Doze anos depois do inigualável “Call Me By Your Name“, André Aciman traz-nos a tão esperada continuação do romance de Elio e Oliver: “Find Me” (Encontra-me), um romance que volta a trazer todos os nossos sentimentos à tona e a questionar as nossas próprias escolhas.
Seria de pensar que uma continuação não seria tão boa e que poderia mesmo estragar a magia do primeiro romance, mas a verdade é que, apesar de não estar exatamente no mesmo nível de epifania que “Call Me By Your Name”, este “Find Me” não desilude e, muito pelo contrário, traz o final que todos ansiávamos.
Três personagens, três espaços temporais, três homens a viver o amor: Samuel, Elio e Oliver. O livro abre com Samuel, pai de Elio, anos depois da separação da sua mulher – Elio era quem os unia enquanto casal e quando este decidiu embarcar na sua própria vida, o casamento dos dois não sobreviveu. Mesmo assim, o amor não morreu e um encontro inesperado com uma estranha num comboio levou a uma conversa inesperada e a uma relação também inesperada. Sami, como assim é tratado pela sua nova paixão, encontra nos braços de Miranda o que toda a vida lhe faltou – um amor incomparável e eterno.
O próximo desta tríade é Elio, cuja vida, apesar de ser tudo o que sempre sonhou – era pianista, ensinava e tocava em espetáculos –, estava repleta de encontros casuais que o deixavam cada vez mais vazio. Isto até que conhece um homem mais velho durante um concerto de música clássica e vê-se imergido pela paixão e por antigos desejos da sua juventude, pois Oliver nunca abandonou realmente o seu coração. Por fim, reencontramo-nos com Oliver que, prestes a mudar-se para New Hampshire, é atacado por antigas memórias vindas de um piano que tocava uma melodia há muito por ele esquecida.
Um livro excepcional que nos mostra as vivências amorosas de três pessoas distintas unidas pelo mesmo propósito – a felicidade. Faltou um pouco mais de poesia nesta continuação de um dos melhores romances contemporâneos, mas quem reina nesta história é a música, onde podemos – segundo Bach – nos lembrar de quem somos e de quem estamos destinados a ser, apesar de negarmos e subjugarmos os nossos sentimentos a uma prisão no fundo de nós mesmos. Cabe-nos a nós lembrar destas personagens queridas e refletir sobre o Destino, porque quem somos ou quem estamos destinados a ser também implica questionar sobre quem estará ao nosso lado.
Amor, arrependimento, culpa e desejo são as palavras-chave para viver este romance a cem por cento. O verdadeiro amor não morre e surge no seu tempo, se demorar muito há que pensar que o intermédio não é uma vida perdida, mas sim como um soluço que não passa de uma pausa temporal numa história de amor. Há infinitos que duram segundos e outros que vêm ao nosso auxílio quando nos apercebemos de quem somos. O infinito de Elio e Oliver esperou um soluço de vinte anos para viver a eternidade.
No final do livro, conhecemos outro Oliver, de sete anos e filho de Samuel e Miranda. Esta criança, ainda tão jovem e tão inocente, é a clara união das três personagens que lideram o livro; é nada mais nada menos que puro amor.
Elio lidera as reflexões poéticas finais e relembra de uma efemeridade agora eterna. Para ele, Oliver sempre existiu, o amor entre eles sempre existiu, mesmo antes do seu nascimento, mesmo antes daquela casa em Itália à beira-mar, mesmo antes do próprio tempo existir; estava destinado, e quem somos nós, meros mortais, para contrariar o próprio Destino e a sua infinidade?
Termino apenas com uma das reflexões finais do livro que não é mais que uma pequeníssima fracção desta obra eterna, e fruto de um talento imensurável: “regardless of where we were, who we were with, and whatever stood in our way, all he needed when the time was right was simply to come and find me”.