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O décimo álbum de estúdio dos norte-americanos Foo Fighters já devia ter chegado às lojas e às plataformas de streaming no ano passado, mas com o aparecimento da Covid-19, que levou ao adiamento de muitos projetos, desde filmes a festivais, o novo trabalho da banda “de Dave Grohl” não foi exceção. Já passível de ser ouvido, “Medicine At Midnight” vem confirmar as expetativas de quem esteve mais atento aos singles e a algumas declarações por parte dos músicos. Este é o reflexo de uma banda madura, com vontade de experimentar novos caminhos mas por vezes demasiado confortável, ao ponto de nos esquecermos que estes são os mesmos Foo Fighters de “Wasting Light” (2011).

O álbum foi gravado numa casa datada da década de 1940, e como o próprio guitarrista e vocalista da banda afirmou, segundo a Pitchfork, este está para os Foo Fighters como “Let’s Dance” está para David Bowie. Fica o aviso que não é bem assim, apesar de “Medicine At Midnight” realmente soar mais pop do que seria desejado – com alguma mestria à mistura. Pelo facto de haver uma maior abrangência sonora neste trabalho, o próprio Grohl concordou que ao início as coisas estavam a soar muito estranhas. Contudo, foram precisos apenas cinco meses para gravar as nove faixas de “Medicine At Midnight”.

O álbum arranca ao som de Making a Fire, onde o primeiro instrumento a ser ouvido é a bateria de Taylor Hawkins. Tudo muito bem até às vozes de apoio, nas quais está incluída a filha de Dave Grohl, Violet Grohl, que dá um toque demasiado colorido à garra habitual dos Foo Fighters. A um nível mais pop funciona, mas longe do rock and roll que a banda já nos apresentou. Talvez ao vivo ganhe outra vida. Estas influências possivelmente estão associadas ao produtor Greg Kurstin, que tem no seu currículo colaborações com artistas como Adele, Pink ou Sia. Este produziu “Medicine At Midnight” em conjunto com a banda.

Shame Shame, o primeiro single a ser disponibilizado, é realmente algo interessante para quem ouve os Foo Fighters desde a década de 1990. Com violino à mistura, esta revela que o grupo pode ser bastante ousado a nível técnico, com a sua base rítmica a fazer lembrar um estilo mais R&B. Com a voz de Grohl a parecer um pouco distante, o destaque vai para a simplicidade aliada à coragem em fazer algo novo a partir de uma simples jam. Com mais garra chegamos a Cloudspotter, um carregar no acelerador que nos remete às saudades de ir a um concerto. Uma música que faz lembrar um pouco os Kiss, tirando a sua secção de backing vocals.

Os membros dos Foo Fighters, da esquerda para a direita: Taylor Hawkins (bateria), Nate Mendel (baixo), Dave Grohl (voz e guitarra), Pat Smear (guitarra), Chris Shiflett (guitarra) e Rami Jaffee (teclas)

Waiting On A War, o último single a ser apresentado antes do lançamento do álbum, é um dos pontos altos nesta aventura. A canção apresenta um crescendo do início ao fim, recheada de drama graças ao violino e ao violoncelo, até à explosão nuclear que relembra a música de “Sonic Highways” (2014), Something From Nothing. Os Foo Fighters a mostrar a sua essência. Entramos na segunda metade da obra com a faixa que dá nome ao álbum, Medicina At Midnight.

I need Medicine At Midnight, but it ain’t no cure” – só os artistas podem revelar os verdadeiros significados das suas letras, mas posso dizer que quem ainda consegue criar músicas assim não precisa de grande cura. Não é genial, mas é daquelas canções que passariam facilmente numa rádio mais comercial e não teríamos vontade de mudar de estação. No Son Of Mine também merece respeito, pois é fiel ao ADN da banda, contudo, é mais uma pequena diversão do que propriamente um acrescento. Holding Poison consegue também ser um ponto positivo do álbum, principalmente devido à sua secção a meio da composição que muda completamente o ritmo da mesma, tornando-a mais intensa e energética – voltando depois à base.

Entramos na fase final com calma: Chasing Birds oferece-nos uma faceta dos Foo Fighters mais contemplativa, diversificando assim “Medicine At Midnight” com uma balada suave. Tendo em conta as audições anteriores, esta faixa ocupa o lugar certo neste trabalho. Atrevo-me mesmo a dizer que seria a música ideal para finalizar a experiência. Contudo, esse papel foi entregue a Love Dies Young, que começa com um riff de guitarra a fazer lembrar um pouco o êxito das Heart, Barracuda. Uma canção rápida e alegre, que faz jus à energia que os Foo Fighters são capazes de imprimir.

Se no parágrafo anterior afirmei que Chasing Birds seria uma ‘boa última canção’, esta Love Dies Young também cumpre muito bem a sua função. Tendo em conta a discografia da banda, este fechar da cortina remete-me para uma esperança sentida no fim de “Wasting Light” com Walk. Sublime, fresco, pop e, acima de tudo, forte.

“Medicine At Midnight” é a prova de que os Foo Fighters estão com necessidade de inovar e de chegar a um público um pouco mais abrangente. Em certa medida é uma consequência natural da longevidade da banda, mas é importante, principalmente por carregar uma responsabilidade dentro do legado do rock, manter a aura e a energia que tanto caracteriza o passado e o presente do grupo. A meu ver, esta é uma evolução positiva comparando com o último trabalho, “Concrete and Gold” (2017), que mostrou um grupo um pouco “perdido”. Simultaneamente, “Medicine At Midnight” é um trabalho a duas velocidades. Em ambas há faixas mais bem conseguidas do que outras.

Sem grandes destaques individuais, a banda parece estar confortável. Já lá vão os tempos de “The Colour And The Shape” (1997), mas acredito que ao vivo possamos ter algumas surpresas no que toca às interpretações das mais recentes criações. Dentro desta aventura um pouco mais pop, somos presenteados com qualidade no que toca ao trabalho feito no estúdio, contudo este contrasta com outros momentos onde as primeiras ideias que vieram à cabeça foram estampadas no produto final e não se perdeu muito tempo a pensar como é que estas poderiam ser melhoradas. Em escala Foo Fighters: chill.

Rating: 2.5 out of 4.

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