Um fugitivo, três caçadores. À primeira vista uma batalha pela justiça, tendo em conta tratar-se (supostamente) de três xerifes. Após estes caçarem o “prémio”, o espectador já espera que o desfecho deste último seja infeliz, quer este coopere ou não. E assim foi: com uma resposta vaga que abre um precedente narrativo, o filme dá o pontapé de saída para a nossa personagem principal, sem de alguma forma conectar com a ação anterior.
Henry, interpretado por Tim Blake Nelson (um cowboy bem mais sujo do que o apresentado no filme dos irmão Coen), é um homem com um percurso de vida algo conturbado – o seu passado é uma neblina só dissipada no terceiro ato – e que agora, em 1906, dedica todos os seus dias à criação de gado e ao trabalho no campo. Nascido em Nova Iorque, Henry vive apenas com o seu filho numa quinta no estado do Oklahoma, após a tuberculose ter ceifado a vida à sua mulher e mãe de Wyatt, este último interpretado pelo jovem Gavin Lewis.
Num dia como todos os outros, onde a rotina impera e é enfatizada pelo próprio Wyatt, um cavalo branco perdido imerge na colina e traz consigo uma história com um final infeliz, contudo, Henry suspeita da mercadoria que o animal traz consigo (uma pistola e uma bolsa cheia de dinheiro) e parte em busca do homem ferido em combate. Sem grande suspense, e desvendando já que Henry era bastante meticuloso para um simples fazendeiro, este encontra o suspeito gravemente ferido e decide trazê-lo para sua casa. Escusado será dizer que este tipo de ações trazem sempre água no bico…

O homem ferido é Curry (Scott Haze), um sheriff que traz consigo um “rastilho de problemas”. Deparando-se com este cenário, Henry desconfia logo de toda esta situação, não perdendo tempo em voltar ao local onde havia encontrado Curry. Sem surpresas, depara-se com os três homens do início do filme – por esta altura o espectador compreende que estes três personagens são tudo menos homens da justiça. Estes acabam por dar com a casa de Henry, que na presença do seu filho, adota uma postura defensiva e experiente. Subtilmente, as provas de que o passado de Henry não fora propriamente a criar gado começam a ganhar peso na história.
A estratégia adotada por Potsy Ponciroli, escritor e realizador de “Old Henry”, é precisamente a de desvendar o passado do nosso personagem principal por camadas, ou seja, através de vários acontecimentos que obrigam constantemente a narrativa a disponibilizar mais peças do puzzle ao público. Wyatt, que ficou sem a sua mãe em tenra idade, vê no seu pai uma inspiração e um exemplo a seguir (ou pelo menos seria esse o intuito de Henry). O que verificamos com o desenvolvimento da história é que o jovem Wyatt se quer libertar das amarras do pai, desejando mostrar que também sabe disparar (corretamente) uma arma, e que tem capacidades para ser mais do que um “simples fazendeiro”.
Com um subtexto interessante no que toca a esta última personagem, o segundo ato do filme não traz nada de novo neste tipo de western. Os vilões sabem que o seu alvo está escondido na casa de Henry, que após acordar e contar quem realmente é e tudo o que se passa, Curry passa a ser mais uma carta no baralho a ter em atenção, contudo, só no final da narrativa é que este tem uma ação digna de ser mencionada, pois até lá não passa de um simples apêndice necessário ao motivo narrativo.
Após um movimento em falso por parte de um dos três bandidos, Henry consegue reduzir o bando apenas para dois elementos, contudo, a vingança não tarda em acontecer. A clássica chantagem acontece com o tio de Wyatt, irmão da falecida esposa de Henry, que por viver na propriedade ao lado não escapou à curiosidade dos vilões em querer saber quem realmente é o nosso cowboy. De novo, o conflito é inevitável, e é com a entrada na parte final da obra que em pouco tempo praticamente tudo é desvendado. Tal como quando um jogador, ou uma equipa, chega a uma final e “saca” dos trunfos todos, Henry “sacou” do seu passado, despertando o interesse do espectador.

Escusado será dizer quem triunfou na batalha final, mas o verdadeiro twist vai para a verdadeira entidade de Henry, o segredo mais bem guardado que dá oxigénio à narrativa ao longo de aproximadamente hora e meia: este é nada mais nada menos do que Billy The Kid, o famoso pistoleiro e ladrão de gado e de cavalos norte-americano. Muitas histórias se escreveram e se contaram acerca de Billy, mas tal como este defende afirma “certas coisas são verdade, mas outras são mentira“. O seu fim é trágico (traído devido a um ajuste de contas do passado que nem chegamos a perceber bem qual a verdadeira motivação), mas Billy parece deixar o seu filho orgulhoso, e vice-versa.
“Old Henry” é perspicaz na forma como esconde o “rebuçado” ao espectador, mas parece carecer de algum “sumo” ao longo dos dois primeiros atos. Estes são maioritariamente deslumbrantes no capítulo da fotografia, juntando uma cinematografia bastante positiva por parte de John Matysiak. A banda sonora de Jordan Lehning é outro ponto bastante positivo, pois consegue ser bastante fiel e adequada ao cenário em questão – uma componente sempre importante, principalmente em filmes com categorias mais específicas.
Estreado este ano no Festival de Cinema de Veneza, “Old Henry” supera tecnicamente um argumento cativante mas pouco sólido. Cedo no filme sabemos para onde a história caminha, e mesmo havendo um crescimento de duas importantes personagens (Henry e Wyatt), não chega assentar uma narrativa num mistério de identidade. Ou melhor, poderia chegar, mas neste caso em específico, e falando de um western, “Old Henry” sai pouco da sua zona de conforto, deixando aquém qualquer tipo de história secundária (os cenários e o meio envolvente ajudariam), não conseguindo assim captar o suspense de obras como “A Velha Raposa” (1969) ou “Duelo na poeira” (1973).
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