“Corpse Bride” (2005) – em português, “A Noiva Cadáver” – conta a história das famílias de Victor (Johnny Depp – voz) e Victoria (Emily Watson – voz), que estão a “arranjar” o casamento entre eles. Nervoso com a cerimónia, Victor vai sozinho à floresta para ensaiar os seus votos. No entanto, o que ele pensava ser um tronco de árvore, na verdade, é o braço esquelético de Emily (Helena Bonham Carter – voz), uma noiva que foi assassinada depois de fugir com o seu amor. Este filme de animação foi escrito por Tim Burton, Carlos Grangel, John August, Caroline Thompson e Pamela Pettler, estando a realização ao encargo de Burton e Mike Johnson.
De facto, este é uma longa-metragem com uma profundidade incrível, na medida em que explora a verdadeira essência do amor, conseguindo levar a narrativa a um rumo muito coeso e dinâmico, sem nunca abandonar as suas âncoras emocionais. Temos na nossa personagem principal, Victor, a figura de uma pessoa insegura, um tanto ou quanto desajeitada e com certos receios do casamento. No entanto, a verdade é que a ligação que estabelece com aquela que é a escolhida para ser a sua esposa, Victoria, é imediata e consistente, tornando um casamento forçado numa união com bastante significado.

Contudo, e após o desastre que foram os seus preparativos para o ensaio de casamento, no qual não conseguiu decorar os seus votos, acaba por, num momento de introspeção, os reproduzir de forma integral e eximiamente. Contudo, uma rapariga do universo dos mortos (“a noiva cadáver”), Emily, ouve a declaração de Victor e leva-o para o seu mundo, na esperança de que ele estivesse a celebrar um casamento com ela. Victor percebe as suas motivações; no entanto, apenas quer encontrar uma forma de voltar ao universo dos vivos e imortalizar o seu amor por Victoria.
O próprio facto de Victoria ser uma derivação do nome Victor abraça a ideia de que estes estavam, desde o seu nascimento, ligados de alguma forma. O filme não é inocente na sua profundidade sentimental sublime, conseguindo construir uma história com um princípio, meio e fim deveras prolíficos na sua mensagem. Além disso, tem todo um ambiente bastante sombrio, já característico em Tim Burton, que adensa todo o terror e suspense da narrativa, mas que, no fundo, é uma espécie de “pseudo-terror”, uma vez que a mensagem que espalha é de bastante esperança e conforto.
A verdade é que, muitas vezes, temos de ser capazes de deixar o outro ir se este for o seu caminho mais sentido. O amor é um sentimento bastante complexo, e aqui em “Corpse Bride” o que é conseguido é, no fundo, uma magia entre realidade e ficção (irrealidade), onde o que coexiste é uma força íntegra, bela e introspetiva, que confere ao filme, como um todo, uma intelectualidade muito forte e atrativa.

Este filme de animação musical faz com que, muitas vezes, os sentimentos das personagens sejam de tal forma bem materializados nas canções, que a sensação que transmite ao espectador é, ao mesmo tempo, de um profundo envolvimento com a essência narrativa, mas também de conforto para com a beleza da personalidade das nossas personagens e, também, para com o character development adjacente.
Além disso, toca na questão dos casamentos “arranjados”, nas motivações que muitas vezes os pais têm ao organizar esse tipo de evento, assim como na perspetiva, por exemplo, de que uma família mais pobre consiga ficar mais estável financeiramente caso o seu filho ou filha case com alguém de boas posses. Tudo isso é bem explorado ao longo da narrativa.
Assim, “Corpse Bride” assume-se como um dos filmes de animação de teor terrorífico mais consistentes e obrigatórios, uma vez que tem a capacidade de, na sua forma, se mascarar de sombrio, mas de, na verdade, partilhar com o mundo da sétima arte uma mensagem extraordinária de vida, de brilho, de completude para com o carácter e importância sui generis que o amor tem nas nossas vidas.
Por um cinema feliz.
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