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E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mim um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mim vosso rio alegremente,
Daí-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloquo e corrente,
Porque de vossas águas, Febo ordene
Que não tenham inveja às de Hipocrene.
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Daí-me uma fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda;
Daí-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.
Invocação às Tágides, Canto I, estrofes 4 e 5 dos “Lusíadas“, de Camões
Sou uma tágide,
Ninfa do Tejo,
Cantada pelo Poeta,
Nereida que nada no rio,
Desci da Espanha
Num caudal imenso
Até chegar ao mar de Portugal.
Sou uma tágide,
Ninfa do Tejo,
O meu desejo é inspirar o Poeta,
Dar-lhe som alto,
Sublimado,
Estilo solene
De quem toca com fúria
E sem pejo
Um saxofone de ouro.
Sou uma tágide,
Ninfa do Tejo,
Vejo pinhais e carvalhos,
Montanhas pelas margens,
Passo por pontes,
Docas,
Paquetes
Até o estuário
Onde pássaros gigantes
Fazem ninhos
Em estranhos ramalhetes.
Sou uma tágide,
Ninfa do Tejo,
Noiva e sereia,
Rosa e areia,
Embora ninguém ouça minha voz
Latejo ainda,
Oculta em ondas
Como as naus e as caravelas
Que partiram
Rumo à foz.
Sou Tágide,
Ninfa do Tejo,
Consolidei tua obra, Poeta.
Raquel Naveira
Pintura de John William Waterhouse, “A Naiad” (1905)
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