Após o sucesso arrebatador obtido pelo primeiro filme, eis que somos brindados, no ano seguinte, com o novo capítulo desta saga épica, “Harry Potter and the Chamber of Secrets” (“Harry Potter e a Câmara dos Segredos“). Nesta segunda adaptação cinematográfica da obra elaborada quatro anos antes, J.K. Rowling juntou-se novamente ao cineasta Chris Columbus, pelo que o filme apresenta algumas semelhanças com o seu antecessor, algo que seria diferente na terceira película, com a introdução de um novo realizador.
A história inicia-se após o término do primeiro ano de Harry (Daniel Radcliffe) na escola de magia e feitiçaria de Hogwarts, com o rapaz de volta a casa dos Dursleys, onde recebeu a visita de Dobby (voz de Toby Jones), um elfo doméstico que veio alertar o jovem feiticeiro sobre uma conspiração e terríveis perigos que o esperavam, caso este decidisse regressar à escola. Perante a intransigência de Harry em aceder ao seu pedido, o elfo tentou, de formas distintas, fazer com que o rapaz não conseguisse regressar.
Uma delas foi bloquear a passagem de Harry e Ron Weasley (Rupert Grint) pela barreira que dividia as plataformas 9 e 10, levando-os a utilizar o carro voador do pai de Ron, Arthur Weasley (Mark Williams), para conseguirem chegar a Hogwarts. O automóvel foi criado a partir de um Ford Anglia, de 1962. Após um primeiro dia bastante atribulado, a seu tempo, as coisas pareciam estar um pouco mais calmas. A principal novidade parecia deparar-se com Gilderoy Lockhart (Kenneth Branagh), o novo professor de defesa contra as artes das trevas, mas cuja estadia no cargo não seria mais longa do que a do seu antecessor, algo bastante previsível, dada a sua perca habilidade no que à magia se refere.

Com o passar do ano, o motivo para a preocupação de Dobby foi-se materializando, com os três amigos a encontrarem uma inscrição a sangue que dizia: “A Câmara dos Segredos foi aberta. Inimigos do herdeiro, tenham cuidado”. A partir daí, o foco da narrativa centrou-se em tentar perceber quem era o herdeiro de Slytherin, assim como o monstro responsável pelos horrores cometidos. O facto de falar serpentês, fez de Harry um potencial suspeito.
Mais tarde, após alguma investigação, os três amigos ficaram a saber que 50 anos antes a Câmara havia sido aberta, e isso tinha resultado na morte de um “sangue de lama”, designação de conotação depreciativa para um feiticeiro filho de pais muggles (não-mágicos), como é o caso de Hermione Granger (Emma Watson). Num desenvolvimento algo interessante, Harry acabaria por ter na sua posse um livro peculiar: o diário de Tom Riddle (Christian Coulson), que acabaria por ter um papel importante no final da narrativa.
Após um encontro com a aranha gigante Aragog (voz de Julian Glover), onde por pouco escaparam com vida, os dois rapazes descobriram que a rapariga que tinha sido morta 50 anos antes, havia sido encontrada na casa-de-banho. O auxílio de Hermione viria sobre a forma de papel, que o jovem Potter encontrou escondido na sua mão, e que em conjunto com as outras informações que possuíam, os fez perceber que a criatura que estava a atacar os alunos era um Basilisco, capaz de matar através do olhar.
Pouco depois de Ginny Weasley (Bonnie Wright), irmã mais nova de Ron, ser levada para a Câmara dos Segredos, e Harry e Ron chegam à conclusão de que a aluna morta há meio século deveria ser a “murta-queixosa” (Shirley Henderson). Após um incidente que o separou de Ron, Harry encontra Ginny na Câmara dos Segredos, tendo sido surpreendido por Tom Riddle, que confessou ter utilizado o diário (onde preservou os seus 16 anos) para induzir a irmã de Ron, sem esta se aperceber.
Tom Marvolo Riddle, depois de realizar um gesto com a varinha, fez as letras reagruparam-se de forma diferente (“I am Lord Voldemort“), revelando assim a sua verdadeira identidade. No fim, mais uma vez, acabou derrotado pelo jovem feiticeiro que destruiu o diário e salvou Ginny Weasley.

Tal como o seu antecessor, esta película também teve no Reino Unido o local eleito para as suas filmagens, sendo que desta feita destaco os claustros da Catedral de Gloucester, em Inglaterra, que foi um dos cenários utilizados para representar os corredores de Hogwarts. Também uma menção à “toca”, casa da família Weasley, que foi construída nas imediações dos estúdios Leavesden, perto da cidade de Watford.
Relativamente aos aspectos positivos desta película, podemos destacar, à semelhança do seu antecessor, mais uma vez, os efeitos visuais, nomeadamente no que diz respeito à tecnologia para representar não só Dobby, mas também Aragog e a fénix Fawkes. A cenografia também é digna de menção, com destaque para as cenas na Câmara dos Segredos que, em termos de tamanho, foi o maior cenário criado para a série, sendo que, outros espaços como o incrível salão de Hogwarts, não chegam sequer perto do seu tamanho.
Nota muito positiva para o design de som, com ênfase para as mandrágoras e o basilisco, pois está muito bem trabalhado, e não esquecendo a banda sonora que, novamente, é da autoria de John Williams e supera todas as expectativas.
Conseguimos também observar um maior desenvolvimento e maturidade dos personagens mais jovens, que mantêm a sua curiosidade e capacidade para atraírem sarilhos – algo que seria uma constante ao longo de toda a saga. Para além disso, o filme apresenta também uma componente mais sombria e dramática do que a história anterior, acabando também por transmitir novas características e expandir a visão acerca deste universo criado por J.K. Rowling.

Por outro lado, existe uma cena sem grande sentido, e onde podemos criticar os guionistas, já que, praticamente no final do filme, Lucius Malfoy (Jason Isaacs) tenta lançar um feitiço Avada Kedavra a Harry Potter no corredor, mesmo nas ‘barbas’ do gabinete de Dumbledore, antes de ser impedido pelo seu antigo elfo, e agora livre Dobby. O facto do pai de Draco Malfoy, sabendo plenamente onde se encontrava, arriscar algo desse género, é algo que acaba por não fazer qualquer sentido, e que não se encontra no livro.
Existem algumas curiosidades a destacar sobre este filme, em primeiro lugar, e, juntamente com “Harry Potter e a Ordem da Fénix“, foram os únicos dois filmes da saga que não foram nomeados para os Óscares, algo injusto se considerarmos a qualidade desta narrativa, mas nem tanto relativamente à “Ordem da Fénix”. Em segundo lugar, e apesar de ter sido bem-sucedido nas bilheteiras, onde obteve cerca de 880 milhões, este capítulo da saga não conseguiu chegar aos valores obtidos no primeiro filme.
Concluo, com mais três curiosidades sobre os atores: Rupert Grint tem aracnofobia, tal como a personagem que este interpreta, Ron Weasley. ‘Murta Queixosa’, uma personagem adolescente, foi interpretada por Shirley Henderson, uma atriz já perto dos 37 anos quando o filme foi lançado. Para terminar, Hugh Grant foi a escolha inicial para interpretar Gilderoy Lockhart, mas tal não foi possível devido a conflitos de calendário, pelo que, o papel acabaria por ser desempenhado por Kenneth Branagh.