viva o rock brasileiro #9
Quando tinha nove anos, ouvi uma canção que colou nos ouvidos, chamada O Carimbador Maluco, do Raul Seixas, para um programa infantil. Vamos à letra?
“5… 4… 3… 2
Parem! Esperem aí
Onde é que vocês pensam que vão?
Ãn-ãn
Plunct Plact Zum
Não vai a lugar nenhum!
Plunct Plact Zum
Não vai a lugar nenhum!
Tem que ser selado, registrado, carimbado
Avaliado, rotulado se quiser voar!
(Se quiser voar)
Pra Lua: A taxa é alta
Pro Sol: Identidade
Mas já pro seu foguete viajar pelo universo
É preciso meu carimbo dando o sim
Sim, sim, sim
Plunct Plact Zum
Não vai a lugar nenhum!
Plunct Plact Zum
Não vai a lugar nenhum!
Tem que ser selado, registrado, carimbado
Avaliado, rotulado se quiser voar!
(Se quiser voar)
Pra Lua: A taxa é alta
Pro Sol: Identidade
Mas já pro seu foguete viajar pelo universo
É preciso meu carimbo dando o sim
Sim, sim, sim
Plunct Plact Zum
Não vai a lugar nenhum!
Plunct Plact Zum
Não vai a lugar nenhum!
Mas ora, vejam só, já estou gostando de vocês
Aventura como essa eu nunca experimentei!
O que eu queria mesmo era ir com vocês
Mas já que eu não posso
Boa viagem, até outra vez
Agora o
Plunct Plact Zum
Pode partir sem problema algum
Plunct Plact Zum
Pode partir sem problema algum
Boa viagem
Plunct Plact Zum
Pode partir sem problema algum
Plunct Plact Zum
Pode partir sem problema algum
Boa viagem, meninos, boa viagem“
Um pouquinho mais velho, aos 11, 12 anos, como já dito aqui, ouvia o som alto do vizinho Arílson com as letras interessantes de Raul Seixas. E foram tantas! Eu nasci há dez mil anos atrás, Gita, Sociedade Alternativa, Medo da Chuva e outras. O legado do cantor marcou-me profundamente, ainda para mais ele morreu cedo, em 1989. Morreu o homem, consolidou-se o mito. Mais que merecido. O epíteto Maluco Beleza deve-se a uma das suas canções, e a verve roqueira foi substituindo uma levada bem menos refinada do início de carreira.
Raul Seixas continua até hoje idolatrado pelo facto de não vermos o sujeito envelhecer. Confesso que o menino de 13, 14 anos não tinha condições de interpretar tanta profundidade, de um sujeito que cantava as coisas do Universo, das sociedades alternativas e que apregoava que preferia ser uma metamorfose ambulante a ter uma opinião formada sobre tudo.
Desde sempre, raramente peguei num disco do artista para ouvir. Mas as canções iam pipocando como na afirmativa de que “Quem não tem colírio / usa óculos escuros” e somente nestes dias a minha esposa interpretou corretamente o trecho: “Quem tem mulher feia, usa óculos escuros para ver as belas.” Entendida ela, não? E eu piamente acreditando no defeito da visão, que sujeito parvo eu sou. E o que dizer da canção incomodativa que afirma que “Eu sou a mosca que pousou na sua sopa?“

Um exercício que me desafiarei ainda a fazer é ouvir a obra toda do Maluco Beleza, com todas as suas fases. Percebi o óbvio: o séquito de fãs só cresceu e virou vanguarda e despeço-me aqui com uma filosófica e motivacional Tente outra vez, um oportuno conselho a cada um de nós. Vamos a ela?
“Veja
Não diga que a canção está perdida
Tenha fé em Deus, tenha fé na vida
Tente outra vez
Beba (beba)
Pois a água viva ainda ‘tá na fonte (tente outra vez)
Você tem dois pés para cruzar a ponte
Nada acabou, não não não
Oh oh oh oh tente
Levante sua mão sedenta e recomece a andar
Não pense que a cabeça aguenta se você parar
Não não não não não não
Há uma voz que canta, uma voz que dança
Uma voz que gira (gira)
Bailando no ar
Oh queira
Basta ser sincero e desejar profundo
Você será capaz de sacudir o mundo, vai
Tente outra vez
Tente (tente)
E não diga que a vitória está perdida
Se é de batalhas que se vive a vida
Tente outra vez“
Raul Seixas fazia o tipo roqueiro. No final da sua vida, alcoólatra, largado e displicente, já não se aguentava de pé nos palcos, mas percebemos que as suas atitudes genuínas carregavam muito de um espírito infantil, como se se destinasse a um foguete que percorreria o universo como na canção O Carimbador Maluco. Meio o tio daquela geração toda do rock nacional dos anos 80, é uma referência ainda hoje de excelência e autenticidade.
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