Todos conhecemos a história: Bella Swan, uma jovem tímida, mas com uma mente tenaz muda-se para a pequena cidade de Forks, onde viverá com o pai. Neste estranho sítio, conhece Edward Cullen, o seu companheiro de mesa nas aulas de Biologia e um mistério ambulante. Este romance juvenil escaldante conta-nos a história do amor que surge entre uma mera humana e um vampiro apanhado na teia dos próprios sentimentos.
A verdade é que, apesar de esta história ser universalmente conhecida e a obra de Stephenie Meyer ser um bestseller, a saga cinematográfica que se seguiu foi altamente criticada e até ridicularizada. Desde as reações e expressões faciais da nossa Bella (Kristen Stewart) até aos aspetos vampirescos improváveis de Edward (Robert Pattinson), a saga tornou-se alvo de sátira e a beleza poética dos livros foi esquecida – ou simplesmente ignorada – pela maioria do público.
Meyer navega pelos sentimentos hiperbólicos e repentinos que o primeiro grande amor nos traz e leva-nos numa viagem pelos pensamentos da jovem protagonista, que vai mergulhando cada vez mais nas profundezas enigmáticas de Edward. Mas se esta história de amor intenso é tão bem retratada no livro, o que aconteceu no filme?

Primeira e pessoalmente, diria que o maior problema da película é a inexperiência dos atores principais que não souberam encarar as suas personagens na plenitude. No entanto, o maior problema não reside aqui, mas sim no facto de o livro ser uma espécie de diário mental dos estados emocionais de Bella que, a meu ver, são muito difíceis de transparecer para a realidade dado a sua natureza transcendente. Portanto, é importantíssimo ler os livros para melhor compreender o que falhou ou faltou nos filmes e ter em conta que há coisas na vida que se passam numa realidade que ultrapassa mesmo as nossas capacidades intelectuais e físicas, e é a isso chamamos de amor.
Focando agora apenas no livro, é de louvar a capacidade que a escrita de Meyer tem, de uma forma quase impercetível, nos transportar subtilmente para aqueles sentimentos que todos recordamos do nosso primeiro amor. De uma forma ou de outra, apesar de estarmos perante um amor entre criaturas de mundos diferentes, a história pode se tornar num espelho daquilo que nós mesmos sentimos outrora ou sentimos no momento.
Em termos descritivos o livro é extraordinário. O pequeno prado de flores selvagens, guardado pelo sol no meio de uma das cidades mais chuvosas do estado de Washington, é o refúgio perfeito para esta história de amor impossível. Para além de cenários, a forma como Bella descreve a sua alma gémea é arrebatadora, no mínimo. Edward, o nosso vampiro de pele branca e forte feita mármore, dotado de um olhar fulminante penetrador de almas e com uma essência diabólica de sonho.

Esta viagem emocional é escrita numa linguagem muito fluente e tranquila que nos eleva a um plano angelical e perigoso num duelo entre o amor e a segurança. O protagonista, um herói que se julga o vilão, tem a sua própria luta interior em que o amor que sente tem de ser mais forte do que o desejo que rege toda a sua vida. Stephenie Meyer consegue cativar os leitores nesta espiral romântica e sentimo-nos quase obrigados a virar a página cada vez mais depressa e a correr para o dispositivo mais próximo e encomendar o livro seguinte desta saga inesquecível.
É um livro que fica para a vida – assim como o nosso primeiro amor – , mas a palavra-chave aqui não é só o amor, é também a união inquebrável entre duas almas que ao fim de muito tempo se encontram e se completam num grito que ecoa suavemente até ao fim dos tempos.