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Era certo e sabido que, depois do sucesso de bilheteira de “The Nun – A Freira Maldita” (2018), Valak, o demónio mais reconhecido do universo cinematográfico “The Conjuring“, estava destinado a regressar ao grande ecrã. Não é que tivesse sido um mistério de terror particularmente gratificante – foi, aliás, um filme mal conseguido –, mas mexeu o suficiente os cordelinhos do grande público para assegurar uma segunda investida.

Sob o comando do cineasta norte-americano Michael Chaves, eis que surge então “The Nun: A Freira Maldita II”. Sequela que restitui Taissa Farmiga enquanto protagonista, no papel da Irmã Irene. A escolhida pelo Vaticano para investigar uma série de homicídios clericais que indiciam a reaparição da entidade maligna que tinha sido previamente derrotada. Périplo que a guia até um internato feminino sito em França, onde coexistem possessões e segredos sombrios.

Taissa Farmiga (Irene)

Se 2018 já vai longe, não há que temer, pois o filme sumariza bem os eventos do primeiro capítulo. Pode até dizer-se que arranca com algum mérito. As personagens, novas e conhecidas, são bem introduzidas e o argumento não demora a levar a cabo os tormentos do antagonista. Tal como a Abadia de Santa Carta, o cenário anterior, também o internato revela propriedades intrigantes para desenvolver este circo de horrores: raparigas correm entre corredores; as áreas interditas não abonam de luz e arrumo; e algo parece não estar muito certo com Maurice (Jonas Bloquet), o técnico de manutenção da instituição.

Esta apreensão, contudo, esvaece com o prolongamento dos meandros de uma história insignificante, na qual se envolvem personagens de arco narrativo estagnado e sem alma. Isto num enredo que não está concebido com particular invenção. Além de genérico, a indagação que, por conseguinte, dá lugar a uma caça ao tesouro, desenrola-se com a maior das preguiças. No entanto, as suas fragilidades são mais profundas. A título de exemplo, sublinho uma bastante danosa: sabemos, em vários pontos do filme, tanta ou mais informação do que as personagens. O resultado? Uma visualização passiva, de baixo compromisso e pouca particularidade.

“The Nun II” (2023)

Agora… Se me perguntar se, na ocasião de um ou outro susto, dei os meus tremeliques, estaria a mentir se não dissesse que sim. Neste aspeto, Michael Chaves é um cineasta obstinado. Recorre com frequência ao esquema básico da construção dos jumpscares, sendo exceção, desta vez, uma sequência em que Irene defronta um mural de revistas folheadas pelo vento. A criatividade não vai muito além disto, mas pelo menos, no seu conjunto, não é tão mecanicamente depressivo como “A Maldição da Mulher Que Chora” (2019), que não sendo parte desta saga, partilha o cineasta e a sua identidade paranormal.

Já o terceiro ato, configura o último prego no sarcófago. Os efeitos visuais disparam, o volume aumenta, o filme fica embriagado de ação! Não estou a falar de “O Exorcista do Vaticano” (2023), mas parece. Pelo menos no caso do empreendimento encabeçado por Russel Crowe, valha-nos o entretenimento. Em contraste, aqui ficamo-nos pelo fogo de artifício, tão dispendioso quanto efémero. Convictos de que não tardamos a acolher os tão aguardados créditos finais.

Observo que, quanto mais esta franquia dos diabos se afasta do filme que a encetou, maiores são as minhas reservas. Apoderou-se uma certa banalidade, ou melhor, uma falta de animosidade para com a matéria-prima, que encontra na dormência da rotina a sua pior inimiga. Haverá, certamente, espaço para correção de rota. O produtor James Wan, o principal responsável pelo universo “The Conjuring” assim o fará. Há apenas que ter atenção. Afinal, velhos hábitos demoram a morrer.

Bernardo Freire

Rating: 1.5 out of 4.

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