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Porque A Arte Somos Nós

O filme “A Nossa Terra, O Nosso Altar”, de André Guiomar, é um longa-metragem que retrata um processo de gentrificação comum em Portugal como um todo. Neste caso específico, aponta para o bairro do Aleixo, na Cidade do Porto, e a vida comum dos seus moradores, com todos os seus dramas pessoais e saudades. Ao longo de sete anos, e a partir das notificações judiciais para que as famílias desapropriem o espaço, e à medida em que o tempo passa, a melancolia do lugar abandonado e das portas concretadas (indicando catacumbas) vai nos oferecendo uma tristeza compartilhada. Esse sursis temporal acompanha a rotina dos seus residentes, impotentes diante do facto.

Para um brasileiro, o filme é exemplar para nos oferecer um choque de realidade. Pois, para nós, Portugal e a Europa como um todo são tidos como um Eldorado e para turistas, é forçoso visitarmos os lugares centrais das urbes, mas ficamos tais Buda antes da conversão (“Existe pobreza para além destes muros?”). Quebra paradigmas musicais, pois nas celebrações do povão ouvimos tudo, menos o cliché “em Portugal só se ouve fado” e à medida que vamos acompanhando as famílias e os seus dramas, o nosso sentimento humanitário aflora-se, pois para além do lugar existe as raízes das famílias que ali se criaram.

“A Nossa Terra, O Nosso Altar”

“O pobre não tem o direito de olhar para o rio”, é uma das máximas pichadas no prédio condenado à demolição. Como terapia de pobre passa ao largo de uma sessão psicanalítica, nada mais compreensível do que uma sessão de quebradeira do espaço com marretas aconteça. Por retratar a realidade, observamos pessoas reais, de carne e osso, com a sua beleza existencial e sofrida.

O culto a Israel (terá cometido suicídio?) e a dor lancinante da mãe é de fazer doer o nosso coração. Se para além do sofrimento é necessário tocar a vida e embalá-la com festas, nos churrascos das quadras polidesportivas, nas corridas clandestinas de automóveis com os seus “pegas” e exibições arriscadas, a vida segue e, mesmo desenraizada, pretende vingar num outro sítio, pois lembremos, “a vida é bela”…

Quando uma família assiste a uma reportagem na televisão que aponta a contagem regressiva para a demolição de um prédio, nada mais frio e distante que uma narração da apresentadora de um telejornal dizendo que tudo ocorreu sem incidentes e, ao fim, o que sobra são apenas escombros.

O documentário foi produzido pela Olhar de Ulisses e pela Cimbalino Filmes, com apoio da Escola de Artes e da RTP. Bem-vindos à vida real!

Este filme foi exibido no Porto/Post/Doc no dia 23 de Novembro (segunda-feira), às 20:30 horas, no Teatro Rivoli. Consulta a programação diária aqui.

Marcelo Pereira Rodrigues

Rating: 3.5 out of 4.

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