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Lançado no mês de março, “Orgônio” é o álbum de estreia do actor, compositor e músico natural de Vila do Conde, André Júlio Turquesa. Um esforço a solo depois de passagens em bandas de garagem como People of the Band e Nirvana (não a do Kurt Cobain). Tal como o seu talento, as suas influências são diversas, viajando desde o folk do britânico Nick Drake até à música erudita do lendário compositor russo Dmitri Shostakovich, destacando também a influência do trabalho de Rodrigo Amarante intitulado “CAVALO”.

O disco conta com a participação dos músicos João Hasselberg, Ricardo Coelho, Emmy Curl, José Aníbal Beirão, entre outros, sendo André Júlio quem toma as rédeas em vários instrumentos, principalmente nas guitarras e no piano. Na parte lírica, algumas composições têm a contribuição de poemas da autoria de Valter Hugo Mãe e Miguel Bonneville.

No decorrer das dez faixas, passamos por várias paisagens, sonoridades, e até línguas. “Orgônio” é um raro exemplo de multi-linguagem presente num álbum, pois André Júlio tanto canta em português, como em inglês ou francês. Um detalhe que funciona às mil maravilhas, André Júlio dá à canção a pronuncia que esta pede.

Como quem não está à espera, Release the Fire incendeia os ingénuos ouvidos com as suas flamas tribais. A um ritmo ritualesco a canção cresce, as vozes multiplicam-se, o piano entra, e tudo culmina num hipnótico clímax. Disto passamos para uma viagem divertida em Ninguém, uma faixa com um ótimo trabalho na guitarra acústica e nas vozes. De realçar as harmonias vocais e o quasi-beatbox de André Júlio nesta última canção, tal como a presença do glockenspiel. O single do álbum, Super-herói, é dominado pelo piano e por algumas sonoridades jazz a um ritmo de valsa.

André Júlio Turquesa no videoclip do single Super-herói

De fazer lembrar a guitarra bottleneck de Ry Cooder no filme “Paris, Texas” (1984), It’s fine the end é uma canção meditativa com algumas influências blues e folk. Em O pescador, é fácil imaginar André Júlio sozinho no seu barco em pleno alto mar a cantar à capella um belo poema. Seguido de Grandpa’s love story, onde uma calma atmosfera nos envolve com a guitarra acústica e o ocasional sintetizador até nos fazer acordar com a entrada das percussões. Nas últimas duas canções, viajamos até França com Tout cher, petit être, cheia de sonoridades parisienses, e Se battre, a balada que fecha o disco.

Em suma, “Orgônio” é uma lufada de ar fresco na música em Portugal. Não só pela experimentação presente no disco, mas também pelas várias facetas que André Júlio Turquesa encarna ao longo das canções. No fundo, é como uma peça de teatro com várias personagens em que André Júlio é o único ator e encenador.

Na promoção deste seu último trabalho, o artista apresenta-se ao vivo com uma banda de luxo formada por João Hasselberg no contrabaixo, Ricardo Coelho na percussão e bateria, Laura Felício nos teclados, synths e voz, Catarina Valadas na flauta e voz, e ainda Sara Yasmine na voz e percussão.

João Filipe

Rating: 3 out of 4.

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