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Porque A Arte Somos Nós

Recentemente, li “O Cão do Filósofo“, do escritor e filósofo alemão Raimond Gaita (Difel, 2011, 240 p.). O livro de ensaios e memórias aborda a relação que nós, seres humanos, temos com os animais, os de estimação e os habitantes da Natureza como um todo. Livro muito bem escrito, foi com destaque que fiquei conhecer Jack, a cacatua; Orloff, o cachorro; Zac, o outro cachorro; Gypsy, a pastora alemã, etc. À medida que lia, sofri com os dramas dos animais, com as suas enfermidades, senilidades e mortes, mas tudo descrito de forma carinhosa por um pensador que demonstrou ser amigo.

E é aí que quero chamar a atenção para algo fundamental: não nos cabe a nós assenhorarmos os animais entendendo que eles são propriedades nossas e simples objetos. Não! Os animais domésticos são nossos companheiros, amiguinhos na melhor aceção da palavra. Como moro num apartamento, e convivo hoje com dois gatos, Ted e Lionel Messi, estes circulam pela casa e já se assenhoraram dos espaços e lugares que são deles (adeus minha confortável poltrona de leitura).

As mortes de Chita e Ronaldo Fenómeno deixaram a casa mais triste, se bem que brinco que Ronaldo era uma mistura entre gato e porco. Êta gato bagunceiro! Adotei há pouco o capetinha Zen. O nome foi pensado de forma a acalmar este arruaceiro gatinho.

Irei colocar a ciência nesse afeto todo. Depois de lermos a teoria da Evolução de Charles Darwin (1809-1882) passamos a ter uma compreensão bem exata da nossa efemeridade e do nosso papel no mundo. Li “Evolução” (Companhia das Letras, 2009, 792 p.), do escritor e geneticista Richard Dawkins (1941 -) e percebi o seu brilhante encadeamento de todas as formas de seres vivos, desde vírus a bactérias, até chegarmos a este momento da vida no planeta Terra. Essa leitura afetou-me profundamente: vejo-me agora no banheiro, a tentar salvar uma desavisada formiga que se está a afogar.

Richard Dawkins

Abaixo-me com a bucha de esfregar, faço dela rampa e tão logo a amiguinha sobe, coloco-a na janela, para que se salve. Com desavisados besouros, faço o mesmo. Coloco-os numa pazinha e levo-os a um terreno baldio vizinho, para que retorne ao seu habitat natural. E assim sigo, tendo a clara compreensão de que nós, seres dotados de inteligência, fazemos questão, em muitos casos, de não fazermos uso da massa cinzenta, pois destruímos o meio ambiente e depois reclamamos de temperaturas elevadas, quatro estações num mesmo dia, cheias e outras calamidades decorrentes do nosso pouco cuidado.

Que tenhamos nos nossos animais domésticos o senso da responsabilidade, do cuidado, do afeto. Entendendo que remédios e visitas periódicas ao veterinário são investimento e carinho, nunca um custo. Se somos frios de coração, compremos aqueles gatos de pelúcia que ronronam calmamente movidos a pilhas e baterias nas lojas chiques dos shopping centers. Como peça de decoração, os objetos servem. Para os nossos amiguinhos, entendamos que eles mijam, cagam, vomitam, ficam doentes e soltam pelos. Mas divertem-nos com as suas macaquices e jeito de ser.

Todos os animais domésticos com os quais convivi ao longo da vida fizeram-me um ser humano melhor. Aliás, como é um processo contínuo, e sei que para ser melhor devo trabalhar a cada dia, espero solenemente ter mais oportunidades de convivências. Dedico esta crónica aos nossos queridos amiguinhos.

Marcelo Pereira Rodrigues

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