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Porque A Arte Somos Nós

Ricardo Araújo Pereira (RAP) nasceu a 28 de Abril de 1974. Estudou Comunicação Social, mas a comunicação que pratica é ligeiramente diferente. Conhecido pelo programa “Gato Fedorento” e suas sequelas, mas também cronista na revista Visão, este humorista nunca primou pela “exclusividade” ao não fazer projectos com regra e esquadro e estudos de mercado, mas isso abriu portas infinitas ao seu mundo (profissional e afins).

A inconsciência que motivou aquilo a que chamou “uma brincadeira de 4 amigos” (“Gato Fedorento”), um autêntico tiro no escuro, teve muito como influencia Herman José – que considera ser o maior artista do entretenimento português.

O seu percurso escolar e académico foi inteiramente realizado em instituições ligadas à Igreja Católica. Aos 23 anos, começou a trabalhar como jornalista a partir de um estágio no Jornal de Letras, Artes e Ideias e, posteriormente, na TVI, mas pouco tempo depois enveredou pela experiência na SIC Radical que o levou para a ribalta.

O humorista defendia que as pessoas não se riem de coisas boas e que as virtudes não têm graça – a não ser as em excesso: “Se o céu existir, não há riso lá“. Ricardo Araújo Pereira defende que “rir é um alívio, mas passageiro; é uma anestesia“, enaltecendo, precisamente a ideia de que o riso é um mau perder perante a nossa condição (mortalidade). Mas, o riso não é necessariamente alegria, pode ser muitas outras coisas.

Ricardo Araújo Pereira

Em 1997, Ricardo integrou a equipa de “Produções Fictícias” como guionista. Mas, durante todo o processo, e até hoje, sempre esteve habituado a críticas negativas, a desconfiar de si próprio, e isso para ele é auto-conhecimento. Por isso é que a força do hábito endurece o olhar, sobretudo no nosso mundo, onde nos é exigido que vejamos as coisas como elas são e não pelo que elas parecem (pensar pelo simples prazer de pensar).

Ricardo Araújo Pereira apresenta também a “Mixórdia de Temáticas” na Rádio Comercial e, actualmente, faz comentário político (e não só), no programa “Governo Sombra”, o painel de debate que começou na TSF, depois na TVI24 e atualmente na SIC, apresentado por Carlos Vaz Marques e com Pedro Mexia e João Miguel Tavares como comentadores.

Sketch “Matarruanos dão indicações” – Gato Fedorento
Ricardo Araújo Pereira no programa “Governo Sombra”

O humorista considera que a ideia de que “não se brinca com coisas sérias” não podia estar mais errada, porque é precisamente a tragédia que serve de fonte para tornar o mundo mais confortável, mas sem moralismos. O Homem é o único animal que ri, mas falamos do riso passageiro, não uma alegria contínua no tempo, mas uma continuidade de alegrias. Assim, a verdadeira arte do riso no humor não é cultivar a chamada felicidade (continuidade impossível pelo riso) mas ser constante nesses momentos de alegria, ser o que espoleta esse alívio para com a vida e para com a nossa condição de mortalidade.

Nesse aspecto, Ricardo Araújo Pereira veio revolucionar o humor em Portugal, talvez precisamente por conseguir ter os pés bem assentes na terra e nunca se mantendo à margem do politicamente correcto, nem tão pouco controverso. Isto porque, sendo Ricardo ateu, ele acredita que depois de morrermos “vamos precisamente para o lugar onde estávamos antes de nascer: lugar nenhum – que até é um sítio sossegado“. Portanto, para ele o humor ajuda, exactamente, a combater essa lucidez, mas ao mesmo tempo a compreendê-la.

RAP e o Presidente da Republica, Marcelo Rebelo de Sousa
RAP e a apresentadora Cristina Ferreira

Leitor compulsivo, culto, habituado a estar sozinho enquanto filho único, vê a liberdade como um conceito bastante sui generis, como o simplesmente estar sossegado, mas acima de tudo tem como objectivo para a sua vida, e para os seus, ser senhor de si mesmo, e ir sempre apreciando “o tempo”. Como orador de excelência, é inegável que ganhou o estatuto de melhor humorista da actualidade, mas, nos dias de hoje, surge como um pensador para ter em conta, mas nunca dissociando do seu eu o seu passado brilhante.

Não há nada de que eu goste mais do que palavras. Quase todas as minhas personagens contam uma história, não vivem uma história. Eu gosto mais de livros do que de cinema, por exemplo. Porque eu prefiro que me estejam a contar uma história do que estar a vê-la a desenrolar-se“.

Tiago Ferreira

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