Antes de mais, deve ficar claro que não tenho a intenção de fazer qualquer tipo de análise especifica ao significado do conteúdo dos textos contidos na “Bíblia Sagrada”, numa perspetiva religiosa ou de qualquer outro tipo.
Ao contrário do que muitos prossupõem, a “Bíblia Sagrada” não se trata de um livro, mas sim a compilação de vários textos considerados sagrados e de inspiração divina, que serve de referência para Católicos, Cristãos e em parte para os Judeus. Está dividido em duas partes, o “Antigo Testamento” (constituído por 46 livros) e o “Novo Testamento” (constituído por 27 livros), que têm como referência temporal a passagem de Cristo pela terra, ou como tradicionalmente consideramos no atual calendário gregoriano, o antes e o depois de Cristo. É, sem qualquer dúvida, o documento escrito mais vendido, mais discutido, mais estudado e mais controverso de sempre.
O grande motivo de discussão em torno da “Bíblia Sagrada” assenta nas suas origens e autores. Sendo que o “Antigo Testamento” contem textos que abrangem temas que vão desde a criação do mundo e do Homem por Deus, até às doutrinas e profecias que antecedem a vinda do Messias, a análise em torno dos seus criadores é tudo menos consensual. Ainda que o conceito da divulgação destes acontecimentos históricos, que decorreram ao longo de quase 12 séculos, seja o de que tenha sido concebido por inspiração divina, existe a necessidade de compreender quem materializou o seu conteúdo, sendo esta a grande discussão ao longo dos tempos.

Ainda assim, é geralmente aceite que Moisés é uma das figuras centrais do “Antigo Testamento”, bem como os profetas (porta-voz; mensageiro de Deus), dos quais se destacam Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel, entre outros, a quem se atribui a autoria dos seus textos. Que este é, nos seus primeiros cinco livros (“Genesis“, “Êxodo“, “Levítico“, “Números” e “Deuteronómio“), o Pentateuco, o mais importante cânone sagrado dos Judeus, sendo atribuída a sua autoria a Moisés e denominado de “Torá“. Culminando com a anunciação da vinda do Messias, que para os cristãos se viria a personificar em Jesus Cristo.
Já o “Novo Testamento” centra-se no nascimento, vida, morte e ressurreição de Jesus de Nazaré, o Cristo, bem como os atos dos que o seguiram, os denominados apóstolos (mensageiro de Deus, enviado). Também aqui o consenso relativamente às suas origens não existe, pois, para além da existência de outros evangelhos (Boa Nova) que não os canónicos (Mateus, Marcos, Lucas e João), a forma como o seu conteúdo é narrado levanta muitas dúvidas, não só pela existência de incongruências entre os mesmos no relato de determinados acontecimentos, como pela distância temporal em que são escritos, que não é precisa, apontando para uma janela de cerca de 60 a 70 anos (ou mais) após a morte de Jesus Cristo.
O seu conteúdo tem como objetivo materializar o “passa palavra” dos ensinamentos de Jesus, tendo dois deles sido escritos por apóstolos que O acompanharam, Mateus e João, sendo os outros dois escritos por discípulos dos apóstolos Pedro e Paulo, Marcos e Lucas. Outro fator a ter em conta são as imensas traduções que foram feitas ao longo dos tempos, que, inevitavelmente, foram “adaptando” termos e significados que diferirão dos originais! A não existência de documentos originais, à época em papiro, dificulta sobremaneira a certificação dos termos e textos dos vários autores.

Para além dos Evangelhos, fazem também parte do “Novo Testamento” as Epistolas e Atos dos apóstolos. São cartas escritas por alguns apóstolos (Paulo, Pedro, João e Tiago) com a intenção de divulgar a “Palavra” junto das comunidades, normalmente cristãs, a quem se dirigiam, formando a base dos princípios do Cristianismo. A última parte são as profecias, o “Apocalipse“, normalmente atribuídas a João. Basicamente, o “Novo Testamento” complementa a doutrina traçada no “Antigo Testamento”, estabelecendo uma nova abordagem espiritual a Deus personificado em Jesus Cristo, seu filho, espalhando a palavra através d’Ele e dos Seus apóstolos.
Neste contexto, e tendo em conta a evolução do conhecimento e da ciência ao longo dos séculos, a discussão em torno da “Bíblia Sagrada” foi conhecendo novas teorias e abordagens. Existem aqueles que acreditam piamente que o seu conteúdo tem a mão de Deus e aqueles que à luz da ciência questionam a ideia conceptual de grande parte dos textos. Para o mundo católico/cristão constitui o cânone sagrado, e é visto como a referência orientadora dos princípios da sua igreja.
De uma forma ou de outra, o certo é que o debate em torno do seu conteúdo lhe traz uma centralidade inegável, constituindo ainda nos dias de hoje, objeto de acesa discussão para uns e uma fonte de espiritualidade para outros. De assinalar também a forte inspiração que constituiu ao longo dos séculos para os artistas plásticos, que encontraram nos vários cenários e acontecimentos descritos a imagem perfeita para as suas obras. Basta recordar as centenas de interpretações que existem da “Crucificação de Cristo”. São muitas as pinturas, e não só, que espelham o cenário bíblico, transportando para quem as aprecia a imaginação do contexto em que se viveram esses momentos, na ótica do artista, obviamente.



Independentemente do que se possa pensar, é inegável a influência que a “Bíblia” teve, e tem, nas sociedades que se desenvolveram ao longo dos séculos, constituindo um elemento de reflexão acerca da existência do homem como ser espiritual. Igual papel se poderá atribuir a outras “obras” que servem de suporte a outras religiões, como é o caso do “Alcorão” (ou “Corão”), para a religião Muçulmana, ou o “Tripitaka“, no caso da religião Budista. Já a religião Hindu assenta os seus princípios e filosofia num vasto conjunto de escrituras, as “Vedas“, onde encontramos inúmeros textos e pensamentos orientadores.
Todos eles têm um propósito comum: transmitir uma mensagem, um pensamento, uma filosofia de vida. Centrado ou não em apenas uma figura, um Deus, o objetivo é fazer de quem os lê pessoas melhores, mais ricas espiritualmente. Ainda que objeto de vasta discussão, é assim que, na minha perspetiva, devem ser encarados: fontes de conhecimento e enriquecimento espiritual.
Numa perspetiva meramente literária, a “Bíblia Sagrada” não se insere nas clássicas classificações de obra, não só pela sua estrutura, como pelo seu conteúdo. Trata-se, essencialmente, de um documento histórico de composição um tanto indefinida, pelos motivos que já atrás enumerei, sendo uma agregação de pensamentos e descrições mais ou menos factuais de acontecimentos que sucederam num determinado momento da nossa existência. Uma coisa é comprovadamente verdadeira: Jesus de Nazaré existiu e comungou deste mundo como todos nós. Tudo o resto é, e será, motivo de acesas discussões para todo o sempre.
Nota final: A “Bíblia Sagrada” é basicamente um documento de consulta, na medida em que, a forma como está organizada não corresponde a um fio de pensamento, mas sim a uma linha temporal que nos leva desde o “Genesis” (origem, início, primeiro livro do “Antigo Testamento”) até ao “Apocalipse” (o último livro canónico do “Novo Testamento”, atribuído a S. João), repetindo por vezes acontecimentos ou pensamentos que são apresentados de diferentes formas ou visões.
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