“O amanhã não é garantido. Nada é garantido.”
Shanann Watts
Nos primeiros minutos de “American Murder: The Family Next Door” vemos uma sequência de cenas típica que no contexto de um documentário criminal antecede uma tragédia inevitável. Uma residência. Uma família feliz. Sorrisos contagiantes que nos fazem relacionar e torcer pelas pessoas que estamos a assistir. Nestes momentos iniciais, Jenny Popplewell, a realizadora, convida-nos a conhecer o lado mais superficial da família Watts – o lado visível nas redes sociais – até que um desaparecimento inesperado começa lentamente a revelar as fissuras que existiam no seio do lar.
Corria o ano de 2018 e as suspeitas levantaram-se na manhã do dia 13 de agosto em Frederick, no Colorado, EUA. Shanann Watts e as suas duas filhas, Bella, de quatro anos de idade e Celeste, com três anos, desapareceram sem deixar rasto. Sobrava um marido nervoso, Christopher Lee Watts, que apelava para que as suas meninas voltassem para casa. No entanto, entre outros pormenores, havia algo de incomum neste sumiço – o telemóvel da senhora permanecia em casa. Além de uma “discussão emotiva”, Christopher não sabia o que poderia ter despoletado uma possível fuga. Terão então sido raptadas?

Sem grande foco nas possíveis alternativas, o documentário desenrola-se com o foco principal na vida desta família através de videoclips e gravações. Sem revelar o desfecho conhecido desta história real, as filmagens escolhidas mostram vários momentos felizes das pessoas, fugindo ao sensacionalismo barato tão recorrente neste género de dramas domésticos. Claro, é impossível não abordar as emoções privadas, as lutas e, em última instância, o que pode ter levado ao desastroso culminar da narrativa. No entanto, por entre as mensagens, textos e imagens, podemos sentir um pouco da vivacidade desta família, algo fundamental para equilibrar o tom do filme.
A realização fomenta uma simpatia acessível entre o espetador e esta casa. Não existem, por exemplo, os tradicionais depoimentos de terceiros a contar os seus ângulos da história. Por sua vez, vídeos na primeira pessoa ou filmagens de parentes são a matéria-prima para a construção do enredo. Muitos desses vídeos estiveram a certa altura nas redes sociais como o Facebook. Sempre muito positivos. Retratos de momentos perfeitos de uma família aparentemente modelar. Um engodo que algumas mensagens privadas não só entre marido e mulher, como entre mulher e amigas desmascaram por completo – “Estou aqui num canto a chorar em silêncio“. Uma invasão de privacidade necessária para se retirarem ilações motivacionais.

Se podia ir mais a fundo relativamente aos porquês do acontecimento? Podia. Quiçá não fossem fontes de um aconchego utópico face às circunstâncias. A procura por esclarecimentos não é mais do que natural. Terá sido malvadez a guiar o comportamento do vilão desta história? Estupidez? Uma conjugação dos dois? O que é certo é que o documentário termina com uma necessária réstia de sentido de justiça. Ainda que custe a engolir, há uma tranquilidade no caos indignado. Em falta de melhor, sobre o desejo de espalhar uma mensagem de prevenção contra futuras violências domiciliares.
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