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Porque A Arte Somos Nós

No primeiro fim-de-semana do Festival Internacional de Cinema do Porto (Fantasporto) tive o privilégio de assistir a uma peça de excelência que, não só aplaudi de pé, assim como todos os espectadores presentes no Grande Auditório do Rivoli, e como os meus olhos raiaram de emoção convertida em lágrimas. “Bring Me Home” de Seung-woo Kim é um drama que nos eleva até a uma experiência cinematográfica que primazia o sentimento que provoca ao audiente e o uso de metáforas que são utilizadas para enfatizar a crítica. Crítica essa feita a uma sociedade corrupta que sobrepõe valores e princípios humanos básicos, como a posse de recursos fúteis.

A narrativa retrata a procura incessante de uma mãe por um filho, uma busca que simboliza, nada mais que um vínculo quebrado entre a figura materna e uma criança desaparecida. Uma realidade que assombra o dia-a-dia da sociedade coreana. Vencedor do Grande Prémio Orient Express do Fantas 40 anos, do Fantasporto, o que considero estar quase ao nível de uma obra-prima, “Bring Me Home”, aconchegou-me com uma metamorfose de sentimentos e um carrossel de emoções.

Honestamente, numa perspectiva mais técnica, este filme não presenteia algo de muito inovador, mas não creio também que fosse esse o objetivo da obra. O propósito final não era dar ao espectador uma película brilhante do ponto de vista técnico, pois acredito mesmo que, no final da noite, o alvo foi atingido e todos o conseguimos ver e sentir. Yeong-ae Lee já nos tinha habituado a prestações bastantes hábeis, e ao interpretar a personagem Jeong-yeon não só entrega ao público uma prestação notável, como o faz de maneira a cativar a emoção e a presentar-nos com a capacidade de sentirmos tudo aquilo que transparece da maneira mais realista possível.

Bring Me Home

Dentro de toda a infinidade daquilo que pode parecer uma colossal tragédia, e da junção de cenas que completam uma história cujo o final tem um sabor agridoce, há necessidade de criar uma fé, algo que possa transcender a força da circunstância e combater os desafios impostos por uma comunidade que despreza o valor de uma mãe em sofrimento.

A audiência é inundada por um mar de ansiedade, raiva e compaixão, sensações que afloram dentro de nós e escapam pela pele, terminando a sessão com o chamado “misto de emoções”. Penso que era mesmo esta a finalidade de se produzir uma obra assim e de escrever um argumento tão completo, erguer o espectador e deixá-lo a flutuar no decorrer do relato de um amor puro, e na perda desse mesmo amor.

É de sublinhar ainda a capacidade que este filme tem para abrir o apetite a quem quer pela primeira petiscar algum cinema vindo da Coreia do Sul. Está na moda, e ainda bem que assim o é.

Yeong-ae Lee

Quando me levantei da cadeira no final do filme e me senti rodeada por palmas rítmicas embebidas em algum sentimento menos bom, tive a sensação de ter compreendido algo que, até então ainda não tinha percebido. Quando é que vemos um bom filme? Enfim, acho que a resposta estaria ali, nos dois ou três minutos em que ninguém saiu da sala sem bater palmas, ou deixar escapar um suspiro. Talvez sim, talvez não, quiçá.

Maria Moura Baptista

Rating: 3 out of 4.

IMDB

Rotten Tomatoes

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