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Capítulo IV
Tudo passava borrado pela janela da carruagem. Cíntia, com seus olhos bem atentos, se acalmava observando a paisagem. Primeiro, surgiram as grandes pradarias costeiras de Asteoidea, com seus dentes de leão iniciando a sua florescência. Logo em seguida mudou-se para as vastas plantações da região do Mato Alto, conhecido por ser cercado de dois rios que garantiam sua terra fértil. As planícies se estenderam até passarem ao sul dos Montes Noviços, com seus picos, constantemente, cheios de neve. Por fim, haviam chegado aos portões das Serras Antigas, onde um mar de montes abrigava uma das maiores riquezas dos cinco reinos: sua imensidão de minas dos mais variados metais e pedras preciosas. Haviam chegado em Carbunculus.
Relaxou enquanto olhava para as minas que apareciam em seu caminho. De tantas, perdeu a conta. Não era de se negar que, em questão de riquezas materiais, Carbunculus estava na frente dos outros quatros reinos. Isso sem falar no seu forte poderio militar. Mas, para guerreira, esse não era o indicador de um bom governo. Catarina, com o apoio das tácticas militares de sua general, conseguira um poder tão forte quanto o de Eliseu, mesmo com menos fontes de capital. Isso sem falar nos outros aspectos.
Por mais rico que o reino de Carbunculus fosse, era também o lar de muita miséria. A verdade é que, desde muito antes do governo de Eliseu, todas as riquezas ficaram acumuladas com a elite. Restava para a maioria da população apenas trabalho pesado, com péssimas condições e salários muito baixos. Boatos falavam que, desde quando eram crianças, as pessoas começavam a trabalhar nas minas em turnos que variavam de doze a quatorze horas diárias. Sem nenhum direito a descanso. Além dos altos impostos que o rei cobrava.
Para Cíntia, era um mistério como a população não havia se rebelado. Dizem que, para manter essa ordem social, Carbunculus investiu muito em seu poder de combate. Se não fosse o temeroso exército, proveniente de histórias terríveis contra seus opositores, com toda certeza essa pirâmide já teria sido derrubada. O reino era governado pelo medo. Mesmo assim, hora ou outra, ainda havia uma instabilidade política.
Catarina também passara por provações de seu povo. Depois que seu marido morreu, assumiu sozinha um reino devastado pela guerra. As pessoas estavam irritadas com toda a situação. Várias rebeliões aconteceram na época. Muitos não achavam que ela iria dar conta. No entanto, ela deu. Ela conseguiu movimentar a economia novamente, ao mesmo tempo que apoiava aos mais necessitados. Percebeu que, mantendo as classes em equilíbrio, obteria a estabilidade que precisava para crescer novamente Asteroidea. E, com o apoio de todas as suas camadas, conseguiu implementar projetos inovadores que elevaram seu reino. Isso sim era o que Cíntia chamava de bom governo.
Porém, sua consideração pela rainha acabou por se esvair de seu corpo ao ver um ponto negro ao fundo da paisagem. A Floresta dos Mil Olhos. Fechou os olhos, e deixou que tremores tomassem conta de seu corpo. Graças à deusa, ninguém estava com ela para ver a sua fraqueza. Querendo ou não, aquele lugar mexeu com ela. No entanto, recobrou sua postura rapidamente. Hoje precisavam dela forte. E forte ela estaria. Sem desculpas.
Analisou suas roupas por um momento. Estava usando um vestido vermelho com flores brancas, cheio de babados e bordados. E não era à toa que não usava vestidos. A cinta era apertada e incomodava. Não possuía margem para movimento algum. Sem falar no quão quente estava por debaixo de todos aqueles panos. Não compreendia como Catarina vestia aquilo todo dia. Preferiria muito mais suas roupas convencionais, a básica camiseta com calças pretas. Suspirou. Ela teria que aguentar naquela noite.
Colocou a cabeça na janela novamente e viu um glamoroso castelo aparecer entre as elevações ao redor. Não era à toa que o castelo de Carbunculus era considerado o mais luxuoso de todos os reinos. Sendo totalmente feito de pedras de mármores, arranjos folheados a ouro constituíam cada ponta do castelo, refletindo o dourado mesmo estando de noite. Mas Cíntia não estava ali para admirar a construção. Sentou-se ereta novamente e colocou sua máscara. Ninguém poderia reconhecê-la. Ou a missão estaria em risco.
Após a carruagem dar a volta pelo jardim da frente, parou perto das escadarias brancas, em frente ao portão dourado ornado com rubis. Havia uma grande fila para a entrada no salão, enquanto guardas conferiam os títulos de nobreza na outra ponta. A guerreira deu uma última sondada nas pessoas da fila, endireitou a postura, levantou o vestido e desceu delicadamente de sua carruagem. Agia como uma verdadeira nobre, nada parecida com sua forma habitual.
Foi para o final da fila e começou a analisar. Todas as mulheres estavam com vestidos coloridos semelhantes ao dela. Talvez ninguém a notasse, o que era bom. Porém, quando arrumou sua roupa, percebeu que havia uma pessoa a observando. Uma garotinha, de pele morena e cabelos cacheados, com cerca de doze anos, a encarava incessantemente, com seus grandes olhos castanhos brilhando. Cíntia, um pouco acanhada, começou a encará-la também. E isso durou um bom tempo, até que, insatisfeita, essa menina foi em busca de suas respostas, saindo de seu lugar da fila e aproximando-se da general.
— Quem é você? — com uma feição questionadora, parou bem em frente de Cíntia, com a cabeça levantada. — Todos que estão nessa fila eu sei quem são, mas você é uma exceção. Acho que eu nunca a vi em um baile antes. Poderia responder minha pergunta?
— Com toda certeza! Contudo, terá que se apresentar igualmente. Afinal, eu também não sei quem você é. — entrou no jogo, por mais que soubesse quem ela era.
— Oh! Onde estão meus modos? — encostou a mão na testa para depois estendê-la em um cumprimento. — Sou a princesa Bella Celengrim, segunda filha do rei Lázaro, de Ignis. Agora que me apresentei, chegou a sua vez.
— Alteza! — fez uma reverência, antes de pegar na delicada mão à sua frente. — Sou Laísa Sanea, filha do barão Silver Sanea, morto na guerra civil de Asteroidea.
— Então temos aqui uns dos órfãos rebeldes de Asteroidea… — soltou um modesto sorriso. Aparentemente, estava se divertindo com a conversa. — Você não vem muito em bailes, não é? Senão eu, com toda certeza, já teria te reconhecido.
— Este foi o primeiro baile real, depois de anos, aberto a todas as nobrezas. Creio que deva ser uma data muito importante…
— É o aniversário de dezoito anos de Cássio. Acho que o rei Eliseu quer apresentar seu filho para todo mundo, como se fosse um dos maiores feitos dos últimos anos.
— Bem, não seria um feito do qual eu me orgulharia… — sussurrou no ouvido da princesa, que soltou uma leve risada junto com Cíntia. Tinha que concordar que era uma garotinha muito esperta. Depois que as risadas cessaram, voltou para a conversa. — A Alteza me permite fazer uma pergunta?
— Claro!
— Por que você não está no baile com seus pais? Pensei que as princesas pudessem entrar direto.
— Na verdade não. Só os reis, as rainhas, os herdeiros e os generais podem entrar direto. No entanto, eu não me importo! Digamos que conhecemos pessoas interessantes na fila. — lançou um olhar de admiração para a Cíntia, o que deixou a guerreira um pouco constrangida.
— E toda a sua família veio para o baile?
— Hum-hum! — balançou a cabeça em afirmação. — Meu pai provavelmente estará junto com os outros reis, e minha mãe com as outras rainhas. Já minha irmã estará com um vestido muito parecido com o meu, só que verde. — apontou para o vestido amarelo com alguns girassóis bordados. — Bem, eu queria o vestido verde, mas meu pai deu a preferência para a minha irmã. De acordo com ele, ela é a dama perfeita, e terei sorte se for um dia como ela. Porém, não quero ser como minha irmã. Acho tão sem graça ela ficar sempre parada, sem falar nada. Meu pai diz que falo demais, e que isso é ruim para uma dama, que é irritante. Eu não estou te irritando, não é mesmo? Se tiver é só me avisar que eu paro…
— Fique tranquila, princesinha. — passou a mão suavemente em seu rosto vívido, fazendo-a soltar um sorriso de alívio. — Sempre gostei de uma boa conversa.
— Então, eu não queria ser uma dama como minha irmã. Acredito que deva ter outras maneiras de ser uma. Alguma forma que possa ser elegante mais ainda poder falar sua opinião. Tipo… A rainha Catarina! — apontou para a monarca que estava saindo da sua carruagem com um vestido rosa deslumbrante, indo em direção à porta. — Ela sim é o tipo de dama que eu gostaria de ser. Forte, confiante, mas, ainda sim, elegante. Olha só como ela anda! Além da coragem que ela tem de enfrentar todo o mundo.
— Parece que alguém gosta da rainha Catarina.
— Bem, — abaixou a cabeça e começou a rodar um dos pés. — para ser sincera, não é ela quem mais admiro… — olhou, novamente, com adoração para a guerreira, o que acabou levantando alguns questionamentos. Será que aquela pequena garota sabia de alguma coisa? — Mesmo assim, eu a adoro. Pensar que, sozinha, ela conseguiu reconstruir Asteroidea depois de uma grande guerra. Sem falar na ajuda que ela ofereceu ao meu pai. Se não fosse por ela, Ignis com certeza teria passado por um dos piores anos de sua história.
Cíntia sabia muito bem disso. A verdade era que Ignis não virou parceiro de Asteroidea por admiração à inovadora administração da rainha Catarina. Um pouco antes de Catarina assumir o poder sozinha de Asteroidea, uma seca avassaladora atingiu o reino semiárido de Ignis, causando terríveis consequências. Com o passar dos meses, a fome apavorou seu povo, provocando uma forte instabilidade no governo, que sofria com violentas rebeliões. E, assim como na guerra civil de Asteroidea, os outros três reinos apenas viraram as costas para todo o caos.
Quando Asteroidea voltou à paz e Catarina subiu ao trono, houve um dos melhores anos de colheita na região do Mato Alto, sem falar na fartura de peixes das ilhas e dos recifes. Com alimento excedente, um tratado foi celebrado entre os dois reinos, que garantiu o abastecimento de Ignis em troca da única matéria-prima que ele tinha para oferecer: o ferro, proveniente das serras ao sul do reino. Asteroidea era um dos dois lugares que não possuíam esse metal — Ager também não possuía, contudo, ele tinha um acordo histórico de fornecimento com Carbunculus. — Enquanto Lázaro conseguia retomar o controle do seu reino, Asteroidea ganhou um bom parceiro, sem falar na providência de um importante material.
— E como vai o período de seca no seu reino? — Voltou-se mais para a situação de Ignis, uma vez que Bella havia tocado neste assunto. — Fiquei sabendo que, ano passado, também não foi um ano bom de colheitas.
— Infelizmente não. No entanto, graças aos acordos e ao grande pedido de ferro de Asteroidea, conseguimos passar bem o inverno. Às vezes, gostaria de saber o que vocês fazem com tanto ferro. Contudo, meu pai falou que moças como eu não deveria ser intrometida. Quanto à seca, meu pai está confiante. Ele mesmo fala que este será um ano bem melhor para Ignis.
— Fico contente em ouvir isso. — disse sentindo uma sensação boa.
— Eu também fico. Ao contrário do que todo mundo pensa, Ignis é um bom reino. Só tem passado por uma situação árdua. Mas eu não nego, Laísa, tenho muita inveja de você. Eu sempre quis conhecer Asteroidea. Acho que lá deve ser o melhor reino para morar. Minha mãe me disse que as praias são maravilhosas, que são as mais belas que ela já viu. Por mais que Ignis tenha praias, nunca fui em uma. Sempre peço para o meu pai me levar até Asteroidea, em suas viagens de negócios, mas ele fecha a cara e fala que reunião não é um lugar para mulheres. Isso sem dizer no quanto queria ser livre para andar para onde desejasse, sem pedir permissão nem nada disso. Ou, até mesmo, fazer o que quisesse. Quem sabe se entrasse no exército não viraria uma grande guerreira… E você? O que você faz em Asteroidea?
— Bem, eu faço um monte de coisas… — não aguentou e soltou um brilhante sorriso. Aquela menininha era mesmo interessante. — Sou ajudante de Leura. Trabalho com a correspondência real. — mentiu. Mesmo para Bella, era perigoso falar a verdade. — É meio parado. Acredito que você não gostaria muito.
— Com certeza é melhor do que ser eu! — proferiu com determinação.
— Uma princesa como você deve fazer muita coisa interessante, não?
— Na verdade não. — falou desanimada. — Fico o tempo todo no castelo, aprendendo como devo me comportar para meu futuro marido. Não saio em momento algum, com exceção dos bailes. Como Asteroidea e Virditas não possuem herdeiros, nunca cheguei a conhecer os reinos. Porém, na maior parte do tempo, é muito chato. O castelo sempre fica vazio, com exceção dos dias em que a rainha Catarina e a general Cíntia passam lá para conversar sobre os acordos. Mas meu pai nem ao menos me deixa chegar perto delas. A exceção foi apenas nesses dois últimos meses, quando os reis Eliseu, Félix e Herculano começaram a ir lá quase toda semana…
— Eles estão indo no seu reino com essa frequência? — perguntou Cíntia preocupada, com seu coração acelerando quando Bella fez um simples gesto de sim com a cabeça. Isso não era um bom sinal.
A verdade é que, quando Catarina subiu ao poder, os reis de Carbunculus, Virditas e Ager não acreditavam que a rainha iria conseguir. Todavia, ao fazer o acordo com Ignis — outro reino ignorado — , ela não só conseguiu reerguer os reinos como também formou uma forte aliança. Sem o ferro, Asteroidea não teria a força militar que possuía. Por isso, até que a guerra iniciasse, ela precisaria manter o pacto comercial com Ignis intacto. E os outros três reinos sabiam da importância deste acordo.
E não foram poucas as tentativas que fizeram para tentar derrubar essa conexão entre Asteroidea e Ignis. Porém, a cada proposta que eles faziam, Catarina rebatia com uma oferta ainda melhor. Ela entendia muito bem que, se fosse cortado esse vínculo, a guerra seria iniciada imediatamente. E o reino não estava pronto para isso. Não até que o golpe pudesse ser realizado. E essa nem era sua maior preocupação. Afinal, ela teria que enfrentar outro problema ainda maior com tudo isso.
De acordo com as regras que construíram os cinco reinos, um governante poderia ser deposto por seus vizinhos caso ele — ou ela — fosse considerado incapaz de governar ou prejudicial ao regimento dos cinco. Para possibilitar esse processo, os quatro reinos teriam que condená-lo em um julgamento diante das Cinco Pedras, onde um reino escolhido assumiria seu lugar temporariamente, até que fosse organizado o processo de sucessão. A rainha apenas não fora deposta até o momento por causa de sua forte parceria com Ignis. Caso ocorresse uma troca de lado deste reino, poderiam destituí-la imediatamente.
Foi por isso que Catarina arriscou mandar Cíntia escondida para o baile de Carbunculus. Por mais que eles fossem obrigados a convidá-la, se eles soubessem quem ela era, a vigiariam a todo instante. E, mesmo que descobrissem seu disfarce, a dor de cabeça por falsificar um documento de realeza seria bem menor do que a de sofrer com o julgamento. Ela tinha que conseguir as informações para saber como eles pretendiam romper o tratado de Ignis e Asteroidea. E, talvez, naquele exato momento, ela obteria essa informação com a pequena princesa à sua frente.
— Bem, eles devem estar tratando de algo realmente importante… — a guerreira começou a divagar sobre o assunto, em uma tentativa de aproximar-se de uma resposta. — E acho que seria inadequado uma dama estar dentro de uma sala de reuniões com temas tão relevantes…
— Meu pai falou que não poderia participar, mas… — entendendo o ponto que sua companheira queria chegar, observou ao redor e, percebendo que ninguém estava olhando para elas, pediu para a general se aproximar. — Posso trocar um segredo com você?
— Claro! — com olhos faiscando pela cumplicidade, chegou perto o suficiente para que a princesa sussurrasse.
— Em um dia muito chato, depois de todas as minhas tarefas e aulas, eu resolvi sair do meu quarto e escutar uma reunião. Fui escondida à biblioteca, que fica ao lado, entrei atrás de um armário e coloquei um copo para ouvir através da parede. — contava com orgulho sua artimanha, convencida de que a sua parceira a aprovaria. — Porém, minha governanta me pegou. — falou um pouco mais cabisbaixa. — Ela não contou para o meu pai, mas… Fiquei uma hora ajoelhada no milho.
— E você escutou alguma coisa interessante? — perguntou baixinho com seu rosto sinalizando um pouco de esperança.
— Não. Nada que você já não saiba.
Cíntia soltou o ar. Toda a esperança que tinha desapareceu. Pelo jeito, teria que acessar a sala para saber qual era o próximo plano dos três reinos. De qualquer maneira, Bella já tinha ajudado bastante. Saíram da simples especulação para saber que eles realmente estavam negociando com Ignis. Não poderia esperar mais de uma garotinha, principalmente uma que vivia em regras bastante rígidas. Ainda ajoelhada, voltou seu rosto para a princesa, querendo continuar a conversa.
— Acredito que agora você queira saber um segredo meu… — voltou com sua confiança habitual.
— Na verdade, eu já sei o seu segredo! — falou e virou para frente, deixando a general sem entender nada.
— Como assim, já sabe o meu segredo? — confusa, cutucou a menina até que virasse de novo para ela. Bella fez, então, um sinal para que se aproximasse bem, e disse, bem baixinho, em seu ouvido:
— Pelos seus olhos, sei que é você, Cíntia.
Seu coração disparou. Será que está tão evidente assim? Sentiu um frio subir pelas suas pernas enquanto, congelada, via aquela, aparentemente inocente, garotinha virar de costas para ela como se nada tivesse acontecido. Correu os olhos para todos os lados. No entanto, não havia uma única pessoa que tivesse a atenção voltada para si. Será que mais alguém sabe? Era uma pergunta que a perturbava. Prometera a Catarina que ninguém descobriria. Pois, se soubessem, como faria para chegar à sala de informações? Sua cabeça estava fervilhando. Precisava de respostas. Agora!
O barulho forte da porta de uma carruagem abrindo rompeu sua angustiante bolha e direcionou sua visão para as pessoas que estavam lá dentro. Por ser uma carruagem grande e glamorosa, folheada à prata, não poderia imaginar ser alguém de uma nobreza mais baixa. E estava certa por achar isso. Saíram, respectivamente, o rei Herculano, de Ager, sua rainha, Cecília, seu filho mais velho e herdeiro do trono, Nataniel, e seu filho mais novo, Tales. Contudo, foi apenas um deles que captou a atenção de Cíntia.
Príncipe Tales, o atual general de Ager, a notou assim que saiu da carruagem. Naquele momento, Cíntia já estava na entrada do portão, tendo apenas dois à sua frente. A princípio, o príncipe lançou um olhar desconfiado, enrugando sua negra sobrancelha. Mas, logo em seguida, surgiu um brilho em seu olhar, iluminando desde seu definido queixo aos seus cabelos escuros. A guerreira sentiu um calor a expandir em seu peito, ficando corada na mesma hora. Não conseguia ter nenhuma reação. Apenas o encarou de volta, em uma intensa troca de olhares. E, quando ele já estava em frente à entrada, soltou um singelo sorriso para ela e depois virou o rosto, indo em direção ao baile.
Cíntia acompanhou-o até não conseguir mais enxergá-lo. Depois que seu coração acalmou e sua cabeça voltou a funcionar, ela conseguiu analisar os fatos. Tales, um dos generais dos reinos inimigos, a percebeu. Ele a havia encarado, enquanto subia cada degrau da escadaria branca. A adrenalina voltou a correr em suas veias. E se ele tiver percebido? E se ele descobriu quem eu sou? Bella já havia descoberto meu segredo. Por que, então, ele não me reconheceria? Dúvidas invadiram sua tempestuosa mente. Afinal, como entrarei na sala sem que ninguém saiba? Ela tinha que ter um plano. Mas o que faria? Com a mente acelerada e o coração batendo forte, questionou-se por alguns minutos, antes de entrar em definitivo no baile de máscaras.

Bárbara Kristina Generoso Cotta Lopes é natural de Governador Valadares, mas cresceu em Itabirito, local que ama e considera como sua cidade. Cercada por livros desde pequena, já havia se manifestado artisticamente no teatro e no balé, contudo, com a chegada de desafios, novos caminhos foram descobertos, o que fez com que entrasse de vez no mundo da literatura. Aos quinze anos começou a escrever, e aos dezoito publicou seu primeiro livro, “Os Sentimentos das Sombras”, o que a deixou apaixonada por essa área. Agora com vinte anos, possui dois livros publicados, além de grandes expectativas para o futuro.