“Como é que a tua vida pode ser melhor com menos?” É esta a pergunta que serve de mote ao documentário “Minimalism: A Documentary About the Important Things” (2015). Após algumas vicissitudes nas suas vidas, e até mesmo depois de um sucesso de carreira bastante apreciável quanto ao lado financeiro diz respeito, dois jovens e amigos, Ryan Nicodemus e Joshua Fields Millburn, depararam-se com uma nova visão/estilo de vida, segundo a qual o dito cliché “menos é mais” se aplica na perfeição. Basicamente, sofreram uma epifania intelectual, que lhes abriu os olhos – e a alma – para uma filosofia chamada de Minimalismo.
Para eles, a essência dos bens materiais está em cada um ter um propósito intrínseco para a nossa vida, e na sociedade actual, onde vemos que o que reina é o desperdício e a atitude de consumo excessivo, em que nós, em vez de acrescentarmos valor à nossa vida, estamos a aprofundar cada vez mais o vazio que reina dentro de nós; o vazio de que a nossa própria vida não nos fascina, e por isso temos de ‘compensar’ com um consumismo extremo, quase sempre motivado pela pressão da sociedade per si, que infelizmente dita aquilo que é reconhecido como uma vida boa ou uma vida má.

Deste modo, estes dois rapazes tentam mostrar, ao longo de todo o documentário, que para eles as aparências não interessam, e que mais vale ter uma vida simples e verdadeira, do que um acumular de experiências sem grande cerne valorativo. Uma das grandes riquezas desta produção é que os testemunhos são muito mais abrangentes do que simplesmente estes dois amigos, focando também a sua mensagem em opiniões gerais, de pessoas que adoptaram também um pouco este estilo de vida.
Desde casas mais pequenas (para optimizar o espaço e o conforto inerente), a doar metade da roupa que se tem e que quase não se usa, há pequenos gestos que podem ter no nosso dia-a-dia e que farão toda a diferença no nosso futuro. Esta é uma das mensagens chave deste que é, acima de tudo, e bem, um documentário filosófico na sua forma mais pura.
À medida que a acção se vai desenrolando, Ryan e Joshua vão espalhando a sua palavra através de participações em palestras, programas de rádio e televisão, e algo que vem ao de cima, também, é a humildade com que eles aceitam um auditório por vezes reduzido, em que a mais pequena sinceridade é um conforto bem mais edificante do que o número de ouvintes ou espectadores.
Nesse prisma, pode-se até fazer o paralelismo com umas breves palavras de Saramago, que uma vez estava a apresentar um livro e disse: “Muito obrigado por estar aqui tanta gente. Mas eu ficaria na mesma feliz e agradecido se fossem só dois ou três. Isto porque a vida não me ensinou a distinguir quantidades, mas sim a distinguir qualidades“. Eu penso que esta seja, igualmente, uma das ideias mais fortes de todo o documentário.

Além disso, não se pode deixar de enaltecer a realização de Matt D’Avella, totalmente capaz de transpor, através da câmara, a pureza, simplicidade e genuinidade de cada personagem, imortalizando as suas visões, mas acima de tudo permitindo ao espectador viajar com o conceito (imaterial) inerente a este documentário, questionando-nos a nós próprios, eliminando preconceitos e fugindo de pensamentos depressivos, permitindo-nos a nós sermos precisamente o que somos, e gostarmos disso.
Para contrair a complexidade humana, “Minimalism: A Documentary About the Important Things” mostra-nos que, para nos agarrarmos ao essencial, muitas vezes é preciso deixarmos ir o que já não nos faz falta, multiplicando e objectivando aquilo que realmente queremos para nós, para a nossa vida, para o nosso futuro. Porque o Minimalismo começa, lá está, com pequenos gestos.
Por um cinema feliz.