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Porque A Arte Somos Nós

Alexandre Costa e Pedro Horta são dois jovens portugueses apaixonados pelo cinema. Formaram-se na Escola de Tecnologias Inovação e Criação do Algarve em Realização, Cinema e TV. Exprimem os seus sentimentos pela Sétima Arte de múltiplas formas. De uma perspetiva mais teórica, pela escrita de críticas de cinema, onde absorvem a magia das obras e a descrevem por palavras. De um prisma prático, através da realização de projetos onde colaboram com frequência.

Começaram a trabalhar juntos ainda em âmbito curricular. Com Costa na realização e Horta à frente do argumento, idealizaram uma breve publicidade apelidada “Socorro!“, que teve como objetivo sensibilizar para uma mudança de paradigma que deve ser travada. Um exercício onde a vida humana é trocada pelo preciosismo de um aparelho eletrónico. Cada vez mais a tecnologia consome a vida quotidiana e quando um pequeno grande plot twist surge nos últimos instantes é impossível não refletir. Por drástico que seja.

Imagem retirada da publicidade “Socorro!”

No entanto, foi na primeira curta-metragem de ficção que as suas asas criativas começaram a bater. Desta feita a realização coube a Horta, com Costa a trabalhar a seu lado como 1.º assistente de realização. O projeto, de seu nome “Solo” (2018), é um drama musical que conta a história de J (Diogo Simão), um saxofonista que na véspera do concerto na Mostra Internacional de Jazz encontra um coração na mala do seu instrumento. J esperara uma década por este momento, como refere o seu companheiro de banda, Armando (Mário Spencer), mas um encontro com uma ex-companheira (Sara Mendes Vicente) coloca em check a sua performance.

É um filme deliberadamente provocador. A fotografia a preto-e-branco é interrompida pela indumentária da femme fatale da narrativa. Sara Mendes Vicente está envolvida em vermelho, tão sensual quanto mortal. Encarna uma confiança perigosa, quer pela sua atitude no ecrã como pelo efeito que evidencia no protagonista. Ela é parte do mistério, uma peça-chave nas pistas que vão sendo deixadas no decorrer da curta. Migalhas que sustentam o interesse do início ao fim.

Os atores Diogo Simão e Sara Mendes Vicente

As breves intervenções musicais acrescentam à estética uma componente simbiótica. Como se o som e a imagem fossem um só, inseparáveis, coesos. E mesmo que no fim permaneçam mais questões do que respostas, indagar sobre as mesmas é parte do proveito. “Solo” equilibra com relativa destreza o seu lado mais oculto com o expositivo, recompensando assim múltiplas visualizações.

Rating: 3 out of 4.

Dois anos depois a dupla retoma com a curta-metragem “Alfredo“, que tive oportunidade de ver antecipadamente, de forma restrita. A realização ficou a cabo de Costa e Horta, enquanto o argumento foi assinado apenas por Horta. O crescimento de ambos foi acompanhado de uma mudança de registo cinematográfico. O drama psicológico é suportado por tendências claras de terror, onde o vermelho volta a denotar simbolismo importante.

Miguel Ponte é Alfredo, a personagem título, que vive um quotidiano embaciado. Ele está desempregado, sem rumo na vida e o banco tem a sua casa na mira. A desajudar, a sua mente é recorrentemente infetada por um pesadelo tenebroso que o incapacita.

Miguel Ponte no papel de Alfredo

A luz chega na forma de Maria (Sara Mendes Vicente, a recuperar o lugar à frente das câmaras), uma amiga de Alfredo que o procura orientar com um trabalho no talho do seu avô. A primeira parte da curta é sem dúvida promissora. Os cineastas voltam a apostar na ambiguidade como força motriz da narrativa, com um protagonista perturbado. Para maximizar o efeito, a realização trabalha em conjunto com a montagem e a direção de arte para evocar um sentimento de inquietação.

Algo que transita com sucesso para a segunda parte da curta, ainda que esta seja menos bem conseguida. O excesso de inclusão imagética alusiva ao trauma assinala alguma falta de confiança na história, ou na eficácia da comunicação da mensagem central. Isto, aliado ao facto do protagonista não ser desenvolvido para além do seu ofício, retiram algum mérito ao filme. É cinema de horror que entretém mais do que provoca, um aspeto que em “Solo” foi diferenciador.

Rating: 2.5 out of 4.

Bernardo Freire

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