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Nascido no Porto em 1942 em pleno Estado Novo, Sérgio Valente é fotógrafo e ativista revolucionário, cuja visão fotográfica aponta para a documentação da revolução de 25 de Abril de 1974. Desde cedo enveredou por uma participação social e politicamente ativa e já em 1958, integrara a oposição democrática durante a campanha presidencial de Humberto Delgado.

Durante esta sua participação na campanha eleitoral de 1958, Sérgio apercebe-se que a sua visão da realidade, a de que vivia num país atrasado e repressivo, era partilhada por muito mais pessoas para além dele. É então que descobre a sua posição na sociedade e que ganha a perceção de que existe uma luta de classes em que rapidamente se vê envolvido.” (Valente, p. 12).

A   radicalização   da   oposição   que   então   se   assiste   é   bem documentada em dois acontecimentos bastante importantes que Sérgio Valente assiste e fotografa. O primeiro deles é o III Congresso da Oposição Democrática, em Aveiro, realizado em abril de 1973. Neste congresso, feito sob um clima de grande crispação, participam vários milhares de pessoas, entre as quais inúmeras personalidades ligadas à oposição ao regime, e discutem-se teses sobre as mais variadas questões.

O 1.º de Maio de 1974, no Porto, pela câmara de Sérgio Valente

É neste congresso que os representantes dos vários movimentos da oposição defendem «o fim da Guerra Colonial, a luta contra o poder absoluto do capital monopolista e a conquista das liberdades democráticas»” (Valente, p. 17). Na luta contra o regime, este foi preso e torturado pela PIDE em três ocasiões: 1969, 1971 e 1973. No seu percurso fotográfico, Sérgio Valente usa a sua máquina como arma contra a opressão, acompanhando principalmente a Revolução dos Cravos e a comemoração do regresso do Primeiro de Maio no Porto em 1974.

Contudo, a sua obra não fica por aqui, Sérgio também retrata os aspetos do processo de desenvolvimento e refluxo revolucionário no Porto, percorrendo os itinerários políticos na cidade até ao ano de 1982 e terminando com os acontecimentos trágicos do Primeiro de Maio desse mesmo ano, que culminaram na morte de dois jovens manifestantes em confrontos com a Polícia de Intervenção de Lisboa. Também documenta as condições em que os portuenses viviam antes do 25 de Abril, meramente a pobreza, fome e injustiça, e ainda alguns concertos dos músicos de intervenção como Zeca Afonso, Fausto e Vitorino.

Em 2010, é editado “Sérgio Valente – Um fotógrafo na Oposição“, “um livro-álbum com parte de um espólio fotográfico, na sua quase totalidade inédito, ao qual se reconhece um importante valor patrimonial e histórico para a compreensão da história política e social da cidade do Porto e sua região, durante o regime ditatorial estado-novista, sobretudo na sua fase marcelista” (Marques, p. 9). A visão fotográfica de Sérgio Valente já esteve em exposição na Biblioteca Municipal de Vila Nova de Gaia, em 2019.

Capa do livro “Sérgio Valente – Um fotógrafo na Oposição” (2010)

Bibliografia

Marques, Helder Miguel Rosas da Costa (2010). Sérgio Valente: um fotógrafo da oposição. Tese (Mestrado em Estudos Editoriais) – Departamento de Línguas e Culturas, Universidade de Aveiro, Portugal

Valente, Sérgio (2010). Sérgio Valente: Um fotógrafo na oposição, Edições Afrontamento, Portugal

João Filipe

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