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As diversas iterações no cinema do vilão mais adorado da DC Comics, Joker, têm progredido num sentido realista, ambicioso e sombrio. Tendo como auge a interpretação de Heath Ledger no filme “O Cavaleiro das Trevas” (2008), que valeu ao ator um desolado Óscar póstumo. Para pôr em causa esse ponto máximo entra em cena Joaquin Phoenix, perito em desempenhar personagens desafiantes como Theodore em “Her” (2013) ou Joe no brilhante “You Were Never Really Here” (2017).

Em parceria com o realizador Todd Phillips, Phoenix encarna o Joker com uma audácia hipnotizante, num filme que deposita total confiança na sua performance e gera a ambiência ideal para que o seu riso perturbado não se ouça em vão. O argumento é assinado pelo realizador e por Scott Silver, contando com uma versão da história de origem do emblemático arqui-inimigo.

Joaquin Phoenix (Arthur Fleck)

Gotham vive tempos conturbados. Os serviços sociais entraram em colapso, o lixo acumula nas ruas e o número de manifestações aumenta. É neste contexto precário que habita Arthur Fleck (Phoenix), um homem que vive da sua medicação e trabalha enquanto palhaço de entretenimento quando não está em casa a cuidar da sua débil mãe (Frances Conroy). O seu sonho é tornar-se um comediante de renome e participar no seu programa de televisão preferido, apresentado por Murray Franklin (Robert De Niro). Terá o que é preciso para vingar no seio de uma sociedade reaccionária e marginal?

A pergunta leva o protagonista a descender numa jornada complexa e caótica. Uma narrativa que morfa o contexto de “Taxi Driver” (1976) com os estímulos internos de Rupert Pupkin em “O Rei da Comédia” (1982). É uma combinação ousada que honra os esforços do realizador Martin Scorsese, que comandou ambos os filmes. No entanto, por entre as referências e as sugestões, Phillips nunca deixa que “Joker” perca o sentido de identidade que separa as grandes obras das imitações pálidas.

Robert De Niro (Murray Franklin)

O realizador mergulha uma personagem quebrada num ambiente corrompido e o resultado é um filme em que cena após cena vai escurecendo o seu tom e atmosfera. Assim como a banda sonora, que a compositora Hildur Guðnadóttir conduz com imensa classe e propriedade. No entanto, em grande destaque está sempre um esquelético Joaquin Phoenix, que contorce e dança com um encanto distorcido. É uma atuação que emana demência e desconforto através da sua fisicalidade e comédia negra de qualidade.

Pesem embora os instantes de glória maquiavélica, existe sobretudo um profundo subtexto de tristeza ao longo da narrativa, assim como um comentário social potente sobre a forma como a comunicação social idolatra figuras detestáveis ao ponto de as heroicizar. É um filme que quebra as convenções saturadas dos blockbusters de super-heróis e deixa aquele sorriso na cara de quem acabou de passar por algo especial.

Bernardo Freire

Rating: 3.5 out of 4.

IMDB

Rotten Tomatoes

One thought on ““Joker”: Um sorriso de orelha a orelha

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