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Porque A Arte Somos Nós

Efémero, poético e cru. Assim se pode descrever o livro de André Aciman, “Call Me By Your Name” (em português “Chama-me Pelo Teu Nome“).

Elio é um jovem de dezassete anos cuja vida muda de pernas para o ar quando conhece Oliver no verão de 1987, em Itália. Oliver é convidado pelo pai de Elio, arqueólogo e professor, a passar quatro semanas com a família Perlman, a fim de escrever a sua tese. Elio sempre foi um rapaz introvertido, artístico e pensador, assumindo o papel mais importante nesta obra – o de se descobrir.

Ele sairá da música e dos livros para partir à descoberta do despertar dos seus desejos e do seu primeiro amor, Oliver, um jovem de vinte e quatro anos que o faz sentir o que nunca sentiu, atraindo-o pela sua inteligência e perspicácia. Algo desperta entre os dois, mas nenhum sabe bem o que sente – ou, melhor, como o sentem.

Um livro cheio de poesia, tanto a nível das palavras como a nível visual; somos transportados para uma Itália dos anos oitenta, onde a natureza, os raios de sol que penetram a casa, os livros que enchem o coração de Elio, ou as suas pautas de música, fazem-nos sentir um conforto imediato e um compromisso com a história de um primeiro amor. A tranquilidade daquela casa de férias, juntamente com o som do mar e o som do piano, são testemunhos de um amor que nasceu, que se escondeu, mas que nunca cessará de existir.

Aciman escolhe as suas palavras com cuidado, envolvendo as nossas próprias emoções no enredo – essenciais para entender a obra -, mas não se esquece da realidade que acaba por tomar conta do amor entre Elio e Oliver.

O clímax do livro reside, sem dúvida, na conversa entre Elio e o seu pai, onde ambos falam sobre o que existiu e sobre o que poderia ter existido – “How you live your life is your business. But remember, our hearts and our bodies are given to us only once. (…) Right now there’s sorrow. I don’t envy the pain. But I envy you the pain“. Elio decide apreciar a sua pequena infinidade e pensar em Oliver e nas semanas que passaram juntos apenas como memórias dolorosamente doces.

Qualquer pessoa que leia este livro será levada de volta ao primeiro amor, a toda a emoção e angústia que sentimos quando a faísca deste sentimento desperta em nós pela primeira vez, e àquilo que todos mais tememos, intimidade. Não a intimidade do corpo, mas sim a intimidade da alma, a ideia de que alguém nos conhece melhor do que nós próprios, a ideia de deixar alguém entrar na nossa vida, mesmo com o medo de a ver partir.

Se há algo que podemos mesmo apreender deste livro é que existem amores que temos de deixar ir, amores efémeros que duram uma eternidade dentro do seu tempo real, amores da vida para a vida.

A efemeridade deste amor rouba-nos o coração, que, com o fechar do livro, fica naquela casa de verão em 1987, à espera que Elio e Oliver voltem para terminar uma história de amor inacabada.

(A continuação desta história, “Find Me“, está disponível aqui)

Lorena Moreira

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