Capítulos curtos. Escrito em forma de argumento. Correria. Códigos secretos. Não, não estamos diante de um romance de Dan Brown. Gosto do sujeito, notadamente do seu clássico “O Código da Vinci“. Uma excelente leitura de entretenimento, verdadeira coqueluche no início do século XX. Li “As 52 Profecias Perdidas de Nostradamus” (Editora Record, 2010, 363 páginas) de Mario Reading, autor britânico e a ver a capa já fiquei com a sensação de um suspense a la Dan Brown.
A trama inicia-se com uma perseguição a um cigano que tinha um tesouro que seriam as quadras de Nostradamus, as 52 citadas no título, e eu que não fui apresentado ao adivinho ainda fiquei com aquela sensação de “Ah, esta leitura deverá instruir-me um pouco”. O perseguidor é um ex-combatente da Legião Estrangeira Francesa e possui uma característica peculiar: não possui o branco dos olhos. Será referido até ao final como “o homem do olho“. Frio e profissional, tem métodos nada ortodoxos para conseguir o que deseja, não se importando em passar por cima daqueles que atravessam o seu caminho.

Nesta fuga, o cigano encontra-se com o escritor norte-americano Adam Sabir e tenta vender-lhe o segredo, mas, ao se sentir acossado, faz um talho na própria mão, a seguir faz um talho na mão do interlocutor e com este faz um pacto de sangue. Sabir é informado disso de forma abrupta, ainda mais que o encontro é ligeiro e conturbado e tão logo ele passa a ser vigiado pela polícia e também perseguido, refugiando-se assim num acampamento de ciganos onde se acercará de Yola e Alexi, dois jovens que interagem com o nosso protagonista (não, não é Robert Langdon nem o Tom Hanks, posso assegurar).
Embora a trama se assemelhe muito, ficamos a saber que este código escondido pela filha de Nostradamus está no orifício de uma imagem de santa, a Santa Negra, ou Santa Sara, que vem a ser a padroeira dos ciganos. Esse povo apátrida, um tanto fora das tradições sociais e imersos no seu próprio mundo é muito bem descrito por Reading, quando este discorre sobre o julgamento e sentenciamento do nosso Sabir, que ficará de frente para o perigo graças ao arremessador de facas que nunca erra, Alexi.
O solo fica amaldiçoado quando as mulheres se menstruam? Por que as virgens ciganas não se podem enfeitar como as casadas? Os ciganos possuem códigos próprios e não se sujeitam às leis de direito de propriedade propriamente ditos, por isso são denominados ladrões? O seu código de ética é para lá de frouxo? Qual a importância da alimentação para este povo estando às voltas de decisões difíceis? O noivo poderia fugir com a noiva e consumar o casamento? Estas e outras práticas são muito elucidativas e dá para ver que o autor fez uma ampla pesquisa de campo, confessada na parte dos Agradecimentos.

Achor Bale, “o homem do olho”, é o facínora que pertence a uma sociedade secreta que remonta ao século XIII (repito mais uma vez, não visualizem Tom Hanks sendo perseguido por ele). Um par de policiais franceses acompanha de perto essa confusão. Calque é o investigador que faz o tipo intelectual. Pouco afeito às tecnologias do presente, recorre às fontes primárias e é um historiador diletante. Quando vai ter com a madrasta do nosso “homem do olho”, conduz com sagacidade a entrevista. O seu jovem assistente Macron é um tanto impetuoso e, ao mesmo tempo, preconceituoso.
Do trio de heróis do enredo, o nosso escritor Sabir mais Alexi e Yola, ficamos no suspense de quem se casará com quem, mas o certo é que a ciganinha vê o norte-americano como um irmão mais velho. Afinal, no pacto de sangue feito com o vitimado irmão, ele agora passou a responsabilizar-se pela intrépida diabinha. As cenas de torturas praticadas pelo nosso vilão oferecem toda sorte de maldades, idêntico a um soldado russo a brincar com a sua vítima.
Mesmo com a trama arrastada, em dois momentos consegui interessar-me mais pelo livro. Verdadeiras teorias da conspiração, formuladas com personagens reais e aí ergui-me da poltrona sem o receio de cochilar. Anotei estas duas passagens.
Um final previsível, nada revelador, ou aliás, revelador, de que as quadras de Nostradamus são uma chatice sem precedentes. Tipo assim, o sujeito prediz e deixa ao futuro a adequação de Napoleão Bonaparte e Hitler os moldes de dois Anticristos. “Senhor, dai-me paciência!”.
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