OBarrete

Porque A Arte Somos Nós

Creio que todos concordamos que estamos a passar por momentos especialmente difíceis nas nossas vidas. Apesar disso, devemos procurar manter a nossa mente sã praticando atividades benéficas para nós (de preferência na companhia de livros). Para além do que é do conhecimento de todos, tal como fazer exercício físico diariamente (dentro de casa, claro), fazer uma alimentação regrada, descansar bem, ver uns (bons) filmes, ouvir (boa) musica, etc.. O que vos trago hoje são algumas sugestões de leitura que, no meu entender, são apropriadas a uma reflexão que neste momento se impõe, pois de uma coisa não temos a mais pequena duvida: nada voltará a ser como antes!

A oferta de literatura é vasta e variada, pelo que é sempre discutível esta ou aquela escolha, ainda assim, assumo essa dificuldade e proponho cinco obras que me parecem ser interessantes para pensarmos um bocadinho, de diversas formas, claro. Aqui vai:

1.º “Oblomov”, Ivan Gontcharov (1859)

Esta é a obra mais conhecida deste autor russo, que além de ser sucessivamente publicada até aos dias de hoje, foi também adaptada ao teatro com sucesso.

Ilya Ilyich Oblomov é a figura central da obra e personifica a classe aristocrata latifundiária russa dos meados do século XIX completamente fútil e inútil, sendo bem descrita pelo autor ao longo da mesma.A narrativa chega a ser anedótica tal a postura de inutilidade de Oblomov, que, mesmo quando é instado pelo seu melhor amigo a mudar de vida, demonstra uma completa falta de maturidade para um homem de meia idade a quem nada faltava, mas que com nada acaba, nomeadamente trocando o amor da sua vida pelo seu… sofá! O cumulo da preguiça.

Sendo uma obra de cariz satírico, devidamente enquadrada à época, não deixa de nos fazer pensar nos Oblomov’s deste mundo, que nada acrescentam na sua existência. Uma obra de leitura muito interessante e imprescindível. Curiosidade: foi adotada a expressão “Oblomovismo” para descrever uma pessoa preguiçosa ou com inércia comparável à figura central da obra.

2.º “Cem Anos de Solidão”, Gabriel García Márquez (1967)

Esta obra magnifica com reconhecimento global, traduzida em todas as línguas do mundo, transporta-nos ao imaginário da história que García Márquez tão sabiamente concebeu. A narrativa da obra desenrola-se numa aldeia imaginária de nome Macondo e descreve-nos a existência de uma família ao longo de três gerações (a árvore genealógica é bastante extensa), em que tudo é possível acontecer.

Desde o surgimento dos Buéndia-Iguarán que tudo cresce e se desenvolve em volta destes, com todos os romances, adultérios, fantasias, obsessões, tragédias, rebeldias e condenações, que no fundo não são mais que um espelho do mundo em que vivemos! Na verdade, existe um José Arcadio ou um Aureliano José em cada um de nós. Obra de concepção complexa mas de leitura absolutamente obrigatória.

3.º “Charlatães”, Robin Cook (2017)

Há já muitos anos que acompanho as obras editadas por Robin Cook, médico e escritor norte-americano. Aconselho a leitura deste livro como poderia aconselhar outro da sua já vasta lista de obras editadas. A temática abordada pelo autor é recorrente e leva-nos às profundezas do funcionamento dos sistemas de saúde e hospitais com tudo o que esta área envolve.

Fazendo uso dos seus romances, Cook faz-nos pensar acerca de questões que no nosso dia-a-dia nos passam completamente despercebidas, tal como o negócio que existe em torno da saúde. Com a situação que vivemos atualmente, a temática não pode ser mais atual. Olhemos para o que se passa nos Estados Unidos da América. Leitura de reflexão não esquecendo que se trata de romance. Se poderem, leiam outras obras do autor.

4.º “A Arte de Caminhar” & “Silêncio na Era do Ruído”, Erling Kagge (2018/2016)

O senhor Erling Kagge é de nacionalidade norueguesa e para além de escrever livros, é editor, advogado, colecionador de arte e montanhista. Nesta última especialidade é detentor de feitos únicos, pois para além de ter sido o primeiro homem  a atingir o Pólo Norte sem qualquer tipo de suporte, foi até hoje o único homem a atingir os três polos: norte, sul e o pico do Evereste.

Na sequência das suas experiências únicas como montanhista e caminheiro, escreveu estas duas obras que são o resultado das suas reflexões ao longo das jornadas que encetou. Ambas nos ajudam a refletir na nossa existência enquanto seres rodeados de tudo e mais alguma coisa: o jackpot da evolução dos tempos modernos. Será que estamos no caminho certo? Não estamos a esquecer nada?

Quanto a mim, são obras de leitura obrigatória, pois fazem-nos reflectir acerca das pequenas coisas, como o silêncio… somente isso. O silêncio.

5.º “Sapiens”, Yuval Noah Harari (2011)

Deixei propositadamente para o fim esta obra de Yuval N. Harari, não só pelo seu conteúdo mas também pelo desafio que constitui à nossa capacidade de auto-análise como seres pensantes que somos. Harari, professor de história, faz uma completa análise à existência da espécie Sapiens desde a Idade da Pedra até aos nossos dias, à luz de evidências que nos foram sendo reveladas ao longo dos tempos.

A conclusão é simples e óbvia: onde o Sapiens chegou, tudo mudou. E não foi para melhor, acreditem. Esta é uma obra que pode e deve servir de guia para a nossa existência, para que possamos analisarmos-nos, sem condicionalismos, de preferência. Principalmente agora. Obrigatório.

Boas leituras. Protejam-se.

Jorge Gameiro

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