OBarrete

Porque A Arte Somos Nós

viva o rock brasileiro #17

Após dois álbuns fantásticos, “Cabeça Dinossauro” e “Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas” (já analisados aqui) e um ao vivo no festival de Montreux, na Suíça, “Go Back”, era dada a hora de um disco novo, e os oito Titãs se esmeraram para produzirem o seu 5.º trabalho de estúdio, “Õ Blesq Blom”, lançado em 1989. A setlist apresenta:

Introdução por Mauro e Quitéria

Miséria

Racio Símio

O Camelo e o Dromedário

Palavras

Medo

Natureza Morta (esta faixa foi veiculada apenas no formato CD)

Flores

O Pulso

32 dentes

Faculdade

Deus e o Diabo

Vinheta final por Mauro e Quitéria

A introdução e vinheta foram descobertas dos músicos com dois repentistas que viviam nas praias de Recife, capital da província Pernambuco, cantando em dialeto próprio e com ritmos nordestinos. Um dos músicos foi até a praia, gravou alguns daqueles sons e os dois populares chegaram inclusive a apresentarem-se em concertos dos músicos.

Miséria é uma canção tristemente atual no Brasil, O Camelo e o Dromedário cantada por Paulo Miklos enumera as diferenças entre os dois ruminantes, numa letra bastante interessante. Palavras são tudo aquilo que dizemos, sentimos e escrevemos, de um lirismo muito bonito e Arnaldo Antunes berra acerca dos medos que todos sentimos em Medo.

Os Titãs são uma banda formada na cidade de São Paulo, Brasil em 1982. Celebram em 2022 quarenta anos de carreira

Flores tinha tudo para ser um hit. E foi. Numa letra esmerada e que aborda o suicídio, há flores em tudo o que eu vejo demonstra um defunto num caixão. Mas é em O Pulso que o estranhamento se dá na elencação de várias enfermidades, acrescidas de algumas doenças morais. Decorar esta letra era um exercício à época, e felizmente consegui narrar este corpo doente, tanto físico quanto social. Vai assim:

O pulso ainda pulsa

O pulso ainda pulsa

Peste bubônica, câncer, pneumonia

Raiva, rubéola, tuberculose e anemia

Rancor, cisticercose, caxumba, difteria

Encefalite, faringite, gripe e leucemia

E o pulso ainda pulsa (pulso)

(Pulso)

O pulso ainda pulsa (pulso)

(Pulso)

Hepatite, escarlatina, estupidez, paralisia

Toxoplasmose, sarampo, esquizofrenia

Úlcera, trombose, coqueluche, hipocondria

Sífilis, ciúmes, asma, cleptomania

E o corpo ainda é pouco

O corpo ainda é pouco

Assim

Reumatismo, raquitismo, cistite, disritmia

Hérnia, pediculose, tétano, hipocrisia

Brucelose, febre tifoide, arteriosclerose, miopia

Catapora, culpa, cárie, cãibra, lepra, afasia

O pulso ainda pulsa

E o corpo ainda é pouco

Titãs

Faculdade e Deus e o Diabo são outras músicas destacadas, e no todo foi um disco muito tocado nas rádios, confirmando os Titãs como uma das melhores bandas do país, flertando também com a pop, chegando mesmo a serem elogiados pela celebridade musical à época, e que perdura até hoje, Caetano Veloso. Este foi um dos primeiros álbuns que comprei, e a ver a verdadeira obra de arte que foi a capa e contracapa, mais encarte e afins. Descreverei aqui a letra de Racio Símio, uma das faixas mais reflexivas e existenciais, um lado B e menos tocada pelo conjunto. Vai assim:

O anão tem um carro com rodas gigantes

Dois elefantes incomodam muito mais

Só os mortos não reclamam

Os brutos também mamam

Mamãe eu quero mamar

Eu não tenho onde morar

Eu moro aonde não mora ninguém

Quem tem grana que dê a quem não tem

Racio símio, racio símio, racio símio, racio símio

Quem esporra sempre alcança

Com Maná adubando dá

Ninguém joga dominó sozinho

É dos carecas que elas gostam mais

A soma do quadrado dos catetos é o quadrado da hipotenusa

Nem tudo que se tem se usa

Racio símio, racio símio, racio símio, racio símio

Racio símio, racio símio, racio símio, racio símio

Os cavalheiros sabem jogar damas

Os prisioneiros podem jogar xadrez

Só os chatos não disfarçam

Os sonhos despedaçam

A razão é sempre do freguês

Eu não tenho onde morar

Moro aonde não mora ninguém

Quem come prego sabe o cu que tem

Racio símio, racio símio, racio símio, racio símio

Na tribo da juventude, escolhi os Titãs como banda preferida e levava para o trabalho, como atendente numa tasca, uma fita K7 com os sucessos do grupo, para desespero da minha patroa e dos demais clientes. Coisas da juventude. Mal sabia eu que o grupo se apresentaria na minha cidade naquilo que seria o primeiro concerto da minha vida.

Marcelo Pereira Rodrigues

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One thought on ““Õ Blesq Blom”, Titãs: A confirmação da excelência

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