“A Star Is Born”, ou em português “Assim Nasce Uma Estrela“, é admirável em diversos aspetos. Não só apresenta Lady Gaga como uma presença relevante no grande ecrã, como também marca a estreia do ator Bradley Cooper no cargo de realizador e co-argumentista. Além do mais, quebra o paradigma vigente de remakes que ficam aquém dos filmes originais. Sendo este o quarto remake da mesma história (uma nos anos 30, outra nos anos 50 e outra nos anos 70), pode afirmar-se que existe um “A Star Is Born” para cada geração. Estamos bem servidos.
A ajudar Cooper no argumento estão Will Fetters, experiente na escrita de romances, e Eric Roth, responsável pelo argumento de filmes como “Forrest Gump” (1994) e “O Estranho Caso de Benjamin Button” (2008). A história que contam é a de Jack (Bradley Cooper), um músico de rock famoso que está no fim de carreira porque simplesmente não consegue deixar de beber. Uma noite, depois de um concerto, decide ir a um bar. Lá encontra Ally (Lady Gaga), em plena performance, e fica deslumbrado. Talentosos e enamorados, o casal enfrenta uma série de dificuldades relacionadas com a gestão das suas carreiras e com os vícios de Jack, à medida que Ally ascende e o seu companheiro começa a ficar para trás.

A história preferida de Hollywood começa em grande. Os primeiros trinta minutos estão recheados de emoções e momentos de destaque. Quando Jack sussurra no ouvido de Ally “tudo o que tens de fazer é confiar em mim“, estamos perante uma frase que ecoa também a confiança que Cooper demonstra enquanto realizador. Com preferência por planos médios, close-ups e close-ups extremos, o cineasta deixa claro o estilo que pretende para este romance, aproximando a audiência dos sentimentos das personagens.
É uma responsabilidade acrescida para os atores. Mas ninguém parece preocupado com isso. Cooper, desde a primeira cena, vende o papel de estrela de rock problemática, um misto de Keith Urban com Johnny Cash. Igualmente bem está Lady Gaga, que despida da sua persona do mundo pop, interpreta uma rapariga simples com um tremendo potencial na indústria da música. Sam Elliott, ao encarnar o irmão mais velho de Jack, alcança uma performance subtil e acabou por estar entre os nomeados nos Óscares de 2019, na categoria de Melhor Ator Secundário – tendo perdido para Mahershala Ali em “Green Book – Um Guia Para a Vida“.

As músicas, que são o coração do filme, avançam uma narrativa que está repleta de comentários sobre a perseverança dos sonhos, a forma como as aparências condicionam a pessoa e como o peso dos ressentimentos pode ser demasiado para tolerar. Músicas como a entusiasmante Black Eyes, a tocante I’ll Never Love Again e a poderosa Shallow são uma amostra tremenda de uma banda sonora para ouvir e repetir.
A obra tem alguns problemas de ritmo no segundo ato, e há certos momentos apressados e pouco orgânicos. Males menores num filme que provoca calafrios desde o primeiro momento. Com tanto em jogo, “A Star Is Born” não é menos do que um verdadeiro triunfo. Uma comovente surpresa, Mr. Cooper.
Vá, tenho de ir ouvir a Shallow mais umas quantas vezes, até à próxima.