. É visualmente interessante e está recheado de artefactos religiosos, especialmente crucifixos que têm uma estranha tendência para ficarem invertidos.

Ainda que com péssimas porções de diálogo, os atores esforçam-se nos seus respectivos papéis. Com destaque para Farmiga, que vestida com um hábito religioso branco contrasta fortemente na escuridão que a rodeia, transmitindo uma aura de esperança. Por muito que a sua personagem seja uma mera caricatura, o ator Jonas Bloquet desempenha Frenchie, o guia dos enviados na Roménia, com algum charme.
Infelizmente, “The Nun – A Freira Maldita” não tem muito mais água benta para oferecer. Consegue promover algumas imagens macabras, mas a sua fórmula repetitiva de sustos inconsequentes impede o desenvolvimento quer das personagens, quer da narrativa. E quanto ao suspense, tendo em conta as possibilidades da localização, deixa muito a desejar.
É uma tentativa elegante mas descartável de combinar elementos religiosos com o género de terror. Um exemplo de como os elementos certos podem comprometer qualquer produção cinematográfica se forem mal articulados. Depois deste pecado, aguardo agora pela penitência: um filme sombrio, tenso e acima de tudo bem construído.
One thought on ““The Nun”: Não há absolvição que o valha”