Estamos a falar de alguém que se recusa a assumir como “intelectual”, ainda que muitos o vejam assim. Conhecemos hoje em dia Pedro Mexia pelo seu papel como um dos ministros do “Governo Sombra”, programa que participa em conjunto Carlos Vaz Marques, João Miguel Tavares e Ricardo Araújo Pereira, mas este é muito mais do que isso.
Poeta, teve uma crise de fé no género, numa altura em que as pessoas achavam aquilo “só palavras”, mas não arredou pé de contribuir socialmente para elevar a cultura em Portugal, materializando esse desejo no cargo, que actualmente ocupa, de Consultor para a área de Cultura do Presidente da República. No entanto, afirma não ter qualquer ambição política, apesar de reunir algum consenso da direita à esquerda, o que para um conservador liberal é bastante lisonjeiro e paradigmático.
Numa entrevista dada ao jornal Observador, em 2018, Pedro Mexia admite que acompanhar o ritmo do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa “é muito difícil”, devido a um grande grau de imprevisibilidade. Quanto ao principal objectivo da sua função, Mexia afirma que, em conjunto com Marcelo, procuram que haja “uma atenção democraticamente distribuída pelas várias artes e pelas várias instituições”.
Moderado, cronista do jornal Expresso e licenciado em Direito, afirmou, numa entrevista, que o filme fiel à sua vida seria algo deste género: “um típico filme de vanguarda ucraniano, onde uma câmara entra por um corredor, detém-se de uma pessoa sentada à mesa a escrever, e fica ali cinco horas“.

Apesar do seu estatuto de nerd, vai a muitos concertos de pop/rock, e talvez exactamente pelo espanto que espoleta nas pessoas por esse seu hábito, critica aquelas que vivem na sua “caixinha” (ideológica e afins), “que entram em dissonância cognitiva” – palavras dele – quando vêm uma aresta (da sua “caixinha”, precisamente) por limar. Por isso, não suporta hippies, e para justificar a ideia anterior, diz que prefere o niilismo e a “agressão” (frontalidade) à hipocrisia.
Por outro lado, é defensor da ideia de que as redes sociais tornaram o ambiente (social e etc.) mais hostil, o que, na sua opinião, revela uma certa – ou talvez bastante – ingenuidade no espaço público, que tem uma opinião para tudo, mas nenhuma flexibilidade para mudar concepções. A respeito, concretamente, da música e dos concertos, ele aprecia a ideia de que “não é preciso saber música para ser músico“, pois “a «energia» e vontade é bem mais importante”.
Nesse prisma, diz que o conceito de ‘revolta’, uma ideia política por natureza, que busca combater uma sociedade fictícia e hipócrita, está quase sempre presente no género musical que mais aprecia. Todavia, decerto, sendo mais conservador que liberal, acredita – e luta contra a ideia redutora de – que “intelectual” não designa, como acontece no senso comum, as “pessoas que lêem livros”; intelectual, nas suas palavras, “é aquele que tem pensamento crítico próprio e que tem vontade de intervir politicamente de forma marcante“, demarcando-se, portanto, deste rótulo, através da definição mais formal.
Porém, diz que a política activa tem uma dimensão que o desagrada profundamente, relativamente à exposição mediática, sobretudo porque, actualmente, estamos inseridos numa classe deveras reivindicativa e, deste modo, “qualquer cargo político é quase um convite ao fracasso“. Desta forma, diz não ter interesse, vocação, nem perfil para representar politicamente o país.
Assim, o seu pensamento, na actualidade, surge como um dos bons – não ‘intelectuais’, para lhe fazer a vontade, mas – ‘pensadores’ (artísticos) do século, que sabe bem qual é o seu lugar no mundo, e é talvez precisamente por (e através d)isso que marca a diferença: olhando (para a realidade) fora da caixa, e escrevendo-se – elevando-se – a si mesmo no mundo.

Pedro Mexia publicou seis livros de poesia, antologiados em “Menos por Menos” (2011), a que se seguiu “Uma Vez Que Tudo se Perdeu” (2015) e a seleção pessoal de “Poemas Escolhidos” (2018). Editou também as colectâneas de crónicas “Primeira Pessoa” (2006), “Nada de Melancolia” (2008), “As Vidas dos Outros” (2010), “O Mundo dos Vivos (2012), “Cinemateca” (2013), “Biblioteca” (2015) e “Lá Fora” (2018, Grande Prémio de Crónica APE). Este já traduziu autores como Robert Bresson, Tom Stoppard, Hugo Williams e Martin Crimp, e integrou o júri do Prémio Camões em 2015 e 2016.