OBarrete

Porque A Arte Somos Nós

Às vezes gosto de deixar ao acaso a escolha de algumas peças de arte para ver. Não desejando referências, fui ao YouTube em busca de filmes cult, e navegando entre as opções, parei neste “Deixa Ela Entrar“, em sueco “Låt den rätte komma in”. Um cenário nórdico (ou seria eslavo?) e só durante a visualização fiquei a saber ser localizado no interior da Suécia. A premissa é aparentemente simples e monótona: um miúdo (Oskar, interpretado por Kåre Hedebrant) tem 11 anos e sofre bullying na escola.

Às voltas com o seu cubo mágico e introspetivo, ressentido guarda uma faca debaixo da cama, para quem sabe se defender?! Mas a passividade é constituinte do seu caráter. Até que uma garotinha na sua faixa etária, Eli (interpretada por Lina Leandersson) vem morar no seu conjunto habitacional e uma amizade floresce. Ela é fria e misteriosa, e fria aqui no sentido literal.

Paralelo a isso, um serial killer vem colhendo o sangue das suas vítimas em rituais macabros. Håkan (interpretado por Per Ragnar) tem que alimentar um vampiro e este ser indefeso (?) e sem peso é, nada mais nada menos, do que a menina. Ela chega a atacar um senhor e as cenas horripilantes de terror equivalem a um ataque de um lobo. Uma outra cena impactante é a subida dela ao edifício do hospital onde o seu “pai” está internado. Eli já lhe comeu parte da face, mas necessita saciar a sua sede.

Eli (Lina Leandersson)

Os diálogos interessantes entre os dois miúdos indicam reflexões essenciais e de contingência: Oskar deseja matar para revidar os abusos na escola. Faz o seu teatrinho enfiando lâminas na madeira. A vampira necessita matar para continuar na sua existência de morta-viva.

A película vai nos empolgando e juntando os pontos observamos uma residência cheia de gatos. Uma senhora a mais é atacada por um bicho (sim, é ela) e pressente ter sido infetada. A aguardada cena dos felinos pressentindo a presença do demónio comprova-se e o eriçamento é de congelar os ossos. No hospital, a infetada dá-se conta de que não está nada bem e resolve sacrificar-se, solicitando ao marido para que este descerrasse as cortinas. Outra cena previsível, mas nem por isso mesmo não espetacular, é o sol a queimar o demónio em chamas gigantescas. Em “Låt den rätte komma in”, só faltaram o espelho, o alho e a cruz.

Interessante percebermos como os clichés se ajustam e quando do conselho de Eli para que Oskar revidasse as agressões, existe uma moral que é excelente: quando você é agredido: devolva. Oskar põe isso em prática, dando uma bengalada na orelha do pentelho que quase chega a custar-lhe a audição daquele lado. Um conselho admirável para todos os miúdos que são afrontados. Show!

O amor im(possível), a amizade e os dilemas se revelam e o realizador Tomas Alfredson, durante 1h54min consegue apresentar-nos um filme sensível, mistura de fantasia, romance e terror, e impacta-nos a retina com uma obra sensível e que devo agradecer ao acaso a sua descoberta.

Marcelo Pereira Rodrigues

Rating: 2.5 out of 4.

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