No próximo dia sete de setembro, o Brasil comemora os 200 anos da sua Independência de Portugal, se bem que antes, em 1808, com a vinda da família real para a colónia, e com a consequente abertura dos portos, possa se entender essa faceta independente antes. Observo com satisfação que diferentemente de outras colónias e colonizadores, laços de amizade permanecem entre os povos. No decurso da história, quantos fluxos migratórios se alternaram e é com muita satisfação que escrevi uma biografia de um destacado português, o comerciante Fernando Emílio Pereira, intitulada “Fernando, O Lusitano Brasileiro” (O Agente Literário, 2018, 155 páginas).
De um jovem que veio tentar a vida no Brasil na década de 1950 chegando ao porto de Santos. O quão famosas são as padarias portuguesas no Rio de Janeiro?! No início deste século, após a crise financeira em Portugal, muitos vieram tentar a sorte aqui. Na década seguinte e atual, observamos o contrário. O facto de eu escrever para uma publicação da cidade do Porto atesta este intercâmbio, somado aos dois livros que satisfatoriamente publiquei na Terra de Camões, “Corda Sobre O Abismo: O Elogio Da Desesperança” e “Perfume De Mulher“.
Fiz este preâmbulo para justificar o mérito de a 26.ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo ter feito o convite, prontamente aceito, a Portugal e foi uma das principais atrações do evento, ocorrido entre 2 a 10 de julho, no Expo Center Norte, um lugar de convenções empresariais que abrigou 660 mil pessoas durante os nove dias. Como fui profissionalmente à Bienal, atuando em quatro frentes: como agente literário, escritor, articulista deste Barrete e editor da Revista Conhece-te, não poderia deixar de participar desta homenagem. Exemplares da Conhece-te ficaram à disposição dos escritores portugueses que se apresentaram (isso nos bastidores, quando eles atendiam à imprensa).
Afonso Cruz, António Jorge Gonçalves, Dulce Maria Cardoso, Francisco José Viegas, Filipe Melo, Gonçalo M. Tavares, Joana Bértholo, José Luís Peixoto, Kalaf Epalanga, Lídia Jorge, Maria do Rosário Pedreira, Maria Inês Almeida, Matilde Campilho, Pedro Eiras, Ricardo Araújo Pereira, Rui Tavares, Teolinda Gersão, Valério Romão e Valter Hugo Mãe – bem como Luís Cardoso, o primeiro escritor timorense a vencer, em 2021, o Prémio Oceanos, e a autora moçambicana Paulina Chiziane, Prémio Camões 2021. Ainda dois chefs de cozinha, Vítor Sobral e André Magalhães.
Essa imersão foi excelente pelo clima de ambientação criado, sendo o cenário composto por dois ícones que representam bem Portugal e, para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de visitarem o país europeu, ponto certo para as milhares de fotos no funicular dos Prazeres e a mesa com Fernando Pessoa, numa réplica nada fidedigna ao autor de “O Livro do Desassossego“. Contando com um auditório e banquinhos multicoloridos, um grande público acompanhou, sentado e de pé, as falas destes conceituados autores.




Acredito que esta exposição possa familiarizar muitos escritores lusitanos aqui no Brasil. Pois quanto de uma fala é importante, e quando o escritor tem talento para oralmente “vender a sua sardinha”, numa espécie de cartão de visita à obra em si, e no elenco selecionado abre-se um portal para eu mesmo ultrapassar os cânones e conhecer gente nova. Valter Hugo Mãe já é bastante conhecido por aqui, lembro-me de no Fórum das Letras de Ouro Preto, na década passada, ter assistido às apresentações de Francisco José Viegas e Lídia Jorge.
Que este intercâmbio cultural e literário possa continuar, que somemos esforços no entendimento de que os laços e tradição portuguesa permaneçam por aqui, com respeito e espírito de fraternidade e que trabalhemos em prol da língua portuguesa, atualmente a 9.ª mais falada no mundo, e que a representatividade de um José Saramago (1922-2010), único vencedor do Nobel neste idioma, possa iluminar nosso legado de um elenco que, do lado de cá do Atlântico, ofereceu ao mundo Machado de Assis, Lima Barreto, Jorge Amado, Graciliano Ramos e o controverso e mediático atual Paulo Coelho.
Escrevo esta reportagem exclusiva para OBarrete convidando mais ao intercâmbio e à amizade entre os povos. Deixemos de lado sentimentos de inferioridade para a grandeza de nos sentirmos parte de um todo. Percebo com alegria que este portal, OBarrete, com muita dedicação e brilhantismo, vem cumprindo bem o seu propósito de ganhar as terras tupiniquins com a sua larva de boa produção literária e cultural. E isso não é pouca coisa. Devido a isso fiz de embaixador da publicação na Bienal de São Paulo, alardeando que escrevia para um excelente site cultural. A minha cara de satisfação confirmou isso em vários momentos.
Parabéns à organização da Bienal Internacional do Livro de São Paulo pelo justo convite. Foi um sucesso!

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