Para “The New Mutants”, o facto de eu estar a escrever esta crítica é em si mesmo um milagre. Não por qualquer tipo de privilégio associado às minhas palavras, mas sim porque havia fortes probabilidades de o filme não chegar a ver a luz do dia. A primeira data de estreia estava apontada para 13 de abril de 2018. Depois de não ter sido cumprida, foi adiada mais cinco vezes. Cinco vezes! Até finalmente estrear no final do verão de 2020.
Não estava a contar os dias para o ver, embora no fundo do meu ser houvesse uma certa curiosidade mórbida em perceber a razão de tanto suspense. Dadas as condições problemáticas da produção, o resultado está longe de ser um crime do subgénero dos super-heróis, ainda que falhe em alcançar a barra da mediocridade.
O filme é liderado pelo cineasta norte-americano Josh Boone e conta a história de Danielle Moonstar (Blu Hunt), uma adolescente incomum que depois de passar por uma experiência paranormal acorda num edifício de pesquisa abandonado. À espera do seu despertar está a enigmática Dr.ª Cecilia Reyes (Alice Braga), que rapidamente a coloca em contacto com mais quatro adolescentes especiais: Illyana Rasputin (Anya Taylor-Joy), Sam Guthrie (Charlie Heaton), Rahne Sinclair (Maisie Williams) e Roberto da Costa (Henry Zaga).
Como ainda não têm total controlo das suas habilidades, os mutantes acreditam que estão enclausurados no edifício por serem um perigo para a sociedade e para eles próprios. Mas assim que começam a experienciar alucinações horripilantes, o grupo questiona o seu estatuto na organização.

Um cruzamento de ação, mistério e terror é a proposta basilar de um argumento que se encontra incapaz de concretizar quaisquer dos elementos em pleno. A ação é tardia, o mistério demasiado baunilha (sem desprezo para com o sabor) e o horror, além de ordinário, só vai ser eficiente com alguns pré-adolescentes. O que faz com que o corpo que anima o motivo narrativo seja efetivamente fraquinho. No entanto, a moral da história, relacionada com o reconhecimento e a superação do medo, está percetível e até algo pertinente.
Além de que, se acaba por haver algum proveito, este está relacionado com os intérpretes e as relações que estabelecem entre si. Há algo de perfeitamente tolerável em ver, por exemplo, Illyana Rasputin a fazer troça de Danielle Moonstar. Num papel claramente inspirado por Lisa, a personagem interpretada por Angelina Jolie em “Vida Interrompida” (1999). Aliás, todo o filme constitui um rascunho dos traços de personalidade do drama biográfico do cineasta James Mangold, desde o cenário aos eventos mais específicos da narrativa.
O que carece é de um estabelecimento de personagens sólido, um desenvolvimento inventivo e sequências menos descartáveis. A estratégia do segundo ato é repetida até à exaustão: uma referência visual alude à cicatriz emocional de um qualquer mutante. Mais cedo ou mais tarde, essa marca é pressionada por um evento assustador no papel e pouco tempo depois a pessoa em causa está a desabafar o seu abalo a um companheiro. É uma abordagem prática, acessível, mas em última instância previsível e desinteressante.

Por falar em desinteresse! Blu Hunt, no papel de Danielle Moonstar, interpreta a cabeça de cartaz mais aborrecida da memória recente. Não só peca em personalidade quando comparado a qualquer um dos seus pares, como a influência que exerce na história é deveras passiva, tendo passado ao lado 90% do filme até que um momento eureca quebra a inércia que até então se sentia. Um aspeto que define pela negativa o argumento coescrito pelo cineasta, em parceria com Knate Lee.
Não é que “The New Mutants” tivesse a pretensão de ser algo que não uma obra de puro escapismo. Todavia, até para entreter é preciso engenho, e essa não foi uma qualidade que o filme germinou ao longo dos anos que passaram desde a data que o iria encetar. Em vez disso, cultivou a paciência e expetativa dos fãs da saga “X-Men“, para a destruir em apenas hora e meia. É de lamentar a clara indefinição estratégica micro e macro da saga, assim como uma escrita rudimentar.
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