viva o rock brasileiro #11
Lado A
Felicidade Zen (Arnaldo Brandão / Tavinho Paes)
Fanzine (Arnaldo Brandão / Tavinho Paes)
Se a Gente Não Fosse (Arnaldo Brandão / Affonsinho / Tavinho Paes)
Plic Plic (Arnaldo Brandão / Tavinho Paes)
Ano do Dragão (Arnaldo Brandão / Tavinho Paes)
Lado B
Fausto Brasil (Arnaldo Brandão / Tavinho Paes)
Cheira Confusão (Arnaldo Brandão / Affonsinho / Tavinho Paes)
Duas Vidas (Arnaldo Brandão / Tavinho Paes / Affonsinho)
O Tempo Não Pára (Arnaldo Brandão / Cazuza)
O Sofisma (Arnaldo Brandão / Tavinho Paes / Lobão)
Pelas rádios AM, ouvia aqui e ali alguma canção do conjunto carioca Hanói Hanói. Na adolescência, ouvi o disco “Fanzine” e fiquei assombrado com as letras e as músicas tão complexas e reflexivas. Lançado em 1988, o álbum carrega muito de críticas sociais como nas discursivas Plic Plic e Fausto Brasil e na contundente O Tempo não Pára, que ficaria mais famosa pela interpretação de Cazuza, como se fosse o hino de sua via-crúcis na luta contra a AIDS (SIDA). As que caíram logo no gosto das rádios foram Felicidade Zen e a canção que dá título ao disco.
Conjunto formado por Arnaldo Brandão (vocal principal, baixo elétrico, guitarra); Sergio Vulcanis (guitarra, backvocal); Alex de Holanda (percussão, backvocal) e Edmardo Galli (bateria, backvocal), sendo que o acréscimo se dá com as letras de Tavinho Paes, poeta, escritor, agitador cultural e um exímio letrista que compõe a maioria das músicas com Arnaldo, que com a sua voz rascante empolga os fãs que só fazem crescer a cada espetáculo. Só mais tarde soube que Arnaldo era da velha guarda, que já havia tocado com muita gente importante, incluindo Raul Seixas.
Tive a satisfação de entrevistar duas vezes Arnaldo Brandão para a Revista Conhece-te e a conversa rolou solta com tiradas inteligentes do músico, quando por exemplo lhe perguntei sobre a diferença do rock que se fazia nos anos 2000 do que àquele da década de 1980. Ele atirou: “Antigamente, as bandas queriam chutar o pau da barraca. Hoje eles querem chupar o pau da barraca.“

“Fanzine” é um disco que não me canso de ouvir. Para além das saudades da infância, a certeza de que canções que perduram necessitam de letras sábias, melodias bem elaboradas e atitudes que pouco observamos hoje em dia. Destacarei aqui uma das letras mais significativas deste disco, infelizmente, bastante atual, Plic Plic:
“Você quer ser bom rapaz
Mas ninguém te leva a sério
Se virar um marginal
Vou te ver no cemitério
Se for preso tá ferrado
Vai dançar na mão “dos homi”
Se correr eles te pegam
Se ficar eles te comem
Se aplique plic plic
Você vive de biscate
Não se toca que tá mau
Teu salário vem do lixo
Que faz carnaval
Sindicatos não entendem
Teu trabalho realista
Teu suor tá no baralho
Isca de polícia
Já tentou ser operário
Mas foi logo demitido
Acidentes de trabalho
São assuntos proibidos
Se vira um comunista
Não te aceitam no partido
Quem não gosta do trabalho
Se pirar vira bandido
A comida custa caro
Desemprego é normal
Na escola não tem vaga
Não tem hospital
Você culpa todo mundo
Mas não sabe fazer nada
A preguiça te perturba
Como uma piada
Teu salário é uma merreca
O teu trampo é pra leão
Tua vida muito brega
Tá cheia de confusão
Todo dia pensa em greve
Toda noite toma um porre
Teu país tá numa merda
E qualquer dia você morre
Você grita por diretas
Depois vota num careta
A política te agrada
Como uma punheta
Você age como bicho
Vive numas de que é fera
Malnutrido e deprimido
Nem a droga te acelera
Pra toda a malandragem
O teu cheque não tem fundo
Pra você não há jeton
Nem chalé no lago sul
Se tivesse educação
Tua vida tava a mil
Tua fome tinha nome
Tua guerra era civil“

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Senti-me muito prestigiado ao ter uma edição tão bem feita, inclusive o detalhe da capa do álbum inserido no texto ficou excelente! Parabéns, editor e amigo Diogo.