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Porque A Arte Somos Nós

“The Social Network” (2010) — em português, “A Rede Social” — é um filme sobretudo de carácter biográfico, mas consegue ser muito mais que um mero documentário de Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook. Através de uma interpretação exímia por parte de Jesse Eisenberg — conhecido por filmes como a antologia “Mestres da Ilusão” (2013-2016) e “Café Society” (2016) —, o filme capta-nos a atenção, convida-nos a entrar na mente obsessiva e, contudo, genial, de alguém que revolucionou a forma como nos conectamos, entendendo exactamente aquilo que de forma invisível a sua geração estava a precisar.

Em início deste século, as pessoas iam demonstrando uma vontade, mas acima de tudo, necessidade, de conseguirem estar ligadas, a toda a hora, a todo o momento. Não importa se a ligação que se estabelece tem falhas e não se foca no essencial do contacto físico: o que importa é “estar ligado” e ser o primeiro a saber.

Mark estudava em Harvard, a universidade onde todos inventavam alguma coisa, e certa noite, mesmo depois de a namorada ter rompido com o relacionamento entre eles, decidiu, irreflectidamente e “porque sim”, criar um site onde se votavam nas raparigas mais bonitas da universidade, tendo Mark para tal que aceder às fotografias, associando-as ao nome da rapariga, através de um hack impressionante e extremamente bem dotado. Acontece que a Internet da Universidade, quase que instantaneamente, teve uma quebra por demasiados acessos precisamente ao site em questão.

Rooney Mara e Jesse Eisenberg

Isto foi algo que chamou a atenção de dois alunos em particular, os gémeos Winklevoss (Cameron e Tyler), que convidaram Mark para desenvolver a ideia de criar, precisamente, um site ao estilo do Facebook, em que se pudesse, exactamente, entrar numa conexão contínua com pessoas próximas, ou não necessariamente próximas, mas somente entre pessoas da Universidade, chamado HarvardConnection.

Assim sendo, Mark aceita a proposta, mas já com uma ideia obscura no ar: a de criar o Facebook tal qual o conhecemos, nas costas dos dois irmãos e empatando tempo que deveria ser de trabalho para o site que lhe solicitaram, enquanto criava, estudava e escrevia o código do Facebook. Passado um mês e pouco, a rede social já estava lançada e os irmãos vieram a descobrir e decidiram, após visitas ao reitor da universidade e tentativas de contacto com Mark, abrir um processo em tribunal.

Por outro lado, importa frisar, que Mark para conseguir criar o Facebook precisou de meios, de uma equipa bem audaz e criativa, e tudo isso só foi possível com o investimento do seu melhor amigo, Eduardo Saverin — interpretação de Andrew Garfield, conhecido por papéis como na
antologia “O Fantástico Homem-Aranha” (2012-2014) e em “O Herói de Hacksaw Ridge” (2016) —, que ficou como director financeiro do projecto, em busca de, portanto, financiar tudo o que fosse necessário, ir em busca de patrocinadores e descobrir a melhor maneira do site começar a render dinheiro.

No entanto, e é aí que temos o segundo “golpe” de Mark, uma vez que Eduardo tinha uma visão muito redutora do alcance do projecto, tinha medo de arriscar e investia em sugestões banais, como publicidade paga (algo que ia estragar o carácter e apanágio “cool” da rede social).

“The Social Network”

Mark decide arranjar outro investidor, Sean Parker — interpretado pelo cantor Justin Timberlake, também conhecido pela participação em “Amigos Coloridos” (2011) —, que foi fundador da Napster, uma app que permitia ouvir música de graça, ao estilo de Spotify. A verdade é que Sean veio dar, precisamente, a dinâmica empresarial e a visão que Mark precisava. Por isso, Mark consegue tramar Eduardo, que também o processa em tribunal.

Todo este filme vai contando esta história, ao mesmo tempo que os dois processos se vão desenrolando, algo que dá uma dinâmica temporal muito interessante e um ritmo quase frenético. Sob a batuta do cineasta David Fincher — conhecido por dirigir filmes como “Em Parte Incerta” (2014) e “Seven – 7 Pecados Mortais” (1995) —, este filme tem sempre uma ilusória constância narrativa, que é controlada com, concretamente, um ritmo, uma dinâmica que faz o filme “passar a correr” e, quando damos por ela, a experiência acaba.

Acho que essa é uma das mais fortes características deste realizador: não faz filmes para “encher chouriços”, como se costuma dizer, isto é, todas as cenas, enquanto uno, fazem sentido e conectam os pontos soltos.

De realçar também o argumento adaptado por Aaron Sorkin, do livro de Ben Mezrich, “The Accidental Billionaires” (2009), que foi galardoado com, precisamente, o Óscar de Melhor Argumento Adaptado em 2011. Além disso, o Score e o Editing também mereceram galardões e são, sem dúvida, das coisas mais atmosfericamente tranquilizantes e bem conseguidas em toda a obra.

Nesta película temos, no fundo, a homenagem a um génio, ao bilionário mais jovem do mundo e de sempre, que no meio de tamanha sabedoria, sabia que tinha de ir descartando pessoas que o atrasassem no seu projecto, que não tivessem a mesma visão que ele e, para isso, não olhou a meios, ou à falta escrúpulos, para chegar ao seu precioso fim.

Eis um filme elegante, necessariamente intelectual, mas que, no meio da sua constância, encontra uma bonita epígrafe:

“Há uma diferença entre obsessão e motivação”


Mark Zuckerberg

Por um cinema feliz.

Tiago Ferreira

Rating: 3 out of 4.

IMDB

Rotten Tomatoes

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