Robert Anthony De Niro Jr. nasceu em Manhattan, Nova Iorque, no dia 17 de Agosto de 1943, filho de Virginia Admiral e Robert De Niro Sr., ambos artistas plásticos que se destacaram na pintura, principalmente o seu pai. Família de ascendência italo-irlandesa por parte do pai e de ascendência holandesa e franco-alemã por parte da mãe, radicada em Nova Iorque, separaram-se quando De Niro tinha apenas dois anos de idade, tendo o seu pai assumido que era gay. Tendo crescido e estudado no coração de Manhattan, entre Greenwich Village e Little Italy, veio a frequentar vários estabelecimentos de ensino, tendo já numa fase avançada dos estudos abandonado tudo para se dedicar ao que realmente o fascinava: o cinema, passando a frequentar representação no “HB Studio”, no “Stella Adler Conservatoty” e também no “Lee Strasberg’s Actors Studio”. Nascia então um dos maiores talentos da história do cinema, que ainda hoje se encontra no activo.
A abordagem de De Niro à representação foi sempre levada pelo próprio ao extremo da perfeição. Desde o início da sua carreira que prestou grande importância à preparação das personagens que representava nas obras em que participava, sendo até algo psicótico nesta abordagem. Era comum De Niro ficar algo deprimido após a rodagem de um filme, pois a forma como sentia e vivia as suas personagens conseguia influenciar a sua maneira de estar na vida real. A fisionomia, o timbre nova-iorquino, a expressão do olhar e a sua fixação pela perfeição, talharam De Niro para um determinado tipo de papel. Se observarmos a sua filmografia verificamos que, até dada altura, De Niro representa invariavelmente personagens agressivas, impulsivas, instáveis, mas ao mesmo tempo emocionalmente frágeis e sensíveis. Já em fase mais adiantada da sua carreira, De Niro começou a assumir outro tipo de papéis com uma menor carga emocional e emotiva, passando até a ter alguma relevância em filmes com uma boa dose de humor, sem que isso alterasse de alguma forma a sua performance.
Descrever filmes com a participação de Robert De Niro não caberia em apenas um artigo, pelo que não o vou fazer. Vou apenas referenciar alguns momentos mais importantes da carreira deste super-actor.
O início da carreira de De Niro deu-se quando este tinha apenas 20 anos num filme de Brian de Palma intitulado “Festa de Casamento“, corria o ano de 1963, embora este só viesse a estrear em 1969. Apesar de participar em pequenos papéis, como acontece à grande maioria dos actores, a primeira película em que viria a ter visibilidade foi “Os Cavaleiros do Asfalto“, de 1973. Este momento é crucial na sua carreira, pois é a partir de aqui que inicia uma colaboração com o realizador Martin Scorsese, que iria durar ao longo de toda a sua carreira. Logo no ano seguinte, Francis Ford Coppola catapultou De Niro para um dos mais brilhantes papéis da sua carreira, Vito Corleone em “O Padrinho: Parte II“, onde ganha o Óscar de Melhor Actor Secundário. Em 1976, brilha novamente com Scorsese noutro desempenho memorável em “Taxi Driver“. Quem não se lembra da cena incrível frente ao espelho…? No ano seguinte, “New York, New York“, mais uma vez com Scorsese. Em 1978, filma “O Caçador” e dois anos mais tarde ganha o Óscar de Melhor Actor com o fantástico e aclamado “O Touro Enraivecido” no papel de Jake LaMotta e com a realização adivinhem de quem… Martin Scorsese. Merecidíssimo. Neste filme contracena, para além de Cathy Moriarty, com Joe Pesci, com quem viria a filmar por diversas ocasiões, até este ano de 2019 (!) Em 1984, Sergio Leone leva De Niro novamente a um dos seus mais completos e notáveis papéis, “Era Uma Vez na América“. Para além de retratar Nova Iorque à época de uma forma magnífica, De Niro imprime um desempenho notável neste filme de referência na história da indústria cinematográfica. Em 1987, volta a trabalhar com Brian de Palma em mais uma obra incrível, “Os Intocáveis” onde desempenha o papel de Al Capone. Corria o ano de 1990 e o suspeito do costume, Martin Scorsese, recruta novamente De Niro para outro dos seus mais brilhantes actos em cinema, “Tudo Bons Rapazes“, com Joe Pesci a seu lado e um Ray Liotta absolutamente sublime. Muito, muito bom. Em 1991, filma “O Cabo do Medo” com Nick Nolte a seu lado e com… imaginem quem a realizar. Avançando alguns anos e muitos filmes, participa em “Casino“, de 1995, onde contracena novamente com o seu amigo Joe Pesci e Sharon Stone. O realizador é o do costume. Em 1998 filma “Ronin“, um excelente filme de acção.
A partir daqui, De Niro continuou a participar em dezenas de filmes, e como referi anteriormente, começou a desempenhar papéis de outro tipo. O nova-iorquino é um actor multifacetado e não foi difícil para ele adaptar-se a outras solicitações. Já com perto de 60 anos de trabalho no grande ecrã, poucos papéis lhe metem medo, sendo que até na comédia ligeira participou com sucesso. Tudo culmina neste ano de 2019 com mais uma película realizada por Martin Scorsese, sempre ele… “O Irlandês” produzido pelo canal de streming Netflix, e com passagem nas grandes salas de cinema de alguns países, Portugal não incluído. É como que o voltar às origens. Filma novamente com Joe Pesci e Al Pacino, recordando o tema recorrente das máfias, mas com rufias um pouco mais velhos. É justo referenciar também Al Pacino, pois este desempenhou um papel importante no desenvolvimento da carreira de De Niro. Existia como que uma sã rivalidade entre ambos, o que fez deles, sem qualquer dúvida, melhores actores. É difícil até, em algumas circunstâncias, avaliar o desempenho de ambos.
Sendo que Robert De Niro conta com mais de 120 filmes creditados, esta é apenas uma resenha do seu trabalho. Obviamente que nem todos os filmes foram obras-primas, no entanto, o saldo da carreira de De Niro no cinema é francamente positiva, dando-lhe o epíteto de ícone na história do cinema. E continua com trabalho em agenda, pelo que não nos vamos ver livres dele tão cedo. Para além do seu “trabalho”, De Niro mantém o seu activismo político, sendo um sério crítico do actual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Para além disso, desenvolve actividades na área dos negócios, sendo proprietário de um hotel e restaurantes na área onde reside quase desde sempre, Tribeca, em Manhattan, para além de ser mentor do Festival de cinema independente “Tribeca Film Festival“.
Robert De Niro é um personagem como poucos, e o cinema deve-lhe muito pelo que ele já lhe deu. Vamos continuar a usufruir do seu dom, até que deixe de nos questionar: “Are you talking to me…???“
Bons filmes.
Jorge Gameiro