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“King Kong”, lançado em 1970, é provavelmente o trabalho mais importante na carreira de Jean-Luc Ponty, pois é ao mesmo tempo o ponto de viragem que lhe deu mais visibilidade na cena mainstream do jazz, e a oportunidade de escapar das crescentes pressões para fazer música comercial. A fonte da descoberta de Ponty foi a admiração mútua que ele desenvolveu por Frank Zappa.

O primeiro via a música sofisticada de Zappa como uma séria alternativa à simplicidade convencional com a qual ele estava a experimentar, enquanto que a primeira coisa que o último fez depois de ouvir um disco de Ponty foi convidá-lo para tocar no mítico “Hot Rats”; Zappa estava muito interessado na mistura de antecedentes clássicos de Ponty e na sua capacidade de improvisar.

Basicamente, “King Kong” é uma continuação estética de “Hot Rats”, mas desta vez Zappa escreve e organiza as músicas, sendo que Ponty toca os principais temas e faz a maioria dos solos de violino elétrico com uma banda de apoio, composta por piano, baixo, bateria, e saxofone. Frank Zappa então devolve o favor ao tocar guitarra elétrica na única composição de Ponty, How Would You Like to Have a Head Like That.

As “seleções Zappa” são perfeitamente bem escolhidas: jazz e experimentação de vanguarda são igualmente representados (além de um pouco de diversão na forma de America Drinks and Goes Home, do álbum “Absolutely Free” e a faixa que encerra este “King Kong”).

O primeiro lado da obra é mais voltado para o jazz rock: contém King Kong, uma das melhores obras dos The Mothers of Invention – grupo que tocava com Frank Zappa – e a excelente faixa The Idiot Bastard Son, tirada das primeiras canções do disco “We’re Only In It For The Money”; contém também a maravilhosa Twenty Small Cigars, composta um pouco mais tarde em “Chunga’s Revenge”; e solos fantásticos de todos os envolvidos, especialmente George Duke nas teclas.

O segundo lado é um longo trabalho orquestral, intitulado Music for Violin and Low Budget Orchestra. As habilidades de Zappa em organizar e orquestrar são bem exibidas, e a peça inteira passa por cerca de 100 alterações e texturas diferentes ao longo dos 19 minutos. Apesar do “baixo orçamento”, ainda consegue notas para viola, violoncelo, baixo, piano, flauta, trompa, tuba, oboé, trompa inglesa, fagote e, claro, o violino elétrico de Ponty.

Jean-Luc Ponty

Em suma, “King Kong” é um álbum excelente com uma sonoridade idêntica a uma obra a solo de Frank Zappa, e definitivamente vale a pena ouvir. Este último escreveu as músicas e, se a memória não falha, até dirigiu. Além de tocar guitarra, este disco é o melhor exemplo da sua música mais séria, até ao seu trabalho totalmente inesquecível com a Ensemble Modern já perto do final da sua vida, em 1993.

De qualquer forma, embora os apreciadores de Ponty possam ficar a gostar, é realmente um álbum de Frank Zappa apenas de nome, e “King Kong” é muitas vezes esquecido pelos próprios fãs de jazz.

O interesse crescente pela sonoridade jazz de Miles Davis e John Coltrane, levou Ponty a aprender a tocar saxofone tenor. Numa noite após uma apresentação da orquestra da qual fazia parte, e ainda trazendo vestido o seu smoking, o músico tocou violino num clube local. Dentro de quatro anos, foi aclamado como a principal figura de jazz, no violino. Naquela época, Ponty teve uma carreira musical dúbia, ensaiando e tocando com a Orquestra Lamourex e também tocando jazz até às três da manhã em clubes parisienses.

Durante a sua carreira, Jean-Luc Ponty colaborou com vários artistas do mundo da música, como Al Di Meola, Elton John, John McLaughlin e até Jon Anderson, dos Yes.

João Filipe

Rating: 3 out of 4.

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