“Barakah yoqabil Barakah” é um filme do realizador Mahmoud Sabbagh e conta no elenco com nomes como os de Hisham Fageeh, Fatima AlBanawi, Sami Hifny ou Khairia Nazmi. Um drama/comédia de 1h28min produzido na Arábia Saudita e que nos leva a muitas reflexões. Primeiro pelo exótico. A premissa aponta para um jovem fiscal da Prefeitura de uma cidade do interior do país que não vê muito sentido nas suas funções, já sabedor que faz cumprir as leis das quais ele mesmo parece não acreditar.
São regras e mais regras, algumas despropositadas, e outras práticas, como alertar um comerciante para que não estenda as suas bancas para a calçada do passeio, limitando assim a passagem dos pedestres. Encontra algum prazer na vida convivendo no seu bairro da periferia com uma tia que parece ser a curandeira do sítio. Na TV estatal a programação não é lá muito convidativa e ele ouve música.

Cultura e arte só lhe são possíveis quando, relutantemente, aceita um papel numa das peças de William Shakespeare, “Hamlet“, para interpretar Ofélia. O amigo que estava a produzir a peça vislumbrava um retumbante sucesso. Nos ensaios e na apresentação em si, com parcas pessoas no público (e bota parcas nisso) é engraçado ver Ofélia de barba e desempenhando um papel canastrão. Um olhar atento indica que às mulheres são vedadas as participações nos eventos públicos (apenas com a ordem e companhia dos maridos) e no que toca a apresentações culturais, é melhor esquecer.
Até que numa das suas perambulações, o fiscal acaba por se esbarrar num set de filmagens e enamora-se da estrela da campanha, uma modelo de uma marca famosa e reconhecida no Instagram ao anunciar os seus modelos e quando observamos alguns posts da rapariga, entendemos o porquê de o seu rosto aparecer cortado e, claro, pelos motivos óbvios já sabidos. Os dois jovens encontram-se furtivamente em armazéns e de forma rápida. Nenhum toque entre eles e apenas palavras e acordos de namoro, mas o certo é que a beldade é muita areia para o camiãozinho do fiscal. Contudo, isso não impede os flirts e o facto de ela parecer estar a brincar com ele.

Dá para perceber que ela já está cansada de ser uma celebridade que não pode mostrar o rosto, que se sente explorada e está diuturnamente viciada nas suas postagens e contagem de quantos curtiram e passaram a segui-la. Quando penetramos no núcleo da sua família, percebemos a riqueza e o glamour, o pai sai para passear conduzindo um “simples” Ferrari e a mãe, coitada, tem sérios problemas em engravidar. O pai necessita de um varão, para lhe passar a herança e é quando ficamos a saber que a filha não era legítima, mas sim adotada. Ela pondera participar numa campanha publicitária milionária, na casa dos milhões de dólares, e assim a coisa vai.
O amor e o enlace tornam-se impossíveis, mesmo ambos descobrindo terem o mesmo sobrenome (seria uma indicação de Alá?), mas no final um encontro e uma amizade (talvez colorida) entre eles sobressaem-se o recato e o cuidado. Nas entrelinhas conseguimos captar muito bom humor e ironias do destino, sendo que contrapondo as culturas árabes e ocidental, não avento aqui fazer juízos de valor sobre os procedimentos e acerca do crescente Movimento Feminista mundo afora, pois ao tratar-se da Arábia Saudita esqueçam. Lá é interdito qualquer manifestação neste sentido.
O filme está disponível na Netflix Brasil, tendo sido realizado no ano de 2016, e serve-nos de ensinamento a não reclamarmos das nossas opções culturais e da aventada discriminação contra as mulheres. Quem sabe não estamos todos nós, ocidentais, a chorar de barriga cheia?
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