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Porque A Arte Somos Nós

Dark Waters – Verdade Envenenada” conta-nos a história do advogado Rob Bilott (Mark Ruffalo), membro da Taft Stettinius & Hollister, uma firma de advocacia que representa grandes empresas, que entra em conflito com umas das maiores corporações americanas (também cliente da Taf), a DuPont – uma das maiores produtoras de químicos do mundo. Realizado por Todd Haynes, o responsável por filmes como “I’m Not There – Não Estou Aí” (2007) ou “Carol” (2015), somos confrontados com um longo e doloroso processo jurídico, que tem como finalidade culpabilizar a DuPont pela ocultação de informação acerca do químico PFOA, e consequente ameaça à saúde pública. Contudo, o preço a pagar por parte de Rob Bilott é bastante elevado, tornando-se impossível separar esta longa aventura da sua vida pessoal.

O caso nasce a partir de um pedido de ajuda do agricultor Wilbur Tennant (Bill Camp), conhecido da avó de Bilott, que perdeu cerca de 190 cabeças de gado de forma, no mínimo, estranha. Desde tumores a órgãos com mais do dobro do tamanho, Wilbur sabia que algo estava errado, e que a única razão para tal desgraça acontecer era a contaminação da água que os seus animais bebiam. Confrontado com tais factos, o advogado de Ohio decide avançar com a acusação à gigante DuPont. Provar isso é o grande desafio, pois levaria nada mais, nada menos, do que aproximadamente 17 anos até concluir todo o processo.

A narrativa é escrita por Mario Correa e Matthew Michael Carnahan, sendo esta baseada no artigo da revista do New York Times, “The Lawyer Who Became DuPont’s Worst Nightmare”. Mark Ruffalo é como um peixe dentro de água. Após a sua performance em “O Caso Spotlight“, ficou patente a dedicação e entrega que o ator assume neste tipo de papeis “teimosos”. O advogado vê-se a certa altura atulhado (literalmente) de caixas com arquivos da empresa DuPont, com as provas a remontarem ao ano de 1957. A investigação decorre lentamente, com muitas burocracias e conflitos de interesses. O assunto sobe de tom com a descoberta do químico C8 – ácido perfluorooctanóico (PFOA) – mascarado de Teflon. Este último entrou na casa de milhares de famílias através, principalmente, das sertãs. Após obter uma ordem judicial que obrigava a DuPont a compartilhar toda a documentação relacionada com o PFOA, a vida de Rob Bilott nunca mais foi a mesma.

Pautado com cores escuras e muitos espaços fechados, a obra pretende transmitir uma constante tensão ao espectador. Tensão essa que o advogado sente a todo o momento, pois quando confrontado pela sua esposa Sarah (Anne Hathaway) acerca da sua distância, este compreende o quão ausente tem vivido da sua família e até mesmo de si próprio. Quando o caso chega aos tribunais, o filme ganha outra dimensão: o mediatismo do processo pôs Virgínia Ocidental na ordem do dia, e levou milhares de pessoas a irem fazer análises de forma a se poder provar a existência de PFOA no sangue da população. As investigações feitas por Bilott concluíam que, para além dos testes feitos em animais, o PFOA era nocivo para o ser humano ao ponto de desenvolver cancro e deformações físicas.

Após todo este turbilhão, e sete anos depois da recolha de sangue, os resultados são finalmente comunicados. A multinacional química ainda tentou ripostar em tribunal, mas sem sucesso, tendo sido obrigada a indemnizar centenas de famílias em milhões de dólares.

“Dark Waters” revela-se um excelente trabalho de investigação, com o actor perfeito no papel de personagem principal. Funcionando a certa altura como um documentário, este revela os bastidores de um dos maiores escândalos envolvendo uma multinacional americana provando, em certa medida, a influência que certas entidades têm na economia e até mesmo na Casa Branca. Os jogos de interesses são muito bem espelhados, obrigando-nos a parar, olhar à volta, e questionar se não somos todos os dias umas meras vítimas de uma sistema corrompido que só se interessa pelos lucros – mesmo que isso envolva a nossa destruição. Ao encontro desta reflexão, o filme expande o cerno deste caso mediático para as vidas pessoais dos envolvidos, transmitindo sempre um sentimento de ansiedade.

Independentemente do seu desenrolar pausado e por vezes com algum humor, este é um filme com muita raiva. Em muitos momentos conseguimos transportar Mark Ruffalo para alguns dos papeis de Tom Hanks, ou vice-versa, onde este é a figura ideal de um homem “normal”, que contra tudo e contra todos vai à luta, acabando por sair vitorioso graças à sua perseverança (e algum talento).

Rating: 3 out of 4.

IMDB

Rotten Tomatoes

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