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Porque A Arte Somos Nós

John Green é a mente e o artista por detrás de uma obra de sucesso mundial: “A Culpa É das Estrelas” (The fault in our stars). Este romance que brinca com as nossas emoções ao longo das páginas, conta-nos a história de Hazel Grace Lencaster, uma doente terminal de cancro, cuja vida leva uma volta interessante quando conhece o jovem Augustus Waters, agora em remissão da doença, integrante num grupo de apoio a jovens que sofrem ou sofreram da mesma. Hazel nunca conheceu outra vida senão a de doente e, por isso, sempre foi uma rapariga extremamente reservada e dedicada apenas aos seus pais e ao seu livro favorito “Uma aflição imperial”, de Peter Van Houten.

A genialidade deste livro está, sem dúvida, no facto de nos deixar com o coração nas mãos e as emoções à flor da pele. Não é uma simples história de amor, mas antes uma grande reflexão interior que balanceia entre a vida e a morte. A vida de Hazel nunca foi muito emocionante – exceptuando as idas ao hospital que eram emocionantes a nível de pânico – e a chegada de Augustus veio trazer-lhe o que ela precisava: uma vida digna de viver (dentro das limitações de ambos).

Para além de ser uma obra que aposta muito nas emoções e nos sentimentos, é ainda um grande ensaio filosófico sobre as questões que todos nós nos devíamos interrogar sobre a vida: se seremos recordados; se a nossa existência deixará um marco no mundo ou se somos apenas uma mancha neste caos que é o universo. Justamente por causa da doença e do que ela exige de alguém e da sua família é que os jovens protagonistas se debatem tanto com as questões existenciais, o que permite que estas personagens sejam elevadas a um plano de superioridade emocional e psicológica.

A história tem um ritmo muito interessante, na medida em que nos vai encaminhando numa felicidade crescente – sempre perspetivando a felicidade máxima – até que chega a altura em que pensávamos que tudo estava no seu devido lugar e o autor tira-nos o tapete do chão, sendo o leitor atacado pela brutalidade do mundo real. O que faz de John Green um grande escritor é precisamente a aposta que o autor faz em histórias reais e não em histórias propriamente felizes.

O escritor John Green

Tudo isso faz do livro uma obra muito crua, muito real e muito brutal a ponto de brincar com o brilhante e o trágico, o perspicaz e o comovente e, mais uma vez, com a vida e com a morte. Estes dois últimos conceitos são particularmente importantes, uma vez que são os principais pilares de quem lida com o cancro.

Desde a viagem a Amesterdão, conhecer o seu autor predileto e encontrar o amor da sua vida, Hazel Grace nunca foi tão feliz e nunca se sentiu tão completa. O final trágico já estava escrito nas estrelas, mas o pequeno infinito partilhado por duas pessoas sem nada – e ao mesmo tempo com tudo – a perder, foi o suficiente para ecoar por todas as vidas que os rodeavam.

Entre 0 e 1 existem números infinitos. Existe o 0,1 e o 0,12 e o 0,112 e uma série infinita de outros. Claro está que existe um maior conjunto infinito de números entre 0 e 2, ou entre 0 e um milhão. Algumas infinidades são maiores do que outras. (…) Quero mais números do que é provável que tenha, e, oh Deus, quero mais números para o Augustus Waters do que os que ele tem. Mas Gus, meu amor, não te consigo dizer como estou grata pela nossa pequena infinidade.”

É uma obra muito fluída e digna de ser devorada e saboreada ao mesmo tempo. No entanto, uma vez apanhados na teia que é a tragédia de se estar vivo, não podemos largar este livro nunca mais. Mesmo assim, nos últimos capítulos já estamos tão embrenhados neste enredo que nada mais importa; somos apanhados no universo deste pequeno infinito e acabamos por viver a dor, a mágoa e a saudade como se estivéssemos dentro das próprias palavras e do próprio livro.

Augustus Waters temia não ser relembrado e Hazel Grace dizia que o esquecimento é inevitável, mas uma coisa que posso garantir, é que a infinidade destas duas personagens e deste livro arrebatador nunca cairão no esquecimento enquanto viverem nos nossos corações.

Lorena Moreira

Rating: 4 out of 4.

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