Hans Rudolf Giger, nascido em 5 de Fevereiro de 1940 em Chur, comuna da Suíça, ficou mais conhecido através da sua participação no filme de ficção-cientifica de 1978-79 “Alien – O 8.º Passageiro“, realizado por Ridley Scott, e que lhe premiou com um Óscar pela criação da figura do Alien. Giger foi o único responsável por todo o cenário de fantasia dentro do filme, e teve de desenhar o planeta desconhecido, o destroço da nave espacial alienígena e seu interior, como também o assim chamado “Egg Silo” (também conhecido como pirâmide), e os diferentes tipos de criaturas alienígenas.
Os primeiros esboços de criaturas alienígenas que Giger tinha imaginado emergiram do seu pessoal mundo visual, ao qual ele próprio intitulou de “Bio-Mecânico”. A ideia original para a abertura do ovo era uma espécie de fenda elástica maneável, mas a produção sentiu que esta ideia era muito “diretamente sugestiva” para os órgãos sexuais femininos, e preocuparam-se com possíveis censuras em países católicos.
O design feito para o pequeno monstro alienígena chamado de “Facehugger”, que está à espera dentro do ovo para ser despertado do seu sono de beleza pelo toque mais leve da mão do astronauta. Este salta até ao seu rosto, comendo inclusive o capacete e assentando no rosto da vítima, a fim de depositar no seu interior a sua horrível semente.

Tendo sido um designer industrial profissional, significava imenso para Giger ter um design que mostrasse o seu simbolismo, como também o seu aspeto funcional. A equipa chegou à conclusão que uma criatura sem olhos e movido por instinto, sozinho, seria muito mais assustador. É por isso que Giger pintou uma segunda versão para o Alien, esse sem olhos.
A obra de Giger é geralmente referida como “Bio-Mecanoide”, que consiste na combinação do mecânico e do biológico. Enquanto indivíduos tornamo-nos tão emaranhados com este mundo dependente de máquinas que, de certo modo, nos tornamos vítimas. Esse é um dos aspetos que encontramos na sua arte. Também pudemos encontrar muitas imagens agressivas na sua arte, esse é outro aspeto do seu protesto contra a super-população com todos os seus efeitos colaterais terríveis como epidemias, histeria em massa, fome e destruição total do ambiente.
E naturalmente um monte de simbolismo sexual. Mais uma vez, especialmente desde 1960, podemos observar uma libertação enorme dos impulsos sexuais, tanto no sentido positivo e negativo. Uma espécie de liberdade sexual da geração jovem, casamento aberto, libertação gay, etc.

A obra de H.R. Giger relembra momentos passados na companhia de filmes surrealistas do início do século XX, como “Um Cão Andaluz” (1929) e “Vampiro” (1932). A visão de Giger enfatiza os elementos dolorosos do subconsciente com uma união inseparável com o presente, como o conhecemos e a antecipação de experiências futuras.
Estes artistas visionários nunca recorrem ao diálogo. A sua língua não consegue descrever processos que sejam bioquímicos, neurobiológicos, “pós-terrestres” – termo usado para descrever esses visionários como Giger, que vêem demais e superam o estado humano. A natureza humana deve ser apresentada visualmente em pinturas, diagramas, esboços, o que nos dá contacto visual com o que existe antes e além dos limites da nossa consciência.
Salvador Dalí, Ernst Fuchs, Vincent Castiglia, Hieronymous Bosch, Francis Bacon, são outros artistas visionários, que exploram a natureza humana e revelam o seu subconsciente. Inevitavelmente, tais pinturas chocam, perturbam e irritam pessoas que não estão preparadas para lidar com a dura realidade da vida exposta com transparência.


Esses artistas, tal como o H.R. Giger, costumam ser censurados, ignorados, ou até presos, porque são muito reveladores para serem tolerados. O facto de H.R. Giger dividir e estabelecer uma cena de arte fundida com a cultura popular & rock deve-se também à dinâmica particular desses campos.
H.R. Giger é um artista que funde sexo, ficção científica e sangue. E então forma as tais ligações com a cultura popular & rock, e fornece arte para diversas bandas como Emersom, Lake & Palmer (“Brain Salad Surgery”, 1973), Dead Kennedys (“Frankenchrist”, 1985), Celtic Frost (“To Mega Therion”, 1985), Triptykon (“Eparistera Daimones” e “Melana Chasmata”, 2010 e 2014), Floh de Cologne (“Mumien”, 1975) e Debbie Harry (“KooKoo”, 1981).


O artista acabou por trabalhar num filme de Hollywood – “Alien – O 8.º Passageiro“, abordado no início do texto – e tem imediatamente um enorme sucesso por todo o mundo. Contudo, o impulso dessa popularidade não se encaixa bem na estrutura da cena artística, pelo menos não no final de 1970. No entanto, a cena artística está estruturada de forma diferente hoje em dia, e a passagem do tempo suaviza certas fendas. Então, nas últimas duas décadas, foi possível que o suíço fizesse um retorno progressivo na cena artística.
Giger foi como um rebelde contra o que é considerado normal, alguém que faz alguma coisa ou está disposto a fazer algo que não se encaixa no convencional, convenções artísticas ou estruturas culturais, como o próprio expõe: “Poucas pessoas confiam em si mesmas para relacionar ou confiar nos seus sonhos, já que são inibidas de expressar publicamente seus pensamentos perversos.“
Foi esta ruptura com as convenções artísticas que lhe intensificaram a popularidade, conduzindo o artista à genialidade.