viva o rock brasileiro #20
1990 apresentou o 5.º disco dos Engenheiros do Hawaii. “O Papa é Pop” surge no momento de maior visibilidade da banda no país, catapultada como uma das três melhores, sem sombras de dúvidas. A setlist apresenta:
O Exército De Um Homem Só
Era Um Garoto Que Como Eu, Amava Os Beatles E Os Rolling Stones
O Exército De Um Homem Só, II
Nunca Mais Poder
Pra Ser Sincero
Olhos Iguais Aos Seus
O Papa É Pop
A Violência Travestida Faz Seu Trottoir
Anoiteceu Em Porto Alegre
Ilusão De Ótica
Perfeita Simetria
Adorado pelos fãs, detonado pela crítica especializada, notadamente na revista Bizz, as letras de Humberto Gessinger esbanjam sobriedade e frases clichés que somam aos ouvidos, com verdadeiras verborragias tais como Anoiteceu em Porto Alegre e A Violência Travestida… se assemelham a crónicas.
Mas produziu pérolas que até hoje são canções obrigatórias nos concertos: Pra Ser Sincero e Era Um Garoto… (regravação de um conjunto chamado Os Incríveis e que flertavam com um som mais popular, quase um pecado para o status de roqueiros que muitos queriam manter à época). Passados três décadas, e em entrevista mais recente, Humberto Gessinger parece não ter saudades de toda a exposição desse período, lembrando ainda que era chato mesmo ver os Engenheiros em tudo, tipo se ligar o chuveiro sai primeiro uma canção dos Engenheiros, e só depois a água.

Lembro-me que foi um álbum que ouvi bastante, pois a minha patroa havia comprado dois discos, para compor a trilha sonora da tasca, e um foi exatamente este. “O Papa É Pop” é iconoclasta e diz muito até hoje, é uma das grandes “sacadas” do rock Brasil daquele período. Vai assim a canção:
“Todo mundo tá relendo o que nunca foi lido
Todo mundo tá comprando os mais vendidos
Qualquer nota, qualquer notícia
Páginas em branco, fotos coloridas
Qualquer nova, qualquer notícia
Qualquer coisa que se mova é um alvo
E ninguém tá salvo
Todo mundo tá revendo o que nunca foi visto
Tá na cara, tá na capa da revista
Qualquer nota, uma nota preta
Páginas em branco, fotos coloridas
Qualquer rota, rotatividade
Qualquer coisa que se mova é um alvo
E ninguém está a salvo
Um disparo, um estouro
O papa é pop, o papa é pop
O pop não poupa ninguém
O papa levou um tiro à queima roupa
O pop não poupa ninguém
O papa é pop (o presidente é pop)
O papa é pop (um indigente é pop)
O pop não poupa ninguém (nós somos pop também)
O papa levou (a minha mente é pop)
Um tiro à queima roupa (a tua mente é pop)
O pop não poupa ninguém
Uma palavra na tua camiseta
O planeta na tua cama
Uma palavra escrita a lápis
Eternidades da semana
Qualquer nota, qualquer notícia
Páginas em branco, fotos coloridas
Qualquer coisa quase nova
Qualquer coisa que se mova é um alvo
E ninguém tá salvo
Um disparo, um estouro
O papa é pop, o papa é pop
O pop não poupa ninguém
O papa levou um tiro à queima roupa
O pop não poupa ninguém
O papa é pop (o presidente é pop)
O papa é pop (um indigente é pop)
O pop não poupa ninguém (nós somos pop também)
O papa levou (antigamente é pop)
Um tiro à queima roupa (atualmente é pop)
O pop não poupa ninguém
Toda catedral é populista, é pop
É macumba pra turista
E afinal o que é rock ‘n’ roll?
Os óculos do John ou o olhar do Paul?
O papa é pop, o papa é pop
O pop não poupa ninguém
O papa levou (o papa é pop)
Um tiro à queima roupa (o papa é pop)
O pop não poupa ninguém
O papa é pop, o papa é pop
O pop não poupa ninguém
O papa levou (o papa é pop)
Um tiro à queima roupa (o papa é pop)
O pop não poupa,
O pop não poupa,
O pop não poupa ninguém.

Afinal, o que é rock n’ roll? Os óculos de John ou o olhar de Paul? Forma e conteúdo, tipo roupa de couro de metaleiro, a tirada é de um olhar sagaz e inteligente. Na escola, como era da tribo dos Titãs, detratava a banda Engenheiros, mas escondido lia e ouvia tudo do trio formado por Humberto – Augusto – Carlos.
Um disco maravilhoso e uma prova de inteligência na música popular brasileira.
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