“Everything Everywhere All At Once” (2022) – “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo“, em português – conta a história de Evelyn (Michelle Yeoh), uma imigrante chinesa que gere uma lavandaria com a sua família, mas que atravessa alguns problemas quando o seu negócio passa por uma auditoria financeira. Tudo muda quando Evelyn descobre o conceito de multiverso e percebe que pode ter acesso a memórias, sentimentos e habilidades de outras Evelyns. O filme é escrito e realizado por Dan Kwan e Daniel Scheinert.
De facto, estamos perante um filme que é dotado de uma imensa criatividade, através do seu argumento extremamente sui generis, conseguindo, também, construir uma película repleta de diferentes géneros e tons, algo que, a par e passo com a sua mestria técnica, torna a experiência deste filme em sala verdadeiramente inesquecível. É uma obra que não tem medo de arriscar e de ser obscura para passar a sua mensagem e fazer jus à sua ideia, sendo essa uma característica que, infelizmente, não se vê com tanta frequência na atualidade cinematográfica.

Muitas vezes, por força da produção, certas ideias são transformadas em eufemismos, para não chocar o espectador ou para não o deixar confuso, mas a verdade é que, quando o filme é 100% livre, tudo flui. É o caso deste “Everything Everywhere All At Once”, que através da sua divisão formal tripartida, consegue não só aproximar o espectador da sua dinâmica, como também organizar a fluidez dos seus atos. Além disso, uma palavra de destaque para a interpretação verdadeiramente sublime por parte de Michelle Yeoh, que é capaz de dar vida a esta personagem sob diversas esferas, muitas delas surgindo em simultâneo ao longo do filme, tendo uma presença física e emocional simplesmente notável.
Numa produção com tudo isto, facilmente se poderia cair num certo território genérico onde o argumento, intelectualmente falando, fosse deixado de parte, mas a verdade é que a irreverência formal deste filme não se fica pelo seu motivo narrativo, conseguindo ser justificado várias vezes ao longo da história. Além disso, tenta celebrar uma vertente emocional para completar o seu espectro de significância, nomeadamente, entre Evelyn e a sua filha, Joy (Stephanie Hsu), cuja atriz faz, também ela, um papel muito digno.
O conflito entre Evelyn e Joy cria-se, sobretudo, a partir do facto de que Evelyn não apoia muitas das escolhas da sua filha, mantendo uma relação longe de ser a mais saudável, projetando um pouco aquilo que sentiu por parte do seu pai, que havia sido sempre bastante frio para com ela. Neste sentido, grande parte da magia de “Everything Everywhere All At Once” passa por conseguir conjugar a criatividade da sua narrativa sob a esfera dos multiversos com esta vertente emocional, o que faz com que o filme suba uns degraus, intelectualmente e humanamente falando.

A montagem é simplesmente sublime, tal como os efeitos visuais. E, mesmo tendo uma história bastante profunda do ponto de vista dramático, existem bastantes momentos de comédia que simplesmente funcionam em pleno na história. Além disso, o filme põe em questão a nossa própria conceção de início, meio e fim, desafiando a estrutura mais tradicional de uma longa-metragem. Sendo que abordando escolhas de vida e filosofias, permite que esta rica experiência por parte do espectador seja, acima de tudo, um olhar para dentro de si mesmo – que, tal como nas restantes representações artísticas, deverá ser sempre o maior desígnio a alcançar.
Posto isto, a única questão, de um ponto de vista mais crítico, que se levanta tem que ver com a essência da emotividade patente nesta obra, ou seja, notamos que o filme investe bastante em cenas para nos emocionar, sem o conseguir realmente. No entanto, nada que invalide, de todo, toda a magia deste “Everything Everywhere All At Once”: cinema que nos ensina a valorizar as pequenas coisas e a cultivar a empatia.
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