Ao rever o filme “Animais Noturnos“, logo no clip de abertura, uma estranha exposição de artes plásticas nos intriga e nos espanta. Sempre que assistimos pela segunda vez a um filme ou uma outra obra de arte, espantamo-nos com a perceção de alguns detalhes que, num primeiro momento, passaram despercebidos.
Tenho reparado que este hiato de tempo de pandemia, quando museus e outros espaços culturais foram fechados (pelo menos no Brasil, neste momento, está assim), está ocorrendo em mim uma curadoria, à guisa das lembranças, de fotos e fotos que guardei em álbuns e essa revisitação virtual faz-nos estar ali no museu, numa viagem mágica e reconfortante. Quantas vezes já entramos em inúmeros museus, registamos tudo e de repente nos demos conta de que não capturamos nada? Quem sabe esse hiato não nos foi benéfico para viajarmos um pouco mais para dentro? Vamos divagar um pouco?
O meu conhecimento acerca das artes plásticas e escultura é tão profundo quanto um cérebro de galinha. Mas nem por isso deixo de visitar, registar, procurar saber, me inteirar. Esse meu olhar diletante tem o viés da descoberta, do espanto, do novo. Relembrando uma ida ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, em 2016, visito a exposição de esculturas da australiana Patrícia Piccinini. Ela nasceu em Serra Leoa, África, mas com sete anos, mudou-se para a Austrália. As mostras são impactantes, abordam o bizarro e o doce, ao mesmo tempo.


“ComCiência” é algo entre a consciência e a ciência? Parece que sim! Rememorei as aulas de Bioética no curso de Filosofia para investigar quais seriam os limites do avanço científico. Dá muito que pensar. Patrícia tem como característica o hiper-realismo e inspirou-se demais na ciência a partir do momento em que a sua mãe sofreu de cancro. Nas esculturas, mães e filhos abraçam-se o tempo inteiro. O melhor da visita (ou a cereja do bolo, pois o bolo todo foi bastante nutritivo) foi ter saído com um livreto indicando as obras e com alguns depoimentos da artista, tais:
“Somos cercados por modificações genéticas escondidas nos nossos alimentos e animais, sem ao menos nos darmos conta! Meu mundo é mais repleto de perguntas do que de respostas. Eu não induzo o visitante a pensar em qualquer coisa sobre engenharia genética, mas pergunto como ele se sente frente a essas possibilidades“.

E assim a coisa vai. Com estupor e admiração revejo as fotografias que registei e dá para divagarmos muito. Como às vezes a imagem diz mais que mil palavras, que tirem as suas próprias conclusões ao impregnarem-se destas peças. Como a experiência de ter visitado e observado de perto esse mosaico de sensações, alegro-me com as lembranças e espero que este humilde artigo possa significar uma porta aberta a essa talentosíssima artista.
“O mundo que crio existe em algum lugar entre o que conhecemos e o que está quase sobre nós (a imaginação, ou o futuro)“.