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Porque A Arte Somos Nós

Estamos na Segunda Guerra Mundial, e todos os austríacos eram levados a jurar lealdade a Hitler. Franz (August Diehl), o protagonista, é obrigado a deixar a sua esposa e as suas três filhas numa missão que podia ser o seu fim. A narrativa é bastante parada e contemplativa, o que permite um calmo do contexto. A questão da incompreensão perante o que a maioria faz – ir para a guerra sem reflectir sobre os seus princípios e sobre porque verdade aspiram – mostra que quem ia para a guerra “não ia combater a verdade, apenas ignorá-la“.

Uma das mensagens mais fortes de todo o filme pressupõe que o verdadeiro propósito da vida deveria ser o de criar simpatia: criar admiradores, não seguidores, num clima onde se confunde bravura com cegueira e cobardia com sensatez. “O mundo todo está a afogar-se. Não há resposta“: a religião é a solução para todas as mentes (humanamente) vazias. A guerra não é mais que “uma vida sem honra, o fim do mundo, a morte da luz“. A dualidade da guerra, sob o ponto de vista de enfrentar o mal e dar cabo dele, mas também que estamos a infligir a nós mesmos sofrimento sob a batuta moralista de Deus, não parece contradição? Eis uma das muitas interrogações que vão sendo “sofridas” pelos mais lúcidos.

Franz é chamado para a Guerra mesmo com toda a resistência, o que deixa a sua esposa a temer o pior — quer pela sua vida, quer pela sua paz interior. Porque o que somos nós senão os nossos princípios?

Uma esposa e três filhas para trás e um mundo de destruição pela frente: “Não podes mudar o mundo. O mundo é mais forte“.

Mas, a relação que eles têm é tão, tão forte, que move montanhas, tempestades, num abrigo emocional forte, o que oferece a toda a narrativa um dinamismo sentimental muito intenso. O tempo meteorológico vai acompanhando o aproximar da catástrofe — com uma banda sonora sublime.

As cartas que o casal “vai trocando”, a contar como vão as coisas entre a educação das filhas, o dia-a-dia, e o clima atroz e hostil que Franz vai vivendo mostram não só a sua união, mas também quão difícil é superar a distância física. Por outro lado, a teimosia de Franz (“é indiferente se esta guerra é justa ou injusta?“), perante a ideia de que não há inocentes neste mundo, revela a seu nível de consciência e de clareza moral. Os silêncios da alma são ensurdecedores.

O sofrimento da esposa, Fani (Valerie Pachner), que tem de lidar com uma família destroçada, mas ao mesmo tempo fortalecida pela união em tempos tão difíceis, é bastante elucidativo. “É preferível sofrer injustiças do que praticá-las“, este é o mote para ir sobrevivendo a este caos.

A punição física pela qual Franz vai sendo alvo durante a sua resistência a servir lealdade a Hitler é aterrorizante (“Há uma diferença entre o tipo de sofrimento que não se pode evitar e o sofrimento que escolhemos“), e a sua forma de sobrevivência foca-se, fundamentalmente, num contacto incessante com Deus.

Um filme com um argumento muito interessante por parte de Terrence Malick, com uma realização igualmente distinta, que peca pela monotonia da sua narrativa, mas que fecha a cortina com um final muito filosófico e introspectivo.

Tiago Ferreira

Rating: 2.5 out of 4.

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