“The Assistant” (2019) conta a história de uma jovem secretária, Jane (Julia Garner). Ela faz parte de uma grande empresa e, basicamente, temos neste filme o privilégio de acompanhar a sua jornada, o seu dia-a-dia profissional.
Esta história peculiar tem, indubitavelmente, alguns méritos. Não se esconde, consegue captar as atenções sem se auto-ridicularizar. A superficialidade não é um termo que esteja no seu dicionário, mas a impotência talvez sim. Impotência porque consegue concretizar (cognitivamente) o motivo narrativo, mas sem nos dar algo mais. É um sentimento de ligeira revolta aquele que fica aquando do fim.
A narrativa começa bem, fluída e sem grandes estigmas. Somos transportados para uma realidade pessoal, que apesar de ligeiramente limitativa (algo que é, naturalmente, intencional) consegue dar-nos algo para continuar, para perspetivar. Jane vive momentos complicados no escritório, nomeadamente, ser alvo de abuso de poder, por parte do seu chefe. Aliás, a relação que se estabelece entre eles é algo inquietante, uma vez que se observa, efetivamente, em Jane um medo constante e um sentimento de submissão quase total.

O ambiente que se estabelece na sua sala de trabalho é, entre alguma angústia, de certa forma convidativo. É possível encontrar nos seus dois colegas uma certa lufada de boa disposição. O que me leva a dizer que este filme não assume nenhum género em particular. Claramente, o ‘drama’ é o mais expressivo, mas dentro da sua expressividade não tem muito sal. Decerto, a natureza apaziguadora de Jane, a sua mentalidade trabalhadora e, talvez, o seu auto-controlo sejam características que assumam algum relevo na relação que o espectador estabelece com o filme.
Retomando o abuso de poder por ela vivido, temos num momento em particular a demonstração de uma vontade minimamente forte. Jane vê chegar ao escritório uma nova secretária, bastante jovem. Algo que a deixa algo suspeita tem que ver, primeiro, com a sua contratação repentina e também com o seu currículo desadequado (tendo em conta o seu anterior emprego como empregada de mesa). Juntando a isto telefonemas contínuos por parte da mulher do chefe, sempre a tentar controlar o que este fazia e onde estava, Jane decide fazer algo pela nova rapariga. Efetivamente, vai suspeitando de uma possível relação extra-conjugal e decide ir falar com a autoridade responsável, que ridiculariza a sua preocupação.
Aqui temos um filme cuja personalidade é, no fundo, o protagonismo que Julia Garner assume no ecrã. Protagonismo e interpretação essas que considero serem bastante acima da média, em comparação com a própria película. Ou seja, o real problema (que não é pequeno) deste filme é, sem dúvida, a falta de ousadia da sua narrativa: o ignorar vertentes enriquecedoras e importantes em plots mais lineares, como o é “The Assistant”.

No entanto, é um filme que pressupõe alguns enaltecimentos. Nomeadamente, a sua contextualização mais calma e contemplativa das situações, o facto de conseguir, em certos momentos, pôr o espectador a conjeturar sobre o desfecho da narrativa e também, claro está, os conceitos que aborda, como o abuso de poder, vidas profissionais monótonas e a submissão entre cargos.
Assim, o que podemos esperar de “The Assistant” no começo da sua jornada é vertiginosamente diferente daquilo que, efetivamente, extraímos no fim. O final parece que cai praticamente do céu, sem grande contextualização e desprovido de qualquer criatividade.
O que se retira deste filme é, e quase só, a lufada de ar fresco da personagem principal, alguma familiaridade e envolvência na linearidade convidativa que nos é apresentada inicialmente, mas que infelizmente não vai mais longe: fica-se pela zona de conforto que tanto nos auto-limita e que, infelizmente, tanto nos aborrece. Porque se não nos aborrecesse a monotonia, a arte certamente não teria aquela exigência diferenciadora que tanto apreciamos.
Por um cinema feliz.