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Para os fãs de videojogos mais ligados às novidades do mercado indie, “Stray”, lançado em meados de 2022, era um dos jogos mais antecipados dos últimos tempos. Esta antecipação recuava até 2020 quando, num evento da PlayStation, um pequeno estúdio do sul de França (BlueTwelve Studios) mostrava pela primeira vez as imagens inicias do seu jogo de estreia, que, para grande surpresa dos presentes, era visível um gato vadio como protagonista da história.

Ainda que situado no restrito género de jogos que permitem ao jogador controlar gatos, “Stray” conseguiu distinguir-se dos restantes por apresentar uma qualidade gráfica mais refinada do que o normal (principalmente no mercado indie), além de recair também num retrato mais realista destes felinos, que se afastava de alguns dos jogos do género em que os gatos assumem formas mais antropomorfizadas. Talvez por isso (e pelo amor generalizado da Internet quando o assunto são gatos), “Stray” conseguiu ter uma vasta atenção durante o resto do seu desenvolvimento, antes e depois do seu lançamento em Julho de 2022.

Em “Stray” o jogador assume o papel de um gato vadio

Como grande parte dos lançamentos da distribuidora Annapurna Interactive, “Stray” é uma história single-player onde, neste caso, o jogador controla um gato laranja na terceira pessoa. Após este gato vadio ficar separado do seu grupo, acaba por ir dar aos subúrbios de uma cidade subterrânea aparentemente despovoada. Fazendo uso de um sistema de controlos relativamente simples e intuitivos, o jogador consegue eventualmente levar o protagonista para uma zona mais central da cidade, onde descobre e acaba por ativar uma Inteligência Artificial autodenominada de B-12.

Este robô acaba por se comprometer a ajudar o protagonista a regressar de volta à superfície. À medida que o par vai explorando a cidade, percebem que a civilização humana já não existe, tendo sido completamente substituída por robôs que construíram a sua própria sociedade nessa localização subterrânea, mas que se encontram igualmente presos. Fazendo uso de B-12 como interlocutor, o gato consegue ir contactando com várias personalidades da cidade, com o objetivo de encontrar uma forma de escapar do subsolo e de libertar todos os robôs da prisão subterrânea em que se encontram.

“Stray” introduz uma temática futurista com uma estética muito particular

Sem grandes inovações ao nível da jogabilidade, tirando o facto de o protagonista ser um gato, muito daquilo que o jogador está encarregue de fazer é andar pela cidade, fazer uso da sua agilidade felina para trepar e subir edifícios, interagir com objetos e personagens, bem como ocasionalmente resolver pequenos puzzles que não são mais do que leves limpa palatos. O jogo introduz também algumas secções mais relacionadas com combate, onde o protagonista, munido pelos gadgets fornecidos por B-12, consegue destruir bactérias mutantes que povoam a cidade ou escapar de robôs inimigos fazendo uso de furtividade.

Algumas atividades adicionadas pela equipa de desenvolvimento de forma sagaz permitem ao jogador encarnar o papel de felino de forma mais imersiva. Isto inclui um botão específico para miar, a possibilidade de o gato se roçar nos NPCs, arranhar sofás ou tapetes, ou até fazer sestas e ronronar. Todas estas atividades, embora nunca estritamente necessárias ou ligadas diretamente à história, permitem fazer um retrato do protagonista como um verdadeiro gato e não como uma personagem humanizada.

A jogabilidade de “Stray” é familiar, recaindo num sistema simplificado de movimentação e saltos

As melhores qualidades de “Stray” acabam por estar relacionadas com aspetos secundários, não diretamente ligados à sua jogabilidade ou à sua história. A estética e atmosfera da cidade submersa, com visuais altamente estilizados e com cores saturadas e brilhantes, é uma agradável surpresa tanto por encaixar na perfeição com a temática futurista do jogo como por mostrar que jogos com alta-fidelidade gráfica não estão exclusivamente nas mãos dos grandes estúdios. A banda sonora é igualmente fantástica, com um conjunto de faixas longo e variado, mas sempre alinhado com a estética cyberpunk do jogo.

Infelizmente, é legítimo dizer que “Stray” não consegue subir mais alto. Os vários tipos de jogabilidade (combate, exploração, puzzles) por vezes sentem-se um pouco repetitivos e mal situados, de maneira que a sua história, não sendo completamente desabitada de interesse, poderia ter sido um pouco mais trabalhada. Em última instância, pode defender-se que a BlueTwelve Studio considerou que o facto de ter um gato controlável seria suficiente para captar o interesse dos fãs.

Curiosamente, parece ter sido precisamente o caso. Contrariamente ao sentimento mais neutro deste texto, “Stray” foi e tem sido um completo sucesso, tanto de crítica como entre o público. Além dos largos milhões de cópias vendidas, “Stray” atingiu o surpreendente feito de ter sido nomeado para Jogo do Ano nos The Game Awards (ao lado de nomes de peso como “God of War Ragnrök” ou “Elden Ring“), onde também arrecadou o ‘caneco’ de Melhor Jogo Independente. Sem tirar méritos ao jogo, que proporciona uma divertida e agradável experiência, “Stray” apenas deixa o amargo de boca por não aproveitar a perspetiva única de se poder jogar como um gato para estender esta vertente mais singular aos seus restantes elementos.

Disponível em: PS4, PS5, Windows

Luís Ferreira

Rating: 2.5 out of 4.

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