viva o rock brasileiro #3
Lado A
Eu gosto de mulher
Dênis, o que você quer ser quando crescer?
Terceiro
A Festa
Prisioneiro
Lado B
Sexo!!
Pelado
Ponto de ônibus
Maximillian Sheldon
Will Robinson e seus robots
Quando fui sondado para que presente gostaria de receber de um amigo secreto, não tive dúvidas em propor: o disco “Sexo!!” dos Ultraje a Rigor. Se a minha prima tinha dezenas de discos, era chegada a hora de eu ter os meus. A banda Ultraje era formada por quatro rapazes cabeludos e que mandavam bem no permanente, estilo de corte de cabelo que os faziam parecer ter jubas de leões. A formação clássica deste álbum era Roger Moreira nos vocais e guitarras, Maurício no baixo, Serginho nas guitarras e Leôspa na bateria. Som cru e direto, com a irreverência a dar tom às músicas libertárias e escrachadas.
Aos 13 anos, confirmei que gostava de mulher mesmo, mas claro que não tinha dúvidas quanto a isso. Escrevo isto para abordar a canção Eu gosto de mulher. Na faixa que empresta título ao álbum, mais do que falar de sexo, a letra aborda a censura e não podia ser mais direta. É uma das melhores letras da banda, composta por Roger e Maurício.
“Sexo
Sexo
Como é que eu fico sem sexo?
Eu quero sexo
Me dá sexo
Hoje vai passar um filme na TV
Que eu já vi no cinema
Epa, mutilaram o filme
Cortaram uma cena
E só porque
Aparecia uma coisa
Que todo mundo conhece
Se não conhece
Ainda vai conhecer
E não tem nada de mais
Se a gente nasceu
Com uma vontade
Que nunca se satisfaz
Verdadeiro perigo
Na mente dos boçais
Corri pro quarto
Acendi a luz
Olhei no espelho
O meu ‘tava lá
Ainda bem
Que eu não ‘tô na TV
Se não ia ter que cortar
Ui
Sexo
Como é que eu fico sem sexo?
Eu quero sexo
Me dá sexo
Sexo

Como é que eu fico sem sexo?
Eu quero sexo
Vem cá sexo
Bom
Vá lá, vai ver
Que é pelas crianças
Mas quem essa besta pensa
Que é pra decidir?
Depois aprende por aí
Que nem eu aprendi
Tão distorcido
Que é uma sorte eu não
Ser pervertido
Voltei pra sala
Vou ver o jornal
Quem sabe me deixam
Ver a situação geral
E é eleição, é inflação
Corrupção e como tem ladrão
E assassino e terrorista
E a guerra espacial
Socorro
Eu quero sexo
Me dá sexo
Como é que eu fico sem sexo?
Sexo
Me dá sexo
Me dá sexo
Eu quero sexo
Sexo
Eu quero sexo
Como é que eu fico sem sexo?
Me dá sexo
Me dá sexo
Eu quero sexo
Como é que eu fico sem sexo?
Sexo
Sexo
Eu quero sexo
Como é que eu fico sem sexo?
Vem cá sexo
Senta sexo
Vem cá sexo
Me dá sexo
Solta sexo
Ansiava por assistir a performances na televisão, os músicos chegaram a apresentar-se na cidade onde eu morava, mas não tinha idade suficiente para comparecer. Uma lástima! À época, o Ultraje estava bem badalado e isso ajudava a mitigar a vontade de vê-los ao vivo, por mais que não saberia comportar-me em direito. Pelado foi o clipe de abertura de uma novela na TV Globo, “Brega & Chique” (1987), e a televisão aberta foi ousada ao expor o nu traseiro de um homem, o ator e modelo Vinicius Manne. De forma que ouvia esta canção de segunda a sábado, forçosamente.
Contraditoriamente às dezenas de discos que estavam ao meu alcance na casa da minha prima, quando a minha família se mudou para uma cidade mais do interior ainda, a famosa roça, só pude levar este disco e um outro que havia comprado, tema do próximo relato. De forma que ouvia ininterruptamente as canções, para desespero da minha mãe, temente a Deus. Visualizava a capa do álbum e aquela imagem austera, de um casal bem vestido à espera do seu bebé (seria o seu bebé?) com uma enfermeira.
O ambiente límpido da maternidade passava uma impressão das mais sérias, e o que dizer das poses metaleiras dos cabeludos dos integrantes no encarte? Terceiro, Ponto de ônibus e Prisioneiro são outras excelentes canções deste disco, mesmo que esta última destoe um pouco ser mais séria e política.
A banda paulistana que já excursionava o Brasil inteiro antes deste LP, continuou e a superexposição contraditoriamente deve ter levado à exaustão, pois três anos após a geração rock nacional foi perdendo fôlego nas rádios, à época a principal plataforma de veiculação. Pena atualmente a indústria fonográfica não possibilitar pelo menos o CD de “Sexo!!”, pois é um registo histórico de música e de deboche, com críticas sociais e comportamentais que abrangem bem aquele período.
“Sexo!!” marcou-me como uma tatuagem na alma. E isso não é pouca coisa…
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One thought on ““Sexo”, Ultraje a Rigor: O primeiro LP que ganhei”